Entrevista feita em parceria com Gabriel Marinho.
Em 2019 o Brasil irá receber duas das mais importantes bandas de Pós-Punk da atualidade: Virgin in Veil e Masquerade. Serão três shows inéditos em nosso país e nós conversamos com dois dos músicos idealizadores do projeto, trazendo esse papo incrível com exclusividade para os leitores do Audiograma.
Antes da entrevista, fizemos também uma ficha técnica através da qual é possível conhecê-los melhor.
# Ficha técnica:
# O que faço no Masquerade:
– Suzi Sabotage: Eu canto.
– Jacques Saph: Eu toco baixo.
# O que faço no Virgin in Veil:
– Jacques Saph: Também toco baixo e sou vocalista.
– Suzi Sabotage: Eu toco sintetizador e faço a segunda voz.
# O que sinto quando estou no palco:
– Suzi Sabotage: No meu elemento, uma rara sensação de pertencer.
– Jacques Saph: Estar no palco é um ótimo sentimento. É tipo um orgasmo.
# Um livro que você já leu mais de uma vez:
– Suzi Sabotage: Eu costumo ler todos tiposde livros que eu gosto mais de uma vez, mas eu poderia recomendar especialmente “Affinity” de Sarah Waters e “King Kong Theory”, escrito por Virginie Despentes.
– Jacques Saph: Eu não sou um grande fã de literatura, já que eu prefiro ter contato com certos tópicos selecionados do que ler livros de ficção, por exemplo. Mas eu já li “Les Nuits Fauves” mais de uma vez. Talvez três vezes. É um livro francês que foi lançado em 1992, e não acho que tenha sido traduzido.
# Um filme que mudou sua vida:
– Jacques Saph: Eu não acho que nenhum tenha mudado minha vida, mas meu filme favorito é com certeza o Taxi Driver.
– Suzi Sabotage: Eu não diria que mudou minha vida, , mas Repo! ! The Genetic Opera chegou perto disso.
# Se você só pudesse levar um CD para uma ilha deserta:
– Suzi Sabotage: Essa é pergunta bem difícil! Eu faria uma mixtape dos meus artistas favoritos em vez de pegar um único álbum.
– Jacques Saph: Sim, eu também! É muito difícil escolher um único álbum.
# Pra mim religião é:
– Suzi Sabotage: Algo repulsivo, pelo menos as religiões organizadas que são usadas como ferramentas de opressão. Eu não tenho nada contra a espiritualidade, no entanto.
– Jacques Saph: Religião e espiritualidade são assuntos extremamente interessantes para mim. Não tenho nada contra pessoas de fé, pois acredito que a fé é uma questão pessoal, mas desprezo muito as pessoