TOP 10: Bárbara Silva
A Bárbara selecionou os seus dez lançamentos preferidos de 2021 entre álbuns e EPs.
10) Olho de Vidro, da Jadsa
Lançado sob o selo da Balaclava Records, Jadsa entrega uma sensibilidade profunda em seu álbum de estreia.
Misturando o reggae, rock e pop sob camadas de eletrônico, a artista preserva suas raízes baianas e afirma referências de artistas como Gal Costa, Tulipa Ruiz e Itamar Assumpção. Conta também com participação de nomes conhecidos do indie, como Ana Frango Elétrico e Luiza Lian — citada diretamente na faixa que leva seu segundo nome.
9) Sim, do NoPorn
É impossível falar sobre o último album de NoPorn sem relacioná-lo à pandemia que assola o mundo desde 2020.
E, talvez, fosse a intenção: Sim evoca a essência das baladas no conforto de casa, para quem sente falta das aglomerações da noite. Fato comprovado pelo nome da faixa que abre o trabalho, "Festa no meu quarto". Obviamente, o trocadilho fica apenas no nome da faixa. Marca registrada do duo, os versos sexualmente explícitos tomam espaço entre os sintetizadores, criando uma atmosfera para ser sentida na pele e nos ouvidos.
Nem só de clubhouse vive Sim. Misturado com o funk, a energia descritiva se torna volátil, apresentando novas possibilidades aos ritmos apresentados. Independente da cidade, o trabalho toca fundo, evocando a sensação da noite e todos os segredos e descobertas proporcionadas por uma boa festa.
8) Manchaca Vol. 2, do Boogarins
"Experimentação" poderia ser um dos nomes do Boogarins. Vindo de uma carreira marcada por jams em shows, grande parte da discografia possui um tom característico de um grupo que já se encontrou, mas segue em busca de entender os limites de sua identidade, ainda que já esteja delimitada.
Nisso, Manchaca Vol. 2 atende à proposta: assim como seu irmão (Manchaca Vol. 1), o álbum oferece um apanhado de canções inacabadas ou descartadas de trabalhos mais antigos.
Em Manchaca Vol 2, o ouvinte é transportado para a habitual lisergia, refinada em Sombrou Dúvida (2019) e os acordes quebrados de "Lá Vem A Morte". Há versões em inglês, mas o ouro do álbum habita na imprevisibilidade das composições inéditas. Entretanto, o álbum é mais que uma mistureba de canções descartadas e inéditas: é um retrato fidedigno de todos os anos de carreira de Boogarins.
7) Happier Than Ever, da Billie Eilish
Há quem espere notas agudas de guitarra e vocais gritados para entender o local que um artista habita. Com Billie Eilish, isso não cola.
Conquistando o mundo - e a crítica especializada - com sussurros, tons graves e versos afiados, o álbum de estreia When We All Fall Asleep, Where Do We Go? (2019) já apresentava uma maturidade ímpar, apesar da juventude apresentada nas composições. Em Happier Than Ever, Billie segue firmando seu espaço com seu falar arrastado, mas testando seus limites em experimentação pop.
A rápida ascensão ao estrelato é um dos temas abordados no novo álbum, mas a sensibilidade de Billie torna o assunto de caráter pessoal algo palpável para o ouvinte. Entre os sintetizadores graves e lentos, o ouvinte transita também entre as angústias da depressão e sexualidade, tudo apresentado de forma coesa, sem se atropelar. Frente ao amadurecimento pessoal e artístico, resta esperar que Billie entregue trabalhos ainda mais complexos ao longo de sua carreira.
6) MONTERO, de Lil Nas X
Depois do sucesso absoluto do single "Old Town Road" (2019), muito se especulava sobre quais os caminhos que Lil Nas X tomaria em suas próximas músicas.
A espera foi bem recompensada: MONTERO é o nascimento de um sucesso. Nele, Lil Nas abusa de sua amplitude vocal e transita com facilidade entre o trap e o pop. Ele entrega sem prometer, atingindo públicos que outrora não estavam a seu alcance.
Para além da técnica musical, MONTERO encanta pela sinceridade. O artista expõe seus problemas familiares e suas aventuras amorosas. Sensível e direto, a identificação do ouvinte é a maior arma para o trabalho. Praticamente um álbum conjunto.
5) Teatro D'ira - Vol. I, do Maneskin
Se o rock está morto, essa é uma questão de opinião. Para os retrógrados conservadores, o gênero não entrega bons nomes há décadas; para os mais otimistas, ainda há muita história para contar.
Fato é que Maneskin vem conquistando uma vasta gama de fãs após o lançamento de Teatro D'ira. O quarteto faz um delicioso resgate dos anos 70, misturando pop e glam rock ao longo das oito faixas apresentadas, partindo de assuntos como submissão e amores desesperados. Embora seja o mais recente, é, também, o mais maduro: os instrumentos conversam entre si, proporcionando momentos como solos de baixo em "IN NOME DEL PADRE" e uma levada dançante da bateria no hit "I WANNA BE YOUR SLAVE". Há momentos de pouca potência, mas Teatro d'ira apresenta um Maneskin jovem, menos verde e com sede de alcançar o mundo.
4) lately i feel EVERYTHING, da Willow
Queimando a largada, Willow foi uma das primeiras artistas do ano a se lançar no revival do pop punk com o explosivo lately i feel EVERYTHING.
Com Travis Barker colaborando e Tyler Cole na produção, o álbum faz referência ao melhor do saudoso rock dos anos 2000, indo do próprio Blink-182 a Paramore. Vocais agressivos e muita guitarrada permeiam o álbum, mas a essência da artista permanece: entre toda a melodia, assuntos como sua vivência, desajuste e ansiedade são focos das canções.
Willow não vem sozinha: o álbum conta com a participação de nomes como Cherry Glazerr e a lendária Avril Lavigne. Enérgico do começo ao fim, o único problema é sua metragem: acaba muito rápido, dando ao ouvinte a sensação de querer mais.
3) Meu Coco, do Caetano Veloso
A mensagem de um álbum começa pela capa. É assim que Meu Coco se apresenta, com a cabeça inúmeras vezes refletida de Caetano Veloso.
Convidando o ouvinte a mergulhar em seus pensamentos, a obra assume um caráter pessoal — próprio de Cateano — e minimalista. A sonoridade não é novidade: o artista mantém o ritmo de álbuns anteriores, como Abraçaço (2012). Tons graves rasgam o minimalismo das faixas, encontrando espaço entre o íntimo e desafio das composições.
Entretanto, nem mesmo Caetano é perfeito: a faixa "Você-Você" é, no mínimo, dispensável. E, apesar dos baixos do álbum, é sempre agradável acompanhar Caetano Veloso em toda sua glória.
2) Te Amo Lá Fora, da Duda Beat
Há um limite para sofrer por amor? Duda Beat mostra que não. Longe de lamber suas feridas, o impactante Te Amo Lá Fora segue os passos do álbum Sinto Muito (2018), sangrando as dores de uma — ou várias — relações malfadadas.
Se a artista já entregava um trabalho maduro em seu álbum de estreia, o segundo comprova que Duda já tem uma linguagem definida e sabe como expandir os horizontes, ainda que repita a fórmula do título antecessor. Ao longo das faixas, que vão do reggae ao electropop, Duda Beat entrega com sensibilidade as dores de coração partido. Apesar de previsível, o conforto e as grandes parcerias deram grande potência ao segundo álbum, deixando o público satisfeito e ansioso pelos próximos passos da artista.
1) Baile, de FBC & VHOOR
Num primeiro momento, dar play em Baile é como acionar uma máquina do tempo direto para os anos 90. Na estética visual e sonora, logo nota-se forte influência de Furacão 2000 e o característico funk melódico da época. Porém, está longe de ser apenas um ode ao saudosismo.
Transitando pela violência policial, o álbum vale-se do cenário de um baile funk para contar uma alegoria dolorosamente atual. Ritmos ora mais leves, ora mais densos indicam a momentos ou personagens diferentes: um pai de família preso injustamente, um trambiqueiro e uma mãe que teve a filha assassinada por policiais. Apesar dos momentos, a obra possui uma leveza inigualável e grande versatilidade. Com primor, a alegoria do álbum se finda com os mesmos versos — De Kenner é o fim do Baile.
Obra fechada, Baile reverbera nos ouvidos por muito tempo depois das últimas notas do álbum.