A banda independente The Zasters, de São Paulo, já tem uma trajetória impressionante. Formada por Juliana Altoé (vocal, guitarra e synth), Barbara Chela (baixo), Nabila Sukrieh (bateria) e Rafael Luna (guitarra), com apenas 4 anos de estrada e fazendo indie rock com letras em inglês e pegada bem alternativa, o quarteto conquistou milhares de plays no Spotify, teve ótima repercussão com seu EP de estreia, produzido por Alexandre Capilé no Estúdio Costella, e lançou clipes muito elogiados por crítica e público, especialmente com “Awesome Dance Moves”, que ganhou uma animação super bem produzida de Carlo Blau, tecladista e vocalista da banda Der Baum.
Mas, se antes as influências musicais remetiam ao indie rock dos anos 2000, com bandas como Arctic Monkeys, Franz Ferdinand e The Strokes, agora a The Zasters se volta para a década de 1970, com destaque para guitarras e referências de Led Zeppelin, Deep Purple e Black Sabbath, além de inspiração em bandas contemporâneas como Dead Weather, Royal Blood e Queens of the Stone Age, para a nova música “Going Down”.
O single marca uma mudança na sonoridade do grupo, que ficou mais pesado e agressivo. A letra é apocalíptica, raivosa e sombria: “Nós estamos afundando e eu te avisei! Nós estamos afundando e você não tem para onde ir”, diz o refrão. E não é à toa, já que a música nova começou a ser escrita em 2018, na época das eleições presidenciais. “Essa letra reflete o que a banda sentiu com as fake news, a polarização que foi criada no país, a intolerância e, principalmente, o sentimento de que as coisas ainda vão piorar muito”, dizem eles.
O novo single, lançado no dia 19 de setembro, foi gravado no Estúdio Tannus, em São Paulo, com captação, mixagem e masterização de Thommy Tannus. A arte da capa foi feita pela baterista Nabila, que também é ilustradora. E, na semana passada, “Going Down” ganhou um clipe muito bacana e cheio de significados.
O vídeo foi dirigido pelos próprios integrantes em parceria com Neto Ferreira e Felipe Delatorre, do Estúdio Grão, também responsáveis pelo roteiro e pela edição. Dario Honsho colaborou com a captação de imagens e a iluminação marcante, que faz toda a diferença no trabalho. E, ainda seguindo o estilo Do It Yourself da banda, a maquiagem ficou a cargo da baixista Barbara, também responsável pelo figurino. O clipe traz elementos que representam as questões surgidas durante e após as últimas eleições. Predominam as cores de fogo, fortes e intensas, com tons de laranja e vermelho em evidência. O intuito é passar uma sensação de alerta, que tem a ver com a música e com a situação que querem retratar. Espremida em um pequeno quartinho, a banda parece sufocada e desconfortável. Objetos são quebrados de forma abrupta e agressiva, contando com uma cena hipnotizante de destruição de uma TV com taco de baseball. Assista:
Conversamos mais com a banda para saber como foi o processo desse novo trabalho e o que eles pensam do fim do mundo que estão anunciando. Confira:
Por que a música se chama “Going Down”?
“Going Down” começou a ser composta pouco antes das eleições de 2018, e fala justamente da situação que passamos durante esse período e que continuamos passando agora. E o refrão da música resume bem a situação: “We’re going down, and I told you so. We’re going down, and you got nowhere to go” (“Nós estamos afundando, e eu te avisei. Nós estamos afundando, e você não tem para onde ir”). Afinal, estamos todos afundando junto com essa situação, mesmo boa parte de nós já sabendo e avisando desde o começo que afundaríamos. Seguimos afundando, e a maioria de nós não tem pra onde fugir. A letra é, portanto, um resumo do que sentimos em relação a todas as situações que vimos acontecer durante as eleições: as fake news, a polarização que foi criada no país, a intolerância e, principalmente, o sentimento de que as coisas ainda vão piorar muito. Ficamos chocados em ver como um homem abertamente racista, homofóbico, despreparado e corrupto conseguiu ganhar popularidade simplesmente dizendo combater o comunismo (e que comunismo é esse? Porque não existe e não existia uma ameaça comunista no Brasil) e ser a “nova” política, mesmo já estando há quase 30 anos nesse meio. A mensagem que queremos passar é que estamos vendo tudo o que tem acontecido, a lavagem cerebral, a cortina de fumaça e o discurso de ódio que a extrema-direita tem praticado no Brasil e no mundo. É uma mensagem de resistência, de reação. Em tempos como esse, não dá pra ficar passando pano pra fascista, tem que ser dedo na ferida.
Por que vocês acham que o som mudou significativamente dos trabalhos anteriores da banda para esse?
