TOP 50: os melhores álbuns de 2021!

Aqui está a nossa seleção com os trabalhos que chamaram a nossa atenção ao longo de um ano recheado de bons lançamentos.

Por John Pereira

Não sei como é definido cada processo de escolha dos melhores álbuns do ano nos diversos sites, plataformas ou coletivos focados em música que existem ao redor do mundo. É natural pensar que cada site tenha seu grupo de regras nas suas escolhas e, com toda certeza, isso influi nos escolhidos ao fim de cada ano.

Pessoalmente, eu passei os últimos anos me cobrando e querendo ouvir o máximo possível de lançamentos. Toda sexta-feira, um bloco de notas particular ganhava novos nomes que foram ou deveriam ser ouvidos com a mesma velocidade em que se negligenciava a pandemia no Brasil. O ócio criativo da pandemia acabou proporcionando sextas onde incluía cerca de cinquenta álbuns ou mais nessa lista. Cada vez mais, artistas lançam seus álbuns e EPs nas plataformas de streaming e, cada vez mais, é cobrada uma velocidade de audição, análise e entrega que se distancia cada vez mais da arte e aproxima o mercado musical de uma boa e velha padaria.

Claro que todo mundo preza por um bom pão de sal (ou pão francês... ou cacetinho, dependendo de onde você for), principalmente quando ele chega quentinho na mesa. É gostoso conseguir ouvir aquele álbum que gerou expectativa logo quando ele sai, mas nem sempre isso é possível. E, pela primeira vez em mais de dez anos de site, eu me permiti não me cobrar com relação a isso. Teve álbum que ouvi no dia que saiu. Teve aquele que ouvi um mês depois. Teve aquele que saiu em janeiro e eu só ouvi em novembro. No momento em que a indústria musical parece cada vez mais imediatista, eu acabei desacelerando quando o assunto é "consumir música". Não só eu, mas todas as pessoas que colaboraram para a realização dessa lista.

Na introdução do nosso TOP 100 do ano passado, eu falei sobre a pluralidade e toda a divergência quando comparamos uma lista com a outra. Daquela história, uma máxima se mantém: cada vez mais, temos acesso a trabalhos interessantes. Cada vez mais, novos nomes ganham visibilidade. Cada vez mais, artistas ficam "presos" dentro de um nicho (ou bolha) e nem sempre chegam aos nossos ouvidos, ainda que apareçam nos e-mails de contato. Outra coisa do ano passado se mantém: todo mundo tem ciência de que 2021 não foi um ano fácil e, mais uma vez, isso se refletiu aqui.

Falei um pouco disso nas explicações gerais sobre a lista, mas o nosso tradicional TOP 100 foi reduzido pela metade. E ainda assim foi difícil fechar as nossas listas individuais e, por consequência, entregar esse TOP 50 com aqueles álbuns marcantes de 2021. Tentamos e, nas próximas páginas, você encontra aqueles trabalhos que mais nos agradaram ao longo do ano. Como de costume, cada um deles conta com uma mini-resenha com os motivos que o colocam na lista, além do player para você ouvi-lo no Spotify.

50) Comfort To Me, de Amyl and The Sniffers

A Austrália tem sido um celeiro de bons artistas nos últimos anos, além de ser a casa de um grande revival de punk rock de primeira qualidade. É de lá que vem uma das bandas que mais me empolgou em 2020, os debochados The Chats. Em 2021, o efeito down under se repetiu e uma das bandas que mais me chamou a atenção e que ganhou espaço como um dos melhores discos do ano pra mim é o grupo Amyl and The Sniffers, de Melbourne, que já soa afrontoso e engraçadinho até no nome ("The Sniffers" pode ser traduzido como "os cheiradores" ou "os xeretas", em um trocadilho tosco e bem punk junkie).

O álbum Comfort To Me é bom demais do começo ao fim e poderia ter sido lançado em 1978 que a gente nunca ia desconfiar, mas felizmente é de 2021 e entrega tudo o que os amantes de punk rock gostam: agressividade, energia, intensidade, rapidez, bicordes, letras raivosas e contestadoras, zero firula e enrolação. Maravilhoso pra sair correndo na rua ou socar as almofadas do sofá da sala enquanto pensa no seu chefe sem noção ou naquele seu vizinho chato. Além dos clássicos do punk, o disco também tem uma boa pegada de rock mais pesado na sonoridade, como AC/DC e Motörhead, com alguns riffs bem interessantes e solos mais elaborados. O vocal de Amy Taylor também lembra bastante as Runaways.

Formada em 2016, a banda é conhecida por seus shows insanos, como já era de se esperar, e agora sonho com uma vinda deles ao Brasil. O primeiro álbum cheio deles saiu em 2019 pela Rough Trade Records, famosérrima por suas bandas alternativas e descoladas, e ganhou o prêmio de melhor disco de rock da ARIA (Australian Recording Industry Association). Eles foram elogiados pela lenda Iggy Pop, que amou a canção "Security" e fez questão de tocar a faixa em seu programa de rádio na BBC, mas o grande destaque desse último disco é "Hertz", música que fala do ímpeto em sair da cidade e ver algum tipo de natureza, seja na praia ou no campo, quando você já não aguenta mais ver prédio, concreto e grafite e se sente preso e sufocado — e, no fim, surpresa! Ironicamente, é também uma música romântica, apesar da sonoridade entregar zero disso. Mas punks também amam, não é mesmo? [BM]

49) ULTRAPOP, do The Armed

Se o hardcore e o pop resolvessem ter um filho, ele seria ULTRAPOP, quarto disco da banda estadunidense The Armed.

Em meio a acordes malucos e gritos, há espaço pra dança e celebração à vida, em um ambiente sonoro caótico e ao mesmo tempo apaixonante. Os 38 minutos de ULTRAPOP passam voando, e você sempre quer mais. [RS]

48) Manchaca Vol. 2, do Boogarins

"Experimentação" poderia ser um dos nomes do Boogarins. Vindo de uma carreira marcada por jams em shows, grande parte da discografia possui um tom característico de um grupo que já se encontrou, mas segue em busca de entender os limites de sua identidade, ainda que já esteja delimitada.

Nisso, Manchaca Vol. 2 atende à proposta: assim como seu irmão (Manchaca Vol. 1), o álbum oferece um apanhado de canções inacabadas ou descartadas de trabalhos mais antigos.

Em Manchaca Vol 2, o ouvinte é transportado para a habitual lisergia, refinada em Sombrou Dúvida (2019) e os acordes quebrados de "Lá Vem A Morte". Há versões em inglês, mas o ouro do álbum habita na imprevisibilidade das composições inéditas. Entretanto, o álbum é mais que uma mistureba de canções descartadas e inéditas: é um retrato fidedigno de todos os anos de carreira de Boogarins. [BS]

47) COR, de ANAVITÓRIA

O duo Anavitória abriu 2021 com uma obra prima feita com carinho, amor e participações maravilhosas.

COR é uma forma gostosa e divertida de abrir um ano e elas fizeram isso com maestria e tons suaves e delicados. A dupla do Tocantins evidencia a sua segurança ímpar ao mostrar esse álbum ao público.

É perceptível a evolução do duo quando você pega faixa a faixa e vê que os arranjos, produção e o talento vocal das meninas estão alinhados e em completa ascensão. Cada música ganhou um vídeo exclusivo e estão disponíveis no Youtube e servem para dar mais vida e um ar mais leve ao ouvir o álbum. Ana Caetano e Vitória Falcão colocam sua identidade visual e todo seu talento à prova sem perder a essência em uma experiência gostosa que chamamos de COR. [HF]

46) Dancing with the Devil... The Art of Starting Over, de Demi Lovato

Trabalho mais honesto de Demi Lovato até hoje, o álbum é construído sem pudores para expressar, em bom e claro tom, os desafios que a artista viveu dentro da indústria musical durante sua carreira.

