Se você já ouvia música no fim dos anos noventa, certamente se lembrará do hit “Closing Time”, lançado em 1998 pelo Semisonic e que ganhou o mundo. Embora a banda não lance nada há quase vinte anos, o trio resolveu voltar ao trabalho e está de volta e cheio de novidades.
No entanto, antes de falar disso, preciso voltar no tempo: fundado em 1995, o Semisonic sempre teve como formação o trio composto por Dan Wilson (vocal, guitarra e teclados), John Munson (baixista, teclados e backing vocal) e Jacob Slichter (bateria, percussão, teclados e backing vocals), sendo Dan o seu grande compositor e responsável por praticamente todas as letras gravadas até hoje.
Antes de ganhar o mundo, o trio lançou um EP e um álbum de estúdio. O compacto – que leva o antigo nome da banda, Pleasure – saiu em 1995 e serviu para abrir as portas rumo ao seu primeiro contrato. Foi logo após assinar com a Elektra que a banda começou a trabalhar em Great Divide.
No entanto, uma mudança na direção da gravadora selou o futuro da banda: uma demissão no meio do processo de gravação. Com parte do trabalho na mão, a banda foi parar na MCA Records, com quem assinaram um novo contrato e lançaram o registro em 1996. O álbum rendeu um single conhecido dentro do mercado americano, “F.N.T.”, e chamava a atenção para a sua sonoridade que mesclava rock alternativo, pop e post-grunge.
Sucesso, busca com consolidação e hiato
Um ano após o álbum de estreia, o Semisonic voltou ao estúdio para trabalhar em seu segundo registro. O trio se reuniu com o produtor Nick Launay – que havia trabalhado no segundo álbum do Silverchair, Freak Show, lançado meses antes – para produzir o material que daria origem ao aclamado Feeling Strangely Fine. Com diversas composições na mão, a banda gravou uma série delas e, no fim, doze foram selecionadas para o registro, lançado em março de 1998.
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Foi com o primeiro single do álbum que o reconhecimento veio: “Closing Time” bateu no topo da Billboard Alt Airplay, a sua parada alternativa, e logo se tornou um sucesso mundial. O álbum ainda rendeu outros dois singles com boa execução na Billboard, sendo que “Secret Smile” também respingou nas rádios brasileiras. Feeling Strangely Fine registrou mais de um milhão de cópias vendidas só nos EUA e chegou a ser TOP 50 no ranking de álbuns da Billboard. Nada mal para um ano que contou com álbuns de Celine Dion, Beastie Boys, Snoop Dogg, Korn, Alanis Morissette, Lauryn Hill, Marilyn Manson e Jay Z ocupando o topo da concorrida lista.
Mais do que o sucesso comercial, o segundo álbum acabou definindo algo que Dan Wilson chama carinhosamente de “modo semisônico”, que é um jeito bem próprio da banda de criar as suas músicas e composições. A banda desenvolveu um formato de sucesso e foi com ele nas mãos que o trio começou a trabalhar em seu terceiro álbum.
Lançado em março de 2001, All About Chemistry é, provavelmente, o melhor trabalho do trio até hoje. Assumindo as rédeas em torno de sua produção, o registro é aquele onde a banda se sente totalmente a vontade para fazer aquilo que sabe: melodias gostosas marcadas por uma guitarra sempre presente que embalam letras cada vez mais bem escritas por Wilson. Só para ilustrar, é nele que temos uma das mais belas canções da banda até hoje: “One True Love”, faixa que conta com a participação da grande Carole King, que também colaborou com a composição.
Apesar da qualidade, a recepção comercial do registro não foi tão positiva quanto o álbum anterior. Ainda que o álbum tenha aparecido na Billboard 200 e a faixa “Chemistry” tenha tido uma certa visibilidade, o resultado acabou sendo abaixo do esperado. Inesperadamente, a banda acabou optando por um hiato após a sua turnê de promoção. E assim se seguiu até 2017.
A redescoberta e o retorno do Semisonic!
Ao longo de dezesseis anos, o trio seguiu por caminhos distintos: John Munson transitou por projetos musicais, incluindo trabalhos com Matt Wilson, irmão de Dan. Já o baterista Jacob Slichter escreveu um livro e seguiu com uma bem sucedida carreira como radialista.
Por sua vez, Dan Wilson seguiu no meio musical, mas atuando mais como compositor. Em conversa com a Rolling Stone, o vocalista falou sobre o hiato da banda e revelou um dos motivos para a separação: o nascimento de sua filha, que veio ao mundo de forma prematura e tinha necessidades especiais. O segundo motivo era o desaparecimento do tal “modo semisônico” citado anteriormente. “Eu simplesmente não sabia como tocar o Semisonic e fazer com que fosse uma música boa o suficiente. Eu achava que talvez fosse algo como o que Robert Plant costumava dizer – que ele não sabe mais como ser aquele cara do Led Zeppelin, então ele simplesmente não está fazendo isso”, afirmou.
Com isso, o músico acabou focando em sua família e, nesse meio tempo, chegou a lançar alguns álbuns solo, mas o seu lado como compositor acabou sendo mais forte, criando músicas para nomes como Taylor Swift, The Chicks e Halsey. No entanto, o grande sucesso acabou sendo a sua colaboração com Adele em “Someone Like You”.
Foi em uma dessas parcerias que o músico se redescobriu. Wilson ainda recebeu um convite para enviar composições para o primeiro álbum solo de Liam Gallagher. Ele trabalhou em algumas faixas e chegou a enviar o resultado para o eterno vocalista do Oasis, mas um detalhe passou despercebido: o prazo dado já tinha se esgotado. No entanto, o que parecia um triste fim acabou despertando algo que estava adormecido nos últimos anos: a vontade de escrever para o Semisonic.
Após algumas ligações, o trio se reuniu para algumas apresentações em 2017 e, daquele ponto em diante, a vontade de voltar a ativa se tornou mais forte. “Foi tão divertido e inspirador estarmos juntos novamente e fazer aquele som que sai quando estamos tocando”, lembra Wilson. Por consequência, a banda foi para o estúdio, começou a trabalhar em material inédito e o resultado e a volta do “modo semisônico” em 2020. A primeira amostra disso é a faixa “You’re Not Alone”, lançada na última sexta-feira (26).
A canção carrega o DNA já conhecido do trio e é exatamente como algo que se esperaria do Semisonic. Não tem atualizações, novos elementos, sonoridade mais atual ou qualquer coisa que a encaixe em 2020. É uma bela música com toda a sua construção baseada em algo que era feito no fim da década de 90. E soa do jeito que todos os fãs esperavam.
Além dela, You’re Not Alone contará com outras quatro faixas e sairá no dia 18 de setembro
O que vai resultar de tudo isso? Dan Wilson diz não saber qual será o futuro da banda e, mais do que isso, se pergunta se ela ainda tem espaço nos dias atuais. Apesar disso, deixou no ar que o Semisonic pode lançar outros EPs e sair em turnê no ano que vem.
Enquanto isso, cabe a gente lembrar de uma banda que realmente sabe fazer um pop-rock de qualidade em suas letras e melodias.