Frequentemente, a arte proporciona obras que retratam o impacto proporcionado pelos avanços tecnológicos; a ficção científica é um dos gêneros mais populares pelo grande interesse que o assunto desperta.
Na música, isso não é diferente; diversos artistas já lançaram trabalhos conceituados baseados nesse gênero, ou seja, no modo como a sociedade se comporta em um mundo que cada vez mais depende desses aparatos, proporcionando reflexão e também entretenimento. Da mesma forma, existem bandas que utilizaram essa temática como um fator importante na questão estética e também sonora.
De qualquer maneira, esse objeto sempre se renova e é relevante; por isso, resolvi listar sete álbuns que apresentam discussões e revelam influências que se aproximam da ficção científica.
# Kraftwerk – The Man-Machine (1978)
Considerado um dos principais responsáveis por popularizar a música eletrônica, o Kraftwerk sempre trabalhou em cima da relação dos homens com as máquinas. Isso transparece tanto na sua sonoridade, com a utilização de elementos até então nada convencionais, como o vocoder e os sintetizadores, quanto nas suas apresentações; com movimentos mínimos, os integrantes aparentam ser androides em cima do palco.
Por esse motivo, qualquer material da banda alemã poderia aparecer nessa lista, como Autobahn (1974) ou Computerwelt (1981); ambos exploram e exaltam a modernidade. Por outro lado, The Man-Machine faz com que perguntemos até onde esse tipo de engenhosidade também nos faz automatizados, trazendo pontos positivos e negativos das criações modernas; faixas como “Metropolis” (referência ao clássico de ficção cientifica), e “The Robots” contribuem com isso.
# Daft Punk – Homework (1997)
Assim como no caso do Kraftwerk, o Daft Punk inclui em suas performances uma estética futurista. O duo francês formado por Guy-Manuel de Homem-Christo e Thomas Bangalter até hoje faz sucesso com um house que mistura outros ritmos como o funk e o disco. Além disso, é muito provável que a primeira coisa que passe pela sua cabeça quando falamos deles são as suas personas, que transformam os dois DJs em robôs.
Consequentemente, essa estética também passa por suas músicas; em Homework, LP de estreia da dupla, essa característica é ainda mais presente, já que esse é o disco mais sujo e que tem mais ausência de instrumentos tradicionais, sendo menos “humanizado”. Destaque para os hits “Da Funk” e “Around the World”, que nos fazem esquecer que quem está por trás dessas produções são dois homens.
# Radiohead – Kid A (2000)
O Radiohead sabe como ninguém mexer com esse tema; em OK Computer (1997), a banda britânica finalizava o milênio levantando dúvidas sobre como as relações se dariam em meio aos processos de modernização, graças à expansão da Internet para uso pessoal.
Em Kid A, essa abordagem se manteve; em uma entrevista para a Rolling Stone na época, Thom Yorke comentou que o título do disco poderia ser interpretado (ou não) como sendo sobre um possível primeiro clone humano. Fato é que, mesmo sendo mais sutil nesse aspecto do que o registro anterior, Kid A se destaca por já concordar que essas mudanças no nosso estilo de vida não são um sinônimo de progresso. Outro fator importante são as melodias com batidas mais eletrônicas em comparação aos outros trabalhos do Radiohead, e os versos intencionalmente repetitivos, que acabam transmitindo uma atmosfera futurista.
# Björk – Biophilia (2011)
A cantora islandesa Björk sempre explorou esse tópico ao longo de suas coletâneas; o videoclipe de “All Is Full Of Love”, com a cena de dois robôs apaixonados se beijando é só um dos inúmeros exemplos.
Em Biophilia, a cantora foi mais a fundo, trazendo um ponto de vista amplo sobre a nossa relação com a natureza, a música e a tecnologia. Merece destaque a iniciativa de transformar o álbum em um projeto audiovisual bastante complexo, onde cada faixa estava linkada a um aplicativo, que funcionava de acordo com o assunto de cada uma. Nada mais ficção científica do que isso.
# Death Grips – The Money Store (2012)
The Money Store é o LP de estreia do trio de hip hop experimental Death Grips; um LP importante, responsável por definir uma nova linhagem dentro do gênero, com influências do industrial e da música eletrônica.
Esse pode ser considerado um dos discos que mais remetem ao cyberpunk; ele é construído em cima de letras sombrias, violentas e caóticas, deixando uma noção pessimista de uma sociedade evoluída. Faixas como “Get Got”, “I’ve Seen Footage” e “Hacker” passeiam entre o hoje e o amanhã; é possível concluir com elas que a nossa comunidade já está inserida nesse quadro decadente.
# Arcade Fire – Reflektor (2013)
O quarto álbum do coletivo canadense não tem como foco principal a tecnologia; entretanto, as discussões baseadas nos pensamentos do filósofo Søren Kierkegaard sobre a era moderna tem como resultado versos sobre nosso comportamento como humanos em meio a tantas mudanças. Ele questiona a nossa superficialidade.
“Reflektor”, a primeira música do disco, fala do nosso cada vez mais intenso narcisismo; “Porno”, ao lembrar que com a internet temos mais acesso à pornografia, narra as consequências problemáticas disso, entre elas a influência de como lidamos com nossos sentimentos amorosos. Reflektor é uma obra necessária, provando que a modernização e a nossa própria evolução não caminham necessariamente juntas.
# The 1975 – A Brief Inquiry into Online Relationships (2018)
Fechando a lista, um dos discos mais elogiados do ano passado; The 1975 lançou o melhor álbum da sua carreira com A Brief Inquiry into Online Relationships. O registro é focado nos relacionamentos românticos nos tempos de hoje.
“The Man Who Married a Robot / Love Theme” é apenas um dos momentos em que o grupo liderado por Matt Healy relata como é estar apaixonado e a sua dualidade em meio a um momento da história tão artificial. Com seus arranjos dançantes, e também com instantes mais introspectivos, o The 1975 mostra de forma fidedigna as nossas emoções.
Se interessou pela lista? O Audiograma já se preparou pra isso, montando uma playlist com algumas dessas músicas que se aproximam da ficção científica!