Dê uma olhada nos charts da metade dos anos 2000 e veja quais eram as músicas mais escutadas daquela época: dificilmente você encontrará alguma música pertencente ao pop.
Pelo contrário: em 2005/2006, o que você provavelmente veria as pessoas escutando seriam canções mais próximas do R&B, do rap bling bling e até mesmo de baladas influenciadas pela música country. Os grandes grupos e cantores de pop da época utilizavam de fórmulas que se saturaram rápido e que traziam alguns aspectos superficiais do hip-hop. Em meio a esse cenário, um dos discos mais importantes do gênero surgiu para marcar época: Futuresex/Lovesounds, do Justin Timberlake.
A expectativa e o processo de criação
O disco lançado em 2006 foi bastante aguardado, gerando expectativa especialmente por JT ser um talento em ascensão até aquele momento; o cantor/ator já estava nas graças do público desde a infância, apresentando o Mickey Mouse Club e mais tarde por ser o principal membro de uma das boy bands mais bem sucedidas de todos os tempos, o N’Sync. Por outro lado, Justin ainda dava os seus primeiros passos na carreira solo como cantor; ele só havia lançado um álbum até então, Justified (2002), onde já demonstrava o talento em fazer grandes hits, que acima de tudo exibiam versatilidade sonora, como “Cry Me a River” e “Rock Your Body”.
Para essa nova etapa, Justin buscava trazer algo ambicioso e memorável; por isso, o primeiro passo foi convidar um dos principais produtores da época e desse século, Timbaland. Eles já haviam trabalhado em Justified, sendo que “Cry Me a River”, principal single, foi produzida por Timbaland. Ele também produziu anteriormente para artistas consagrados como Missy Elliott, Jay-Z e Aaliyah. Futuresex/Lovesounds foi criado em um período de oito meses, tempo consideravelmente longo para um disco de pop, mas que explica a complexidade do álbum se comparado a outros do gênero na época.
As primeiras impressões
O primeiro single divulgado para o disco foi “Sexyback”, colaboração entre Justin e Timbaland. O impacto foi imediato: a faixa foi uma das mais escutadas de 2006, e mais do que isso, fugia de qualquer coisa que JT já tivesse feito; a canção continha fortes influências do funk e do rock, seduzindo o ouvinte na primeira ouvida. A sensualidade celebrada antes por Prince e George Michael era resgatada por Timberlake que, com referências do passado, conseguia entregar um som novo.
Em Setembro de 2006, Futuresex/Lovesounds foi lançado, e trazia na capa Justin pisando em um globo espelhado, um dos grandes símbolos da história da cultura pop. Parecia que JT queria dar um recado: remodelar o que estava sendo feito na indústria, e dar as cartas trazendo uma sonoridade que, ao mesmo tempo reverenciava os grandes momentos do pop e também repaginava o estilo.
Sobre o álbum…
A primeira parte do álbum é possivelmente um dos maiores atos da história do pop; “Futuresex/Lovesound” e “Sexy Ladies” flertam com o dance e mostram todo o poder da voz de Justin mesmo sem seus famosos falsetes. “My Love” tem ótimos ganchos, e a participação de T.I. é outra que merece ser enaltecida. Porém, o principal destaque do disco sem dúvida é “What Goes Around…Comes Around”, uma faixa que foge de qualquer convenção, com sete minutos e meio de transições melódicas e versos contagiantes. Além disso, o videoclipe com participação de Scarlett Johansson e que é tão envolvente quanto um filme apenas aumentou a grandiosidade da música.
A segunda metade, apesar de conter faixas que destoam da qualidade do trabalho (“Damn Girl” e “Losing My Way”), contém duas das canções mais poderosas de Futuresex/Lovesounds: “Summer Love” e “Until the End of Time”. Enquanto a primeira merece elogios pelos ótimos beats e mais uma junção bem feita entre estilos, a segunda surpreende por fazer algo que não é muito comum em músicas do mainstream: um refrão “sem letra”, algo que você geralmente encontra nos coros formados por grandes bandas do indie.
Futuresex/Lovesounds é um marco da música pop
É difícil medir o grau de importância de Futuresex/Lovesounds. Entretanto, há uma certeza: com o seu segundo disco, Justin Timberlake provou que é possível experimentar e ir além das fórmulas prontas no pop, sem deixar de oferecer músicas que agradam o grande público; isso pode não parecer nada, mas analisando todo o contexto da indústria nos anos 2000, isso significa muito. Com a sua mistura de R&B, funk, rock e dance, Justin não trouxe apenas a sensualidade de volta, como o mesmo diz em um verso de “SexyBack”; com Futuresex/Lovesounds, Timberlake trouxe qualidade e inovação em um gênero que até então estava esgotado.
Ouça o álbum: