As composições são fatores muito valorizados quando analisamos a qualidade de uma música; afinal, quando olhamos para os versos de uma canção, é como se estivéssemos ouvindo o que o artista tem a dizer. Entretanto, observando de uma forma mais ampla, são vários os elementos que constroem uma experiência marcante escutando alguma faixa, e as melodias por muitas vezes conseguem transmitir mais emoções ao ouvinte. Uma prova disso é a música instrumental, e as bandas que exploram esse tipo de sonoridade.
Instrumentistas de jazz como John Coltrane popularizaram esse tipo de produção na década de 60. Na de 70 foi a vez do Pink Floyd, que mesmo sem ser uma banda totalmente instrumental, possui várias canções sem vocal na sua discografia. Aqui no Brasil, Hermeto Pascoal foi o grande expoente da música instrumental, também durante esse período.
Já nos anos 90, uma grande quantidade de músicos surgiram e vieram a se consagrar tocando músicas apenas instrumentais, fazendo florescer assim um nicho bastante interessante na indústria, que vale a pena ser descoberto. E é pra isso que eu estou aqui hoje: apresentar sete bandas que são ótimas portas de entrada para você descobrir esse “gênero”, e que mesmo com algumas canções não-instrumentais, se caracterizam por fazerem parte desse grupo.
Godspeed You! Black Emperor
Começando a lista, trouxe aquela que eu considero a melhor banda instrumental de todos os tempos. Godspeed You! Black Emperor é um conjunto de post-rock canadense composta por nove integrantes, e foi um marco na virada da década de 90 para 2000. O seu álbum mais celebrado e mais consistente é Lift Your Skinny Fists Like Antennas to Heaven, considerado um dos mais importantes do século 21.
O grupo têm algumas peculiaridades; seus trabalhos conservam um teor anticapitalista, que transparece em toda a sua obra. Todos os seus discos foram lançados por gravadoras independentes/menores, e os encartes dos álbuns ainda trazem mensagens contra grandes corporações, e até mesmo contra a indústria musical. Além disso, GY!BE é uma espécie de entidade, já que nenhum dos integrantes é visto como um líder, e tão pouco dão entrevistas.
Além desses fatores que por si só já tornam ouvir Godspeed You! Black Emperor algo tentador, as suas canções (de enorme duração) oferecem uma viagem de reflexão e turbilhão de sentimentos de uma só vez. Essa é uma banda que vai muito além do que o post-rock limita, e entrega um som intenso através de sintetizadores, usos experimentais de guitarra e notas repetidas que nos invadem.
Explosions in the Sky
Tá aí uma banda que merecia muito mais reconhecimento. Explosions in the Sky surgiu em meio ao boom que houve na cena do post-rock no início do milênio, e sempre demonstrou ser uma das melhores. Seu álbum de 2001, These Who Tell The Truth Shall Die, Those Who Tell The Truth Shall Live Forever, é uma verdadeira obra-prima, com melodias delicadas e tocantes.
O Explosions in the Sky é mais condecorado por sua colaboração em trilhas sonoras de filmes, sendo a mais lembrada delas na película Tudo pela Vitória, de 2004. A banda texana esteve no Brasil no final de 2015 e também comprovou que é incrível ao vivo. Por tudo isso, eles podem ser considerados um dos melhores e mais importantes grupos instrumentais de todos os tempos. O seu som é ideal para quem quer descobrir canções com uma estética mais emocional.
Mogwai
Comercialmente falando, o Mogwai é a banda instrumental de maior sucesso. Young Team, seu álbum de estreia, é um marco no post-rock: tínhamos uma banda que apesar de uma sonoridade bastante experimental, era capaz de criar um som acessível e longe de ser ambicioso. Até por isso, seus shows estão sempre lotados (inclusive o que ocorreu em 2018 em São Paulo, na turnê do ótimo Every Country’s Sun). Além disso, o Mogwai influenciou uma legião de bandas do post-rock, entre elas a própria Explosions in the Sky, citada aqui anteriormente.
Pra quem quer ser apresentado ao post-rock e a música instrumental como um todo, o Mogwai é uma parada obrigatória. Com nove discos de estúdio, a banda escocesa consegue apresentar várias facetas, explorando melodias grandiosas e também sons mais intimistas.
God is an Astronaut
Outra banda de post-rock, mas que apesar disso, é a que mais se distancia do gênero em comparação as outras que foram listadas até agora. God is an Astronaut é uma banda da Irlanda, de 2002. Em 2005, eles soltaram o que hoje ainda continua sendo o seu principal trabalho, All Is Violent, All Is Bright.
Apesar de estar presente no pedestal mais alto do post-rock, suas influências vêm de bandas populares de rock e de eletrônica do final dos anos 90. Até por isso, ao escutar God is an Astronaut, você se deparará com um som mais pesado, marcado por arranjos agudos de guitarra. Além disso, vale a pena conferir Epitaph, seu último disco, que possui uma atmosfera mais dark, como é possível perceber na excelente “Oisín”.
toe
Se você quer conhecer algo de fora do ocidente, vale muito a pena parar pra escutar toe, banda instrumental de math rock japonesa. A banda começou em 2000, mas foi lançar seu LP de estreia, The Book About My Idle Plot on a Vague Anxiety, apenas em 2005. Desde então, o grupo conseguiu atrair uma boa quantidade de fãs nos quatro cantos do planeta (incluindo o Brasil, terra na qual o toe tocou há dois anos).
Em um primeiro momento, o som do toe pode soar estranho, graças ao descompasso dos arranjos e das camadas sonoras embaraçadas. Porém, o resultado disso tudo é extremamente belo e criativo. Além disso, a bateria sempre marcante faz a música dessa banda soar na sua cabeça durante semanas.
BadBadNotGood
Saindo um pouco do rock, temos o grupo canadense BadBadNotGood. Eles surgiram como um grupo universitário, mas logo conquistaram fama na internet com seu som que tem como base principal o jazz e o hip-hop. Eles ganharam tanta moral que já chegaram a produzir e colaborar com gente do calibre de Tyler, the Creator, Snoop Dogg, Kendrick Lamar e Ghostface Killah.
Seus discos são todos muito agradáveis, com uma sonoridade rica e um instrumental cheio de detalhes, em um período onde especialmente o hip-hop se caracterizou pelo uso massivo de samples. Além disso, o BadBadNotGood tem o jazz brasileiro dos anos 70 como referência em suas canções, e são grandes admiradores de artistas como Arthur Verocai (que inclusive foi convidado pra tocar com eles em um show aqui no Brasil realizado no ano passado) e Erasmo Carlos, algo que é de certa forma expressado em meio ao ritmo imposto em suas faixas.
E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante
Encerrando a lista, temos uma banda representando o Brasil, que na história recente da cena alternativa esteve bem servido de músicos instrumentais. Hoje, os paulistanos da E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante são os grandes destaques nesse sentido. Apesar da curta carreira, o EATNMPTD já lançou diversos EPs e até passou por um hiato antes de lançar Fundação, em 2018. O grupo foi o primeiro instrumental a tocar em uma edição do Lollapalooza Brasil, em 2019, o que só comprova o status que eles adquiriram.
Ao escutar toda a sua discografia, é possível enxergar que a banda tenta atravessar diversas sensações, com algumas canções mais agressivas e outras com um ambiente mais leve. Isso fica claro no seu álbum de estreia, em faixas que se diferem tanto como “Karoshi” e “Quando o Vento Cresce e Parece Que Chove Mais”. Em meio a tantos nomes da música instrumental no Brasil, o EATNMPTD se destaca por ficar longe do comum.
Pra facilitar sua vida na música instrumental, o Audiograma preparou uma super playlist só com faixas dessas bandas. Confere aí!