“O futebol é um rito através do qual o país se enxerga”
-José Miguel Wisnik
O futebol dá seu pontapé inicial no Brasil ainda no Séc XIX, trazido por famílias ricas que descobriram o esporte na Europa e nomes como Charles Miller e Oscar Cox se tornam peças fundamentais. Sendo assim, sua origem vêm da elite que habitava os grandes clubes da alta sociedade do país, inclusive levando a proibição de negros no futebol.
Mas mesmo com todo esse berço de ouro em que o futebol nasceu, não demorou quase nada para que, assim como na Inglaterra, ele fosse engolido pelas massas populares e cidades industriais. Nas palavras do historiador Eric Robsbawn o esporte se tornou a religião leiga da classe operária.
Hoje o futebol é cotidiano, algo quase automático para o brasileiro. A gente joga, a gente come, a gente dorme e a gente canta futebol. Por isso, mesmo quando não estamos falando de futebol, ele transparece na nossa cultura e, consequentemente, na música. Pensando nisso, deixo aqui uma lista de músicas brasileiras que flertam, menciona, simbolizam, ou só passam raspando no futebol.
“De frente pro crime”, de Aldir Blanc e João Bosco
A música é contada da calçada e relata a violência urbana através de várias gírias e referências a futebol. O próprio nome já vem de um bordão do jornalista Januário de Oliveira, que ao ver um jogador chegando ao gol soltava “de frente pro crime”. Logo no início da música tem outro bordão, “tá lá o corpo estendido no chão” que era como Januário se referia ao ver algum jogador machucado.
“Pelas tabelas”, de Chico Buarque
“Ela”, de quem Chico fala durante toda a música é a democracia. Mas ele a descreve de maneiras que a gente enxerga na frente a cidade em meio a uma partida de futebol da seleção brasileira. Até as questões instrumentais e rítmicas levam a gente pra uma arquibancada de um jogo.
“Saudades do Galinho”, do Moraes Moreira
É uma carta de amor ao Zico, quando o mesmo deixou o Flamengo para ir jogar na Udinese. É uma saudade que ele ainda nem sentiu mas já sabe que vem. “E agora como é que eu fico nas tardes de domingo sem Zico”.
“Par ou Ímpar”, de Aldir Blanc e Guinga
É uma história real de um ex-torturador da ditadura militar pouco tempo depois dos anos de chumbo no Brasil. Agora ele joga peladas no Xerém e usa dessas técnicas de violência dentro das quatro linhas. “Diz que é torturador / Não é nada pessoal/ Se convocado outra vez/ Volta e me mete o pau, uai!”
“O trem azul”, de Lô Borgês
A música, inicialmente, não foi composta sob a ótica do futebol. É usualmente interpretada como uma metáfora da própria vida. Porém, ao longo do tempo foi sendo ressignificada, tornando-se uma grande homenagem aos times mais recentes do Cruzeiro, time do coração de Lô. Trem porque é mineiro, azul porque é Cruzeiro. E nada é mais Tostão do que isso.