TOP 10: John Pereira

O nosso editor-chefe seleciona os seus dez lançamentos preferidos de 2021 entre álbuns e EPs.

   10) Jubilee, da Japanese Breakfast

Em seu terceiro album, Michele Zauner (a mente criativa por trás do Japanese Breakfast) entrega aquele álbum que podemos chamar de refúgio.

Ao longo de suas dez faixas, Jubilee passeia por gêneros, instrumentos e camadas de uma forma criativa. Se "Be Sweet" é um convite explícito para você abrir um espaço e começar a dançar, "Kokomo, IN" é um indie-pop guiado por um violão de forma bem suave. Essas quebras são bem comuns e transformam o álbum em algo rico e gostoso de se ouvir.

"Paprika" e os seis minutos de "Posing For Cars" são outros bons destaques desse que é um dos melhores registros do ano e, certamente, o trabalho mais completo de Michele até então.

9) If I Can't Have Love, I Want Power, da Halsey

Em um movimento ousado, Halsey rompe qualquer expectativa ao colocar no mundo o seu quarto álbum de estúdio.

Com o auxílio luxuoso de Trent Reznor e Atticus Ross, que assinam a produção, If I Can't Have Love, I Want Power explora uma veia inesperada ao entrar um álbum que alia rock industrial, grunge, pop, sintetizadores e uma paleta de sons bem interessante. É com essa sonoridade que ela relata, de uma forma bem íntima e pessoal, a jornada encarada durante a sua gravidez, abordando as descobertas, dores, receios e transformações vividas durante o período.

Acompanhado de um trabalho visual igualmente interessante, o álbum evidencia todo o potencial criativo de Halsey e, mesmo que pareça ousado, ele não soa como um ponto fora da curva e sim como um belo gol de placa.

8) GLOW ON, do Turnstile

Em 35 minutos, o Turnstile faz jus aos elogios e expectativas criadas lá em 2018, quando a banda lançou o Time & Space.

Três anos depois, a banda estadunidense lança GLOW ON e resolve expandir a sua sonoridade. Ao longo de suas quinze faixas, temos o já tradicional hardcore do quinteto sendo colocado em um caldeirão com R&B, Shoegaze, rock e pitadas de elementos bem brasileiros.

Criativo e surpreendente, o trabalho é um dos registros mais interessantes de rock de 2021.

7) Home Video, da Lucy Dacus

Lucy Dacus resolveu recorrer às memórias de sua vida em Home Video.

Em seu terceiro álbum de estúdio, a cantora estadunidense promove uma verdadeira ode ao seu passado ao revisitar momentos e histórias que muitos de nós preferimos deixar trancadas no baú das emoções.

Ao transformar momentos não tão felizes em música, Lucy cria uma conexão direta com o ouvinte e mostra que olhar para trás exige coragem, mas pode nos oferecer algo de bom.

6) 30, da Adele

Independente do motivo, era natural que um novo trabalho da Adele chamasse a atenção do mundo. Todos sabem de sua capacidade para abordar temas pessoais e como ela consegue transformar as dores da vida em belas canções.

Ainda que tudo isso siga intacto - e até melhor, o 30 tem algo ainda mais marcante: toda a sua construção sonora. Ao abordar o seu divórcio, Adele se cerca de elementos que casam perfeitamente com a sua voz: ao longo de quase uma hora, temos soul, pop ou elementos da chamada "era de ouro" de Hollywood. Tudo isso aliado a voz extremamente rica da britânica, fazem do 30 o seu melhor e mais ambicioso registro até então.

Momentos como "My Little Love", "I Drink Wine", "Hold On" e "To Be Loved" - ambas com mais de seis minutos - mostram não só a evolução de Adele enquanto artistas, mas provam que ela é uma das maiores cantoras dessa geração.

5) Indigo Borboleta Anil, de Liniker

Após conquistar o seu espaço na música brasileira ao lado do grupo Os Caramelows, a aguardada estreia solo de Liniker é um daqueles registros marcantes e bem diversos.

Com uma paleta sonora extremamente rica, Indigo Borboleta Anil passeia pelo soul, samba-rock, pagode e R&B, sem deixar de lado a MPB. Todo esse caldeirão fica evidenciado nas parcerias com DJ Nyack, Letieres Leite, Milton Nascimento, Tassia Reis e Tulipa Ruiz, para citar alguns dos envolvidos. No entanto, o ponto alto é o requinte sonoro construído em torno das 11 faixas do trabalho, com colaborações das orquestras Jazz Sinfônica e Rumpilezz. Nas letras, abordagens sobre a sua vida, lembranças, traumas e descobertas são entregues de uma forma poética e que exploram todo o potencial vocal de Liniker.

Indigo Borboleta Anil é um registro rico e que faz jus ao trabalho da artista, provando que o caminho está pavimentado e que ela pode ir ainda mais longe.

4) lately I feel EVERYTHING, da WILLOW

Poder atender ao seu desejo pessoal e colocar para fora todas as suas referências: é isso que Willow nos entrega em lately I feel EVERYTHING, provavelmente o trabalho mais inesperado de 2021 e, até por isso, não tão comentado por aí.

Rápido e direto, o álbum funciona quase como um desabafo da artista. Um daqueles "momentos de fúria", sabe? Contudo, o resultado vai muito além disso e esse resumo seria até injusto com Willow. Ao longo de suas onze faixas, o trabalho mostra uma artista extremamente confortável nesse novo lugar, mesclando nu-metal, pop-rock, emo e pop-punk sem virar totalmente as costas para os trabalhos anteriores.

lately I feel EVERYTHING é um registro bem feito, coeso, bem amarrado e que mostra todo o potencial de Willow. Em um movimento arriscado, ela deu uma guinada interessante e divertida ao trazer o rock para a sua música. Resta saber se isso irá se perdurar...

3) For the first time, do Black Country, New Road

Em seu trabalho de estreia, os britânicos do Black Country, New Road entregam um álbum marcado pelo experimentalismo.

Produzido por Andy Savours, For The First Time mescla, de forma bem interessante, elementos de post-punk, art-rock, jazz e até afrobeat. São apenas seis faixas, mas o septeto consegue pensar fora da caixa e entregar um dos álbuns mais marcantes de rock do ano, fazendo jus aos elogios da crítica especializada. Os quase dez minutos de "Sunglasses" são a prova disso.

2) Sometimes I Might Be Introvert, da Little Simz

A evolução de Little Simz fica clara a cada álbum e Sometimes I Might Be Introvert pode ser visto como a sua obra prima, até então.

Em seu quarto álbum, a rapper britânica consegue ir além em uma discografia que já é bastante elogiada. Ao criar uma narrativa onde aborda a sua vida pública e privada, a artista entrega um combo incrível de letras, melodias e produção que tornam difícil não querer ouví-lo mais uma vez. Logo nos minutos iniciais de "Introvert", você já é sugado por um universo quase apoteótico e que se mostra cada vez mais rico e cativante ao longo de suas 19 faixas e mais de uma hora de duração.

"Woman", "I Love You, I Hate You", "Gemz", "I See You", "Rolling Stone" - que já começa citando sua passagem por São Paulo em 2019 - e "How Did You Get Here" são algumas das melhores faixas da carreira da artista e saber que o álbum inteiro segue a mesma linha transformam o Sometimes I Might Be Introvert em algo simplesmente brilhante.

1) Delta Estácio Blues, da Juçara Marçal

Delta Estácio Blues é, possivelmente, um dos álbuns mais ricos que eu ouvi nos últimos anos. Produzido por seu parceiro de longa data, Kiko Dinucci, o novo álbum de Juçara Marçal é uma colcha de retalhos de qualidade impecável.

Ouvir o álbum é quase uma experiência, por tudo o que envolve as suas onze faixas. Ali tem jazz, pop, mpb, hip hop, R&B, música eletrônica, elementos de samba e um "Q" que experimentalismo muito marcante e interessante. Além de toda a construção musical, o álbum se destaca em letras que dialogam com o momento atual.

Delta Estácio Blues evidencia toda a genialidade de Juçara. É um daqueles álbuns que serão lembrados ao longo do tempo por sua ousadia, criatividade, originalidade e qualidade. Músicas como "Baleia", "Crash" e "Vi de Relance a Coroa" provam isso.