É um álbum completo e versátil, onde encontramos diferentes faixas que circulam por diversas vertentes do pop, enquanto trazem histórias intensas. [JM]

45) Songs From Home, do Ronan Keating

O Ronan é um ótimo cantor e compositor e aprecio muito os trabalhos dele tanto solo, como a frente do Boyzone (boy band, em que ele ficou grande parte da sua vida). Mas esse álbum, apesar de ser em grande parte de regravações, se torna especial por ter um tom bastante pessoal e te fazer sentir em casa, como de certa forma o nome sugere.

Ronan conseguiu neste trabalho trazer aquela sensação de "aconchego", e fazer uma bela regravação da canção "The Blower's Daughter" com participação de sua esposa, sem a deixar monótona, diferente de muitas outras versões existentes (inclusive a original de Damien Rice). Ele ainda aponta para suas origens em "Summer In Dublin", regravação da canção que foi um grande hit da banda irlandesa Bagatelle nos anos 80. [JS]

44) Novidade Média, do Sugar Kane

A banda de hardcore Sugar Kane é uma das poucas sobreviventes da última época em que o rock foi popular no Brasil e no mundo — começo dos anos 2000. Fundada em 1997 no Paraná, a banda fez parte da época de ouro do Hangar 110 e viu o emo surgir, crescer e morrer.

Realocado em São Paulo, o grupo continua hoje com um único membro original, o vocalista, guitarrista e compositor Alexandre Capilé, que também é um dos donos do Estúdio Costella e do selo/gravadora Forever Vacation Records. Capilé segue acompanhado pelo baterista André Dea (Violet Soda e Supercombo), um dos melhores do Brasil, além do baixista Igor Tsurumaki (Cueio Limão e Dead Fish) e do guitarrista Vini Zampieri, seu irmão.

O último disco do Sugar Kane tinha sido lançado em 2014 e a banda estava em hiato desde 2017, quando se reuniu para comemorar os 20 anos de carreira com uma extensa turnê por todo o Brasil. Agora, eles voltaram com tudo com Novidade Média, álbum intenso, enérgico, agressivo, com produção e sonoridade caprichadas que não perdem em nada para grupos de hardcore gringos. Com baixo e bateria bem marcados, destaque para guitarras e uns bons gritos, o Sugar Kane ainda soa relevante e com certeza vai fazer apresentações ao vivo memoráveis com o novo repertório, que implora por um show com bate cabeça, mosh pit e stage dive. O som é jovem e maduro ao mesmo tempo, misturando o melhor dos dois mundos: tem o rocão rápido que a gente gosta feito com alta qualidade somado às letras em português muito ricas e com rimas não óbvias, que falam muito de experiências pessoais, mas também de tudo o que estamos passando vivendo no Brasil desde a eleição de Bolsonaro, com muitas críticas sociais e desabafos.

É um disco que te faz querer sair pulando pela sala e morrer de saudade de um bom show de rock de lavar a alma, sair suado e feliz. Novidade Média destaca o Sugar Kane como uma das grandes bandas de rock brasileiras, não apenas sobrevivente, como também necessária e consagrada, merecendo ainda mais reconhecimento além da cena alternativa que já a venera. [BM]

43) Home Video, da Lucy Dacus

Lucy Dacus resolveu recorrer às memórias de sua vida em Home Video.

Em seu terceiro álbum de estúdio, a cantora estadunidense promove uma verdadeira ode ao seu passado ao revisitar momentos e histórias que muitos de nós preferimos deixar trancadas no baú das emoções.

Ao transformar momentos não tão felizes em música, Lucy cria uma conexão direta com o ouvinte e mostra que olhar para trás exige coragem, mas pode nos oferecer algo de bom. [JP]

42) De Primeira, da Marina Sena

O disco de estreia de Marina Sena traz toda a sua experiência como artista, adquirida em sua carreira com as antigas bandas, construindo uma energia contagiante ao longo das 10 faixas.

Uma mistura do que é tocado popularmente no Brasil, com muita personalidade, mas sem se prender a fórmulas. [JM]

41) Better Mistakes, da Bebe Rexha

Um ótimo álbum pop é o que define este trabalho da Bebe Rexha. Ainda que tenha saído do mainstream com as novidades desse disco, ela entrega músicas dançantes, vocais e letras profundas. [YC]