Indico que o leitor do Audiograma dê o play no disco King of Limbs, do Radiohead, antes de começar a leitura.
Vocês deveriam ler a parte 2 do tal retorno da (Re) Descobrindo Sons, mas o resultado final não ficou do jeito esperado e resolvi usar apenas trechos de alguns dos vários (e longos) textos feitos especialmente para o decorrer do mês passado. Tentei manter esse padrão até a parte do SWU, que acabei mantendo quase que o texto completo. Felizmente ele é curtinho. E no final de todo o papo sobre alguns dos melhores momentos musicais de 2011, inclui também uma lista com os destaques da temporada. Espero que gostem e até a próxima.
O ano de 2011 foi especial para a música, algumas ideias deveriam sim ser comentadas, mas para isso é preciso escolher uma abordagem que seja boa o suficiente para que não seja apenas mais uma grande e eterna reclamação. A gente não precisa reclamar de tudo o tempo inteiro, não é verdade? Foi isso que 2011 me ensinou, pelo menos. Ainda que eu tenha gastado muito pouco com discos, posso dizer que ouvi algumas coisas interessantes. E também posso admitir que estou mentindo. Esses últimos meses foram muito voltados para o cinema e shows. Sério. Quantos shows. Muitos momentos inesquecíveis e que dificilmente serão superados em 2012, mas felizmente acredito que teremos lançamentos bons para compensar isso.
Embora tenha pedido para o leitor das páginas laranjas começar a leitura ao som do Radiohead, confesso que não fui um dos mais entusiasmados com o lançamento de King of Limbs. Por melhor que o disco seja, não conseguiu superar o trabalho anterior. Tudo bem que “Separator” e “Lotus Flower” são algumas das melhores canções do ano, mas é pouco para uma banda tão importante quanto o Radiohead.
Outro lançamento importante do ano, mas que surpreendeu positivamente foi o novo trabalho do Red Hot Chili Peppers. A banda não lançava nada tão funk desde o começo dos anos 90 e ouvir os grooves de Flea com o baterista Chad Smith é sempre algo bom. A estreia do guitarrista Josh Klinghoffer, aprendiz de John Frusciante, não decepcionou em nada. Ao vivo o cara ainda exagera um pouco nas improvisações (no RiR ficou difícil entender o que estava acontecendo durante algumas músicas), mas o solo de guitarra de “Ethiopia” é uma simplicidade absurda. Impossível não agradar. O garoto tem futuro no meio de todos os tiozões da banda.
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Ouvi muita gente falando de uma tal de Adele como destaque de 2011. Fica difícil lidar pelas boas opiniões ou pela avalanche de comentários das pessoas que apreciam depreciar o trabalho alheio. Como bem me disse uma amiga (muito) querida: “Não a conheço, mas julgar apenas por ‘Rolling in the Deep’ é a mesma coisa que falar de James Blunt apenas por ‘You’re Beautiful'”.
A verdade é que a cantora chamou a atenção até mesmo de mocinhas acostumadas a ouvir o “Ai ai, Se Eu Te Pego”, de Michel Teló. Tanto destaque, tanta atenção, nada disso pode ser por mero acaso, mas tenho que ser sincero e dizer que ainda não foi dessa vez que o trabalho de Adele me chamou a atenção o suficiente. Quem sabe quando um novo trabalho surgir?
Esse foi o ano em que o rapper Criolo ganhou o Brasil com a sua poesia apaixonada (só que ao contrário) de “Não Existe Amor em SP”. O artista, que está há tanto tempo na estrada, ganhou reconhecimento de nomes de pesado como Chico Buarque (que inclusive chegou a homenagear-lo durante algumas de suas apresentações recentes) e até mesmo dividiu o palco do VMB, de onde saiu consagrado, com o mestre Caetano Veloso. É pouco?
O Criolo é o messias do rap. Dono de um arsenal de mensagens positivas e otimistas, o paulista montou uma banda de responsa para levar o samba/rock/bolero/rap do disco para os palcos. O renomado Curumim é um dos artistas que abraçou a causa e assumiu as baquetas nas apresentações do rapper. Aliás, esses shows costumam dar brechas para Criolo iniciar todo o discurso político sobre a nobreza perdida do homem. O legal é que ao contrário dos berros do Chorão, ele não é hipócrita e realmente acredita na bondade dos homens. “Nós apenas nos desviamos um pouco do caminho”, ele dizia para uma plateia completamente entregue em um show na Praça do Papa, em Belo Horizonte, durante o segundo semestre.
Desde que conheci o trabalho dele em meados de maio, junho, foi um dos artistas mais tocados no meu iPod. Aliás, a atração foi tanta que ele virou meu principal motivo para me deslocar para o Festival Terra. Só que imprevistos me fizeram perder o show. Uma pena que além de perder o show, muito mais foi perdido naquela ocasião…
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A música nacional esteve bem presente nos meus ouvidos. Conheci (e me apaixonei) pela Tulipa Ruiz, o que me fez comprar e ouvir o seu disco por horas e horas sem fim. O efeito palco ganha um novo significado depois que você descobre o talento daquela mulher. E o seu disco de estreia, um dos destaques de 2010, foi uma grata surpresa. Tulipa é doce, um amor de cantora, daquelas que você não consegue resistir.
Outra banda que tive a oportunidade de conferir ao vivo foi o Black Drawing Chalks. Tocaram dias antes do meu aniversário e num momento pouco convidativo da minha vida, o que justifica a maioria das coisas que fiz naquela noite apocalíptica. Basta dizer que o vexame foi tão grande que dias depois fui reconhecido como “o cara que caiu de cabeça do palco” por um casal de desconhecidos.
Donos de um dos shows mais elogiados do rock brasileiro, os goianos do Black Drawing Chalks nunca me cativaram. Parte disso é da certeza absoluta que a pessoa que estava comigo pegaria qualquer um deles que desse mole. Se ela flertou descaradamente com o baterista de uma banda gringa, – mulher é foda: só um gringo aparecer para cagar na nossa cabeça (Roger Moreira feelings) que elas ficam todas empolgadinhas – imagine se não daria (mole) para um “rockstar” do underground? Fico com o pé atrás porque eu a teria levado para o backstage. Já fiz isso com gente pior, entāo daria pro gasto até a hora de ir para a festa de verdade. Enfim. Além da raiva de imaginar a megera com qualquer um dos caras da banda (acho que nem o baixista escaparia dela), nunca havia parado para ouvir o disco em casa. O show sempre foi uma coisa visceral, insana e com aquele clima de que se alguma menina tirar a roupa e resolver transar, todos os casais imitariam e pessoas teriam que ser encontradas no achados e perdidos. Ou seja, é bom pra caralho. E fica melho ainda se você chutar o balde e beber muito.
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Espero reencontrar a banda brevemente e sem exagerar nas bebidas. Pelo menos até eu lembrar de comprar o disco e guardar em algum lugar seguro. Depois eu não garanto nada. Seria uma coisa idiota querer se conter no meio de um show da BDC. Eles são fodas, exceto pela parte em que deixavam a minha ex-namorada mais excitada do que eu jamais conseguiria.
Para não dizer que não falei dos Festivais, devo dizer que o Terra foi um lixo. O Rock in Rio foi uma merda. O que salvou foram as companhias, mas eu comentei melhor disso no meu videocast natalino, o qual atesto completamente a minha loucura e desapego moral com qualquer situação. E sobre o SWU:
Porra, caralho.
Assistir as apresentações pela TV foi uma tortura. Meu avô deve ter se sentido da mesma forma, pois eu só parei com o barulho de madrugada, quando o show do FNM acabou. Para curar a frustração de ver pela televisão e sozinho, exagerei um pouco na companhia etílica e acabei com as seis garrafas de Budweiser que repousavam no congelador. De fato isso deve ter contribuído muito para que a apresentação do Primus me empolgasse tanto. Só muito louco para se apaixonar pela loucura do baixista/vocalista Les Claypool.
Alice in Chains destruiu tudo. Nunca fui um grande conhecedor da banda, mas isso raramente me impediria de curtir tanto uma banda. A performance dos caras pode ter sido meio morna, e aquela roupa do vocalista muito apertada, mas foi incrível.
O Stone Temple Pilots é uma daquelas bandas que conseguem fazer tanto apresentações épicas quanto verdadeiros lixos de shows. Para aumentar minha tristeza, Scott Weiland e cia estavam infernais. Show de rock perfeito, direto como um soco na cara. Manteram a qualidade crescente dos shows e deixaram nascer a dúvida sobre a capacidade de Mike Patton superar todas as bandas da noite, exceto Sonic Youth, que é barulhento pra cacete e eu preferi buscar mais cerveja na hora do show. Eu ouvi alguém me chamando de herege?
Bem, o lance é que o Faith no More é liderado por uma das mentes mais criativas e loucas da música atual. Patton é um frontman como poucos e é eficiente na hora de ganhar o público. Se o arrependimento já não era grande o suficiente, logo nos primeiros acordes da introdução, eu virava as cervejas sem piedade, como se elas fossem aliviar minha tristeza. Ha.
Certamente eu seria banido da minha residência se morasse com gente que não era da família, pois como se o som alto e a bateção de pé ocasional não bastassem, ainda me deixei levar pela vontade de grunhir as letras das músicas. O ápice foi o épico momento com berros de “porra, caralho”. Na situação em que me encontrava, foi um tanto difícil deixar essas palavras escaparem. Isso se eu não tiver trocado as letras e falado algo como “lolla, salário”, num momento inconsciente onde culpava alguém/alguma coisa pela minha ausência no show do ano.
Ano que vem estarei de volta. Na televisão ou pessoalmente, não importa.”
Sei bem que estamos na metade de janeiro, mas não custa indicar algumas das coisas boas que ouvi no decorrer de 2011. Um bom 2012 para nós todos!
Samstag, im Lido @ Customs
Gosta de Interpol? Ficou frustrado com os caminhos da banda? Não se preocupe. O Customs saiu direto da Bélgica para compensar a tristeza e o som é muito melhor que todas as faixas do último disco do Interpol.
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Shake Me Down @ Cage The Elephant
O Cage foi uma das grandes surpresas do ano. Fui ouvir a banda por acaso e a mistura insana de Pixies com Nirvana foi o suficiente para prestar atenção nos caminhos dessas malucos.
[youtube width=”560″ height=”315″]http://www.youtube.com/watch?v=v27TRan1SBI[/youtube]
Tempo de Pipa @ Cícero
Os leitores do Audiograma que conhecem o Rock In Press devem saber que o Marcos Xi, editor-chefe da bagaça, admira demais o trabalho dessa banda. Já ouvi comentários positivos de várias outras pessoas, mas será que o Cícero é mesmo capaz de repetir o efeito Los Hermanos nessa nova geração? Vamos descobrir em breve.
[youtube width=”560″ height=”315″]http://www.youtube.com/watch?v=FX9s_RfEzJE[/youtube]
Ottis @ Kanye West e Jay Z
A onda agora é ouvir rap, turbinar o carro, arrumar umas amigas loucas e curtir a vida. Torci o nariz para o Watch the Throne até ouvir o disco e quebrar a cara. E é sempre bom quando isso acontece.
[youtube width=”560″ height=”315″]http://www.youtube.com/watch?v=BoEKWtgJQAU[/youtube]
Promisses, Promisses @ Incubus
O último disco do Incubus deixou os fãs quase carecas. Em um disco irreconhecível, a banda mostra uma faceta quase que completamente diferente de tudo que já foi apresentado antes e testou a paciência até do fã mais xiita. Com o passar do tempo, e da frustração, o que se percebe é uma banda madura e que cresceu muito no decorrer da carreira. Não importa se viraram “banda de menininha”, ainda são os mesmos caras que lançaram o disco Morning View em 2003.
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We Have Evertything @ Young Galaxy
Vale a dica para aquelas pessoas que apreciam músicas tranquilas para qualquer momento. Sempre que eu me cansava do Criolo, Pearl Jam ou do Foo Fighters, tirava um momento para relaxar ao som dessa banda canadense, que já lançøu três discos.
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Lonely Boy @ Black Keys
A redatora Samilla Santos admitiu recentemente que aprendeu a fazer os passos da canção carro-chefe do álbum El Camino, do Black Keys. Que tal iniciarmos um movimento para ela filmar toda a performance? No mais, o Black Keys será falado na primeira edição oficial da (Re)Descobrindo Sons de 2012. Melhor disco do ano? Possivelmente.
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Brick by Brick @ Arctic Monkeys
Querem saber o que é declaração de amor de verdade? Os macaquinhos congelados repetem os versos “I want to rock n`roll” e contam sobre suas intenções de construir (e desconstruir) a pessoa peça por peça, ou de tijolo em tijolo. Aposto que nem o Pedreiro Online faria melhor.
[youtube width=”560″ height=”315″]http://www.youtube.com/watch?v=2uyF2XLzTDA[/youtube]
UBerlin @ REM
Uma das bandas mais importantes do rock encerrou suas atividades no decorrer do ano. Antes eles lançaram um excelente disco, coisa rara de se ouvir quando se trata de uma banda que já tinha a intenção de encerrar suas atividades. O REM provou para a crítica e seus fãs, que é capaz de se superar e se despedir dos palcos com uma dignidade de causar inveja em muita banda que ainda engana por aí.
[youtube width=”560″ height=”315″]http://www.youtube.com/watch?v=ZITh-XIikgI[/youtube]
Lotus Flower @ Radiohead
Perdoem se eu sou repetitivo, mas como questionar uma pessoa que resolve ficar parada dançando desse jeito? Melhor clipe do ano, música mais chapada de 2011, uma das melhores bandas do mundo, tudo que estamos acostumados quando se trata do Radiohead.
[youtube width=”560″ height=”315″]http://www.youtube.com/watch?v=cfOa1a8hYP8[/youtube]
Já que estamos falando de destaques, vou vender o peixe da minha coluna no Cinema em Cena com uma edição especial com os melhores clipes de 2011. Confira aqui.
E encerro a coluna, e comentários sobre 2011, com uma homenagem para Amy Winehouse. Dona de uma das melhores vozes da música pop atual, Winehouse conquistou fãs no mundo inteiro com o sucesso estrondoso de Back to Black. O problema é que além de chamar a atenção pelo seu talento, a cantora passou a se ver envolvida com diversos escândalos com drogas e problemas no seu relacionamento amoroso. Era a queda de uma artista para todo o público acompanhar em tempo real.
Amy visitou o Brasil para uma pequena (e desastrosa) turnê no começo do ano e parecia que estava preparada para dar a volta por cima. Infeliz engano. Aos 27 anos de idade, a mesma que Kurt Cobain, Janis Joplin, Jim Morrison e Jimi Hendrix tinham quando morreram, a cantora foi encontrada morta em julho. Tristeza no coração de seus fãs em todos os cantos do mundo e a certeza que a música perdeu uma de suas maiores artistas.
Que ela seja a responsável pelo sucesso da “Rehab” interna de cada um de nós no decorrer de 2012. Tenha paz, sua louca varrida!
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Discos Comprados em 2011:
So Real: Songs From Jeff Buckley @ Jeff Buckley (presente)
Wasting Light @ Foo Fighters
Coltrane Plays The Blues @ John Coltrane
Nevermind @ Nirvana (presente)
In Rainbows @ Radiohead (presente)
Mer de Noms @ A Perfect Circle (presente)
If Not Now, When? @ Incubus
Efêmera @ Tulipa Ruiz
Morning View @ Incubus (presente)