Sempre somos bombardeados com muita música diferente hoje em dia, e isso reflete no som, pois acabamos misturando bastante coisa que gostamos. A entrada do Rafa na banda também contribuiu para essa mudança. Acreditamos que até mesmo a produção do Thommy Tannus foi um fator que trouxe coisas novas pro nosso som. Além disso, começamos a amadurecer melhor nossas ideias, nos conhecemos melhor musicalmente e agora desenrolamos mais naturalmente.
Qual é a ideia do clipe?
Utilizamos alguns elementos para passar ideias que trabalhamos na letra da música. A luz simbolizando o conhecimento e a informação, que transmitimos ao avisar que as coisas não estão boas e o que está acontecendo. Para falar da opressão e alienação, utilizamos alguns takes com a banda passando expressividade pelo olhar de censura/aflição. Quebramos objetos como resistência a essa alienação e mostramos objetos frágeis (ovo, papel) em nossas mãos simbolizando aspectos da vida humana social (minorias) que, quando resistentes (caco de vidro, prego), têm o poder de ferir o opressor, de forma reativa. A ideia principal é mostrar reação, que estamos vivos e não vamos ficar quietos. Gravamos em uma casa velha em reforma, num quartinho apertado, porque quisemos passar a impressão de opressão, repressão. Foi meio loucura, chegamos às 8h30 da manhã e saímos pra lá das 20h. A casa não tinha energia elétrica direito, não tinha água, não tinha banheiro(!), geladeira, nada. Puxamos uma extensão de fora da casa, compramos umas coisas pra comer, umas cervejas e bora (risos).
Vocês estão trabalhando no primeiro álbum cheio. O que podemos esperar dele?
O disco ainda está em processo de composição e só terá músicas inéditas. Já temos cerca de cinco canções praticamente prontas e mais algumas em andamento. O que dá pra adiantar é que, assim como em nossos shows, trabalhamos com dois climas diferentes – um mais pop e dançante e outro mais porrada e rock and roll. Tanto “Going Down” quanto o single anterior, “Come See The Band”, dão uma pista dos caminhos que temos tomado pro lado mais porrada (pro lado mais pop ainda não demos pistas – risos).
Qual será o nome do disco? Já tem previsão de lançamento?
Isso vai ser surpresa (para todos, inclusive para nós – risos). Como ainda estamos em processo de composição e não queremos pular etapas nesse sentido, preferimos não cravar uma data, mas deve sair lá pela metade do ano que vem.
Quais são os próximos passos que vocês querem dar como banda? O que estão planejando para os próximos meses?
Por enquanto pensamos em terminar nosso primeiro disco completo. Mas o objetivo de tudo isso é atingir o maior número de pessoas possível, no maior número de lugares possível. Até agora ficamos bastante restritos à cidade de São Paulo, e à região central da cidade, especificamente, mas queremos mudar isso. Após o lançamento desse disco, queremos rodar pelo Brasil, pelo mundo, por onde for possível, levando nosso som.
Conheça os integrantes da The Zasters:
Juliana Altoé é cantora e guitarrista e também toca sintetizadores. É professora de canto no Conservatório Souza Lima, onde também se formou no curso técnico de música. Entre suas influências encontramos muito do rock dos anos de 1960 e 1970, além principalmente do indie rock dos anos 2000. Juliana toca desde os 8 anos de idade, quando começou a estudar piano, e atualmente é mestranda em Musicologia pela USP. Uma curiosidade: ela também é formada em Administração e cuida das finanças do grupo.
Nabila Sukrieh é baterista, ilustradora e arquiteta. Começou a tocar piano clássico com apenas 4 anos de idade e também já estudou contrabaixo, violão, guitarra e canto. Frequentemente manda áudios no grupo de WhatsApp da banda com músicas praticamente prontas (no formato voz e violão). Como ilustradora, assina praticamente todas as artes da The Zasters (capas, desenhos de merch, logo, flyers etc.). Com influências das mais variadas, de divas pop a bandas de metal, Nabila curte ouvir principalmente pop-punk e indie rock e representa o lado mais espontâneo e intuitivo da banda.
Rafael Luna é formado em Marketing e cuida muito bem das redes sociais da banda. Estuda guitarra no curso técnico de música do Souza Lima e é o principal criador de riffs na The Zasters. Com influências das guitarras dos anos de 1970 e muito blues, é ele também que grava todas as guias e demos do grupo. Rafael cresceu nas rodas de hardcore e, talvez por isso, predominam em suas letras um teor mais crítico. Mestre do DIY, acabou mudando o jeito de trabalhar da The Zasters.
Barbara Chela é baixista, fotógrafa formada e fundadora da The Zasters junto com Juliana, sua amiga de longa data. Ela também já foi guitarrista e baterista da banda, em seus primórdios. Tem entre suas influências desde bandas obscuras da Rússia a pop-punk e indie rock dos anos 2000. Barbara é multifunções e faz de tudo para a banda, atuando como contrarregra, eletricista e maquiadora oficial e também tendo sido a responsável pelos incríveis macacões cor de rosa do figurino.
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