Bristol. Inglaterra. 2009. Enquanto a gente discutia o futuro da música, via o pop assumindo as rédeas do mainstream, lamentava a morte de Michael Jackson e o fim do Oasis, cinco músicos se reuniam na cidade britânica para dar início em um projeto que, dez anos depois, se tornaria a melhor banda de rock da atualidade.
Com o seu post-hardcore/post-punk, o IDLES começou a chamar a atenção no Reino Unido logo com o seu primeiro EP, Welcome, lançado em 2012. Muito disso por conta de “26/27”, a primeira amostra do que a banda capitaneada pelo vocalista Joe Talbot poderia fazer.
Quase cinco anos e alguns EPs depois, veio o primeiro álbum completo. Brutalism teve como inspiração a mãe de Talbot, que faleceu durante o processo de gravação do álbum, em consequência de uma doença. Muito desse momento doloroso aparece nas letras honestas e diretas que compõem o álbum, que renderam diversos elogios ao grupo por abordarem questões relacionadas à saúde mental e perdas em uma época onde o rock fala muito pouco disso. Após o lançamento, o vocalista passou por outro baque emocional: precisar lidar com a perda de sua filha, que acabou nascendo morta.
Enquanto enfrentava o vício e encarava o luto, a banda se preparava para dar o chamado “salto definitivo” em sua carreira: em seu segundo trabalho, Joy as Act of Resistance, o IDLES acabou entregando um álbum-manifesto no qual fala sobre política, machismo, masculinidade tóxica, amor, união e, como não poderia deixar de ser, a perda e as lutas que nós travamos a partir disso.
Se o Brutalism era um álbum majoritariamente sujo e dolorido, Joy as Act of Resistance tem uma construção refinada e consegue ser, ao mesmo tempo, agressivo e calmo, divertido e reflexivo, direto e irônico. O álbum funciona quase que como um diagnóstico da nossa sociedade num todo, apontando os nossos problemas e dificuldades mas sem deixar a esperança de lado, se adequando perfeitamente aos tempos complicados que vivemos, independente das particularidades vivenciadas aqui no Brasil, no Reino Unido ou nos Estados Unidos, por exemplo.
Muito por isso, o segundo trabalho lançado por Joe Talbot, Mark Bowen (guitarra), Lee Kiernan (guitarra), Adam Devonshire (baixo) e Jon Beavis (bateria) acabou sendo aclamado pela imprensa especializada, colocando o IDLES em diversas listas de melhores álbuns de 2018, incluindo a nossa humilde seleção de fim de ano, onde o Joy as Act of Resistance figurou no TOP15.
Algo comum no IDLES é a energia presente ao longo das faixas e isso é algo que a banda faz questão de levar para o palco. Sem se prender em formatos instrumentais, o quinteto soa exatamente como as suas letras se propõem, proporcionando uma verdadeira sequência de socos capaz de provocar uma estranheza logo de cara no ouvinte e essa é a intenção da banda.
Gozando de um prestígio por conta do seu segundo álbum, o IDLES tem figurado em lineups de grandes festivais, conseguindo espaço na mídia tradicional – como se apresentar no Later… With Jools Holland – e vem mostrando no palco que o rock ainda pode ser relevante e nos fazer pensar sobre as extensas jornadas de trabalho (“Mother”), a masculinidade frágil que não nos permite chorar (“Samaritans”), a nossa relação com o consumismo (“Love Song”) ou toda a questão envolvendo os imigrantes (“Danny Nedelko”), só para citar alguns temas abordados pela banda em suas músicas
Hoje, o quinteto de Bristol pode ser visto como uma banda que se faz necessária, seja pelas letras, pela qualidade instrumental, pela presença de palco ou só por ser um bando de caras andando por aí falando de amor e alegria, tocando de cueca e se beijando enquanto empunham suas guitarras ou esmurram a bateria sem qualquer tipo de firula.
Para quem acredita nessa balela de que o rock é algo que precisa ser salvo, o IDLES é a prova de que coisas boas, originais e relevantes ainda são feitas por aí.
Ouça o IDLES:
Se o clip de “COLOSSUS” ou a apresentação no Rockpalast não te convenceram, deixo os dois álbuns lançados pelo IDLES abaixo para você entender um pouco mais o que esse texto quer dizer.