Parte de uma nova e mundial safra de artistas que vem reinventando a música eletrônica com questionamentos a indústria, Gabriel Diniz e Rodrigo Oliveira, mais conhecidos por CyberKills, são responsáveis pela reverberação da PC Music no cenário musical brasileiro.
O gênero que nasceu através do selo homônimo criado por A.G. Cook em 2013, ganhou visibilidade no mainstream ao ser incorporado no trabalho de Charli XCX, e o resto é história.
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Desde que surgiu, CyberKills chamou atenção de artistas como Pabllo Vittar e sua equipe, a Brabo Music, tendo inclusive produzido um remix da faixa ‘’Buzina’’ para o álbum NPN Remixes de Vittar. O duo também assinou parcerias com Mia Badgyal, Linn da Quebrada e mais recentemente Jup do Bairro.
Sem a possibilidade de dispensar a internet de seu processo criativo – já que ambos integrantes vivem em diferentes regiões do Brasil -, Gabriel e Rodrigo decidiram elevar as possibilidades virtuais a outro nível nesta quarentena e assim, idealizaram um festival online. O Hyperpop Festival tinha como principal objetivo arrecadar fundos para o projeto Mães da Favela. O festival online realizado em maio, durou três dias e entre suas atrações estavam Allie X, Neon Hitch e Davi Sabbag. Revelações brasileiras como Frimes, Garbo e Getúlio Abelha também deram as caras no lineup.
Em entrevista concedida ao Audiograma, o Cyberkills nos conta sobre suas inspirações, parcerias, Charli XCX e novos projetos. O resultado você confere agora.
Como surgiu a parceria entre vocês?
Nossa parceria surgiu lá no fim de 2018 quando nos juntamos para pensar em algo diferente pra “Buzina” de Pabllo Vittar, inicialmente ficou um desastre, risos. Posteriormente a equipe dela nos cedeu a acapella e refizemos o projeto, e a própria Pabllo aprovou e lançou como parte do NPN Remixes. Desde então não paramos de nos reinventar.
Quais as maiores inspirações do projeto?
Inicialmente ficávamos naquele quadradinho do pessoal da PC Music, literalmente obcecados com cada detalhe, produção e visuais. Com o tempo fomos entendendo que para termos nossa identidade não era ideal focar em apenas uma coisa. Música brasileira nos inspira muito, nossas raízes são bastante fortes e precisas, além da música eletrônica e da sua versatilidade e evolução durante a história. Admiramos demais o que a Charli XCX e todo o pessoal que ela colabora faz, mas além dela a comunidade LGBT brasileira é repleta de expoentes talentosos de vozes imponentes e necessárias no nosso cenário como: Linn da Quebrada, Jup do Bairro, Pabllo Vittar, Glória Groove e por aí vai.
E o que vocês tem escutado nessa quarentena?
Todas as mais variadas coisas. Rodrigo é muito fã de música eletrônica, além de amar muito cantoras como Nelly Furtado e Lykke Li, fora Lady Gaga com quem compartilha uma admiração com Gabriel. Estamos ouvindo muito o Chromatica, o álbum da Charli também é incrível, e mergulhamos muito nas referências que elas usaram nesses trabalhos. O House dos 90s, a música eletrônica do início dos anos 2000.
Quais as dificuldades de abrir as portas para a PC Music no Brasil?
Não consideramos como se tivéssemos aberto essa porta, antes da gente tínhamos a Mia Badgyal, a Frimes, o Léo Hainer, que já estavam entregando lindos trabalhos, além da Pabllo, que com as parcerias com a Charli, trouxe uma grande evidência pro movimento aqui no Brasil. Nós apenas adicionamos uma panela a mais nesse cenário e desde então estamos construindo nossa história e refinando nossa identidade. Ainda é algo muito de nicho e trazer isso para referências do mainstream, sobretudo brasileiro, é um desafio enorme.
Vocês recentemente realizaram um festival beneficente que contou com nomes de peso como Allie X, Linn da Quebrada e vários outros artistas. Como aconteceu o HyperPop Festival?
O Hyperpop nasceu da necessidade que tivemos de usar nossa voz por um bem maior, que foi toda contribuição que fizemos em parceria com a CUFA, em prol do Mães da Favela. Para isso, convidamos parceiros, amigos e ídolos para entrar nessa conosco, foi tudo muito orgânico e independente. Organizamos todas as burocracias sozinhos, incluindo o convite a artistas internacionais como Aquaria e Allie X, o que foi uma surpresa incrível e que levaremos como uma linda memória para nossa carreira. Também foi uma oportunidade de estreitar laços com essas pessoas.
E também recentemente vocês foram notados pela Charli XCX. Como foi isso?
Não foi exatamente como queríamos, risos. O Gabriel foi questioná-la no twitter sobre a falta de colaboração com os fãs como ela havia prometido para o novo álbum e acabou viralizando e o discurso dele sendo distorcido. A equipe da Charli e ela, pessoalmente, notaram tudo e vieram falar com ele. Nessa conversa, ela pediu nossas músicas e mandamos nossos remixes para ela ouvir. O de “Click” foi super elogiado pela própria.
Vocês fazem parte de um movimento de vanguarda da música brasileira que se estende para além dos gêneros musicais, uma nova geração de artistas que surgiram ao mesmo tempo que o neo-fascismo ganha espaço em todo mundo. Como é dar vida a um projeto que já nasce como resistência?
Todo dia é uma luta, não somos artistas privilegiados por uma gravadora ou uma propaganda mainstream, dependemos de recursos e respostas, que, muitas vezes são incertos. Mas nunca deixamos de usar nossa voz para nos posicionarmos em meio a esse caos que estamos vivenciando. A nossa própria referência e inspiração, a pc music, surge como uma forma de ironizar todo o sistema quebrando algumas barreiras do que é considerado normal/harmônico/agradável e seguimos com isso no nosso trabalho. O “incômodo” também uma forma de posicionamento.
Qual é a ‘’dream collab’’ do CyberKills?
Já realizamos algumas, a Pabllo, a Linn, a Potyguara, que são artistas que consumimos bastante. Ainda sonhamos em revisitar a Pabllo e a Linn, por exemplo, com, quem sabe, uma música totalmente autoral das duas partes. Glória Groove também é um grande sonho, além de nomes de fora como a Charli, SOPHIE, Arca, Danny L Harle, Dylan Brady, 100 gecs em si.
Falando em parcerias, tem alguma nova vindo por aí?
Temos algumas demos em andamento e já enviamos para alguns artistas que temos bastante carinho. Especificamente 3 artistas, uma já está quase finalizada e as outras duas estão em estágio inicial.
Além de um remix finalizado com dois artistas que amamos e admiramos muito.
Podemos esperar um álbum/EP do CyberKills?
Não vamos prometer nada concreto assim, mas estamos trabalhando, sim, em algo mais fechado como um EP ou mixtape de quarentena. Tudo está em estágio bem inicial, mas já temos alguns materiais.