Hoje, dia 21 de agosto, é aniversário do Budgie, um dos bateristas mais talentosos e aclamados de todos os tempos.
Para celebrarmos a data, elaboramos um conteúdo especial sobre o músico passando por vários momentos de sua carreira. A produção contou com a colaboração de Costas Christodoulopoulos e também de Carlos Casalicchio.
Portanto, sem mais delongas, confira tudo abaixo!
# O ILUSTRE TALENTO DE PETER EDWARD CLARK
Por: Juliana Vannucchi
A história da banda britânica Siouxsie And The Banshees teve início com um encontro entre Siouxsie Sioux e Steven Severin, que aconteceu durante um show da banda Roxy Music. Desse momento em diante, uma história incrível começou a ser escrita. Certamente, no primeiro instante em que se viram, aqueles dois jovens ingleses não sabiam que formariam uma banda mundialmente famosa que entraria para a história do Rock And Roll.
Os Banshees surgiram oficialmente em 1976, quando realizaram o primeiro show no 100 Club, que foi um dos grandes points do Punk Rock inglês. Nessa ocasião, além de Siouxsie e Severin, se apresentaram também Sid Vicious, na bateria e Marco Pirroni, na guitarra. A partir desse momento inaugural, Sioux e Severin notaram que havia uma química musical especial entre eles. No entanto, os outros dois integrantes que tocaram nessa estreia, Pirroni e Vicious, saíram do grupo e cederam espaço para Keny Morris e John McKay, que participaram da gravação dos dois primeiros álbuns da banda, intitulados Scream e Join Hands, respectivamente.
Após o lançamento desses elogiáveis álbuns, no final dos anos setenta, a banda britânica passou de uma simples promessa para um dos grupos mais conceituados, que possuía todos os ingredientes para se firmar no cenário musical local e mundial. Porém, após o lançamento do Join Hands, o guitarrista John McKay e o baterista Keny Morris saíram dos Banshees. No entanto, eles foram subsistidos por dois músicos notáveis: John McGeoch, que havia se destacado no Magazine e chegava para assumir a guitarra, e um certo jovem loiro, de cabelos desgrenhados, nascido em St Helens, cujo nome era Peter Edward Clark, mais conhecido como Budgie, e que chegava aos Banshees para se encarregar da bateria.
Desde então, o talento excepcional do baterista despertou a atenção do público e da crítica. Sua versatilidade inventiva e sua maneira tribal de tocar, logo cedo o colocaram num patamar musical diferenciado. Nenhum outro baterista dos anos oitenta manejou as baquetas com tamanha autenticidade. Budgie permaneceu nos Banshees até a dissolução da banda, ocorrida em 1996. Sempre se destacou por suas contribuições com o grupo, mas foi, de fato, no The Creatures, projeto musical formado com sua ex-mulher, Siouxsie Sioux, que ele atingiu seu ápice como músico, criando ritmos diversificados, arquitetados sob influências sonoras distintas, e sempre tocando com imensa originalidade. Após um longo período de atividade, o The Creatures também chegou ao fim. A carreira do baterista, no entanto, ainda continuou ativa e até hoje, Budgie, segue tocando de uma maneira primorosa. Sua singularidade como músico, essencialmente marcada por toques hipnóticos e por uma genialidade criativa, ainda é a mesma de seus primórdios. Aquele velha energia ainda pulsa em seu espírito, o inspirando a produzir batidas contagiantes.
Definitivamente podemos dizer que todas as produções musicais das quais Budgie participou, foram qualificadas. Ele é o tipo raro de músico que sempre se destaca e que garante um patamar elevado para os projetos musicais dos quais faz participa. Atualmente, reside na Alemanha, é casado, tem uma filha de nove anos e um filho de cinco. Constantemente participa de turnês com John Grant. Eu tive o privilégio de assisti-los ao vivo em outubro de 2015 e naquela ocasião, me certifiquei do quanto o Budgie é extraordinário nos palcos. Ele se apresenta com uma maestria sofisticada e toca com amor. Fora dos palcos, é um homem generoso, bem-humorado e inteligente. Não é à toa que ele sempre conquistou tantos admiradores ao longo de sua carreira e talvez sempre tenha sido o “banshee” mais querido e mais bem visto! Há alguns anos atrás, juntou-se a Facebook e através de sua conta, manteve os fãs atualizados em relação aos seus shows e, mai recentemente, abriu uma conta no Instagram, que é constantemente atualizada.
# HISTÓRICO DA CARREIRA DE BUDGIE
Por: Costas Christodoulopoulos
Bandas das quais Budgie foi membro:
- Inicialmente participou de uma banda na escola, que mudou de nome algumas vezes (de Taurus para Shadowfax, deste para The Opium Eaters e deste para The Nova Mob).
- Do final de 1976 até abril de 1977, juntou-se por um tempo ao Albert Dock também conhecido como Albert And The Cod Warriors, e que posteriormente passou a se chamar Yachts.
- De maio a dezembro de 1977, foi membro da banda The Spitfire Boys, na qual tocou ao lado do músico David Littler.
- De janeiro a agosto de 1978, juntou-se ao Big In Japan, de Bill Drummond.
- Em setembro de 1978, participou do Secrets por um breve período de tempo.
- De novembro de 1978 até julho de 1979, integrou a banda The Slits. Budgie participou da gravação da faixa “Typical Girls” (lançada em 21 de setembro de 1979) que se tornou uma das músicas mais conhecidas da banda. Também gravou o álbum Cut, lançado em 7 de setembro de 1979.
- Em 1979, teve uma passagem pelo The Jimmy Norton Explosion, de Glen Matlock.
- De setembro de 1979 até abril de 1996, participou da banda Siouxsie & the Banshees, com quem também tocou nas apresentações realizadas no início dos anos 2000, em que a banda se reuniu após alguns anos de sua ruptura.
- Fez parte do The Creatures entre 1981 e 1983, 1989 e 1990 e também entre 1996 e 2005.
- Em 2014, formou o Bug ao lado do músico Knox Chandler (guitarrista – que aliás, já tocou nos Banshees), Mark Plati (baixista) e Doug Yowell (baterista).
Bandas nas quais Budgie teve uma participação esporádica:
- The Planets, do músico Steve Lindsay (1979): Budgie aparece como baterista de sessão em algumas faixas do álbum de estreia Goon Hilly Down, lançado em outubro daquele ano.
- Clive Langer & The Boxes (meados de 1979): foi baterista no EP I Want The Whole World.
- Participou de várias faixas do EP Annie Hogan Plays Kickabye, lançado por Anni Hogan em 1984.
- Participou de três faixas do álbum Rites Of Passage, da banda Indigo Girl’s (1992).
- Participou da gravação da faixa “Neon Sisters”, do álbum Astronauts & Heretics, lançado por Thomas Dolby em 1992.
- Gravou a faixa “War Dogs”, do álbum Labyrinth, de Juno Reactor (2004).
- Apresentação com a banda Lisa Dewey & The Lotus Life em abril/maio de 2008, na Jan Hose (Califórnia/EUA).
- Participou do álbum Is It Fire?, da cantora e saxofonista Jessie Evans, no qual gravou três faixas (2009).
- Colaborou com Dom Bouffard em “Flying”, lançada em 2013.
- Participou da gravação do álbum Grey Tickles, Black Pressure, de John Grant (2015).
- Gravou com o Peaches em novembro de 2017 e com a cantora alemã Miss Kenichi em abril de 2018.
Bandas e ocasiões em que tocou ao vivo como baterista de sessão ou com as quais excursionou
- Fez uma turnê nos EUA com a banda Indigo Girls em 1992.
- Em 6 de abril de 2008, se apresentou com a theSTART, em Irvine, nos Estados Unidos.
- Em 15 de maio de 2008 se apresentou ao vivo com o Camp Freddy no The Roxy in Hollywood, em Los Angeles, nos Estados Unidos.
- Realizou turnê com a Jessie Evans em março de 2009, outubro de 2010, julho de 2011 e maio de 2015.
- Fez algumas turnês com o Juno Reactor: de dezembro de 2009 até janeiro de 2010, agosto de 2012, agosto de 2013, entre março e agosto de 2014, em maio de 2015 e de agosto a setembro de 2017.
- Em 2012, tocou com a banda Efterklang nos meses de maio, setembro e outubro.
- Em 04 de dezembro de 2013, tocou com o CocoRosie no The Louvre Museum, em Paris.
- Realizou uma turnê com Leonard Eto entre maio e junho de 2014 e participou de outras duas apresentações no Japão em maio de 2015.
- Em 28 de abril de 2018, subiu ao palco com o Talvin Singh & Guests Auditorium, em Berlin, na Alemanha.
- Realizou uma extensa turnê com John Grant: de outubro a dezembro de 2015, de janeiro a novembro de 2016; em fevereiro, março, junho, agosto, outubro, novembro e dezembro de 2018 e de janeiro a outubro de 2019, exceto em abril e setembro).
# DEPOIMENTOS DE ARTISTAS CONVIDADOS
– Jessie Evans (cantora e saxofonista norte-americana)
“A primeira vez que vi o Budgie foi num show de reunião da banda Siouxsie e The Banshees, ocorrido no The Filmore, em São Francisco no dia 24 de abril de 2002. Naquela mesma noite eu conheci Peaches e Joan Jett, que também são pessoas excepcionalmente humildes e gentis.
Eu tinha 24 anos na época e, desde minha adolescência, era fã da Siousxie, do The Creatures e do The Slits. Eu me lembro que antes do show eu estava saindo com um amigo que me presenteou com um lindo e antigo casaco de pele de raposa. Como eu não tinha nem queria gastar o dinheiro para guardar o casaco entrei no show com ele, esperando que desse tudo certo e não ficasse muito quente. Aquele não foi um bom show para a Siouxsie. Eu não sei se tinha algo a ver com a maior parte de fãs indo para o agendado no “The Warfield” na noite seguinte e este show estando cheio de ignorantes e caipiras de São José, mas ela parecia meio bêbada, e meio repelida pela audiência, o que resultou em um desempenho pouco espetacular. Mas quero dizer que é claro que tenho muito respeito por ela. Ela é uma rainha e uma deusa em seu próprio modo de ser. Eu nunca imaginei que estaria escrevendo uma review sobre aquela apresentação, mas aqui estou, então simplesmente estou contando como aconteceu. Todo mundo tem shows ruins, e ela praticamente massacrou a maioria das faixas da banda naquela noite. Em um certo momento ela parou a banda no meio da apresentação para gritar com os caras da iluminação pra dizer que ela estava congelando e não poderia continuar a menos que eles aumentassem a temperatura do ambiente. Eu me vi no meio da multidão, sem poder me mexer e muito menos tirar o casaco. Eu tinha certeza naquele momento de que ela era o diabo e eu sufocaria ali. Budgie, no entanto, brilhava como uma espécie de deus antigo e mitológico. No início de cada música, ele levantava as mãos acima da cabeça para sinalizar o começo. Ele claramente controlava tudo e manteve uma compostura perfeita, sendo paciente durante toda a noite. Sua atuação foi ao mesmo tempo poderosa e mágica. Ele era escultural. Eu sempre amei o estilo dele tocando bateria. É muito bruto e agitado, mas tendo ótimos balanços. Seu estilo reúne punk, new wave, reggae, batidas tribais e sons mais pesados nos tons. Isso me faz querer dançar. Eu sempre tive uma preferência por bateristas. Eles são como a base de tudo de valor. Eles também costumam ser bons em dirigir tarefas lógicas e coisas com as quais não posso lidar. Mas vê-lo naquela noite realmente deixou todas essas observações que faço muito claras para mim. Notei que, apesar de eu ser uma cantora que foi constantemente comparada a Siouxsie quando dei meus primeiros passos na música, o Budgie é que foi claramente minha influência.
Cinco anos depois, eu estava morando em Berlim e fazia shows por toda a Europa ao lado de Toby Dammit, baterista de longa data do Iggy Pop. Em 2007, o Budgie escreveu para ele pois estava interessado em se mudar para Berlim e o convidamos para ir ao estúdio e gravar bateria e marimba em algumas faixas do meu primeiro álbum solo, o “Is it Fire?”. Ter a oportunidade de trabalhar com ele foi muito incrível para mim naquela época e continua sendo um destaque na minha trajetória. Era como capturar uma borboleta ou alguma criatura profundamente mística e ser capaz de imprimi-la em sua própria tela em cores tão brilhantes que brilhavam como se fossem de outro mundo. Trabalhar no estúdio com ele foi incrível. Ele não apeas é um grande baterista, mas é também uma pessoa muito doce e gentil. É uma joia rara de ser humano que de alguma forma reteve a inocência de uma criança misturada com a sabedoria de Buda.
Nós tocamos vários shows juntos depois que o álbum foi lançado. Fiz uma apresentação no famoso clube punk “SO36” em Berlim com ele e Toby na bateria, depois em Zurique, na Suíça, em Maiorca, na Espanha, uma turnê de “CSD” (Gay Pride) na Alemanha, na Eslováquia, etc. Voltei a Berlim para tocar no X-Jazz Festival com ele. Eu não consigo lembrar de todas as datas, mas os shows foram sempre divertidos. Nunca vou esquecer o nosso show em Munique, onde chegamos tarde porque levamos horas para percorrer com o carro aquelas ruas malucas. O local tinha capacidade para cerca de 200.000 pessoas e devia ter de 10.000 a 20.000 pessoas diretamente em frente ao palco quando estávamos prestes a tocar. Tinha sido um dia incrivelmente quente, mas quando estávamos sendo anunciados, de repente, um trovão e um raio cortaram o céu e de repente, começou uma chuva forte que literalmente deu um banho em toda a multidão que estava ali e estourou a eletricidade cerca de dois minutos antes de irmos para o palco. Nós caminhamos pelo palco e eu não conseguia acreditar naquilo, era como voltar para o futuro ou algo assim. O céu ficou escuro e toda a multidão desapareceu, restando apenas umas 5 pessoas que devem ter sido fãs incondicionais, e que se seguravam firme na cerca do palco. Eu insisti para que tocássemos de qualquer maneira, e nós passamos fizemos uma versão acústica de uma das minhas músicas antes de sermos interrompidos pelos promotores, já que era perigoso demais continuar. Foi uma experiência intensa, um momento de grande perda e humildade para “perder” aquele show. Mas foi reconfortante tê-lo lá, porque ele estava claramente por aí tempo suficiente para entender o conceito de “ganhar algumas, perder algumas e era gentil e não crítico. É bom saber que você tem amigos de verdade em momentos como esse. Mais tarde, durante uma viagem ruim de DMT em que eu estava sozinha no meu apartamento em Berlim, ele também apareceu para mim como um fantasma para me dar uma força. É um amigo gentil e verdadeiro!
Felicidades para Budgie! Ele é um baterista muito original e pessoa super legal. Espero que você venha para o Brasil no próximo ano!”
– Thiago Hallek (baterista, baixista e tatuador)
“O Budgie é um músico incrível, um dos bateristas mais versáteis, criativos e diferentes que já se viu. Você vê que ele não é apenas um baterista, mas um verdadeiro estudioso da percussão, aplicando conceitos de diversos estilos diferentes nas músicas dele, e sempre de uma forma elegante e desprovidas de exageros. Não consigo pensar em um baterista de rock cuja sonoridade me agrade como a dele – talvez o Stewart Copeland, do Police, mas aí já é outra pegada. O fato é que foi o estilo do Budgie que mais abriu a minha cabeça no que diz respeito, não só a tocar bateria, como a pensar no papel do instrumento em uma música, em uma banda. Devo muito do meu modo de tocar a ele”.
– Gabriel Marinho (produtor, músico, colaborador do Audiograma e do site Fanzine Brasil)
“Desde o surgimento do rock, diversos músicos foram louvados pela crítica especializada. Embora sua grande parte seja composta por guitarristas e vocalistas, o que dá vida a banda é um baterista, sendo uma tarefa que Budgie faz de forma excepcional por todos os projetos pelo qual passou. É notável que sua entrada nos Banshees proporcionou um crescimento musical incrível e é impossível pensar na banda sem lembrá-lo pela sua contribuição. Budgie era a peça que faltava no quebra cabeça dos Banshees, e mais do que isso, fazia o seu trabalho com carisma, sempre com um sorriso no rosto“.
– Marcelo Badari (produtor musical e ilustrador)
“Um dos primeiros sons que ouvi dos Banshees deve ter sido ‘Paradise Place’ e a bateria chamou minha atenção logo de cara. Eu já curtia levadas de bateria mais minimalistas, econômicas e criativas. E o Budgie veio com a ênfase nos tambores e isso me fisgou logo de cara. O visual e a temática dark da SATB não deixava transparecer o lado mais simpático do Budgie. Mas nos extras do DVD ‘The Seven Years Itch’ fiquei bastante surpreso ao ver como ele parece ser um cara bem comunicativo e gente boa”.
– Ary Vianna (artista plástico)
“Falar do Budgie é uma tarefa difícil. O que posso dizer é que quando ele se untou aos Banshees, a sonoridade da banda mudou para melhor e ficou realmente fantástica. Ele foi diferenciado, alterando em definitivo o rumo do que já era bom, para um caminho ainda melhor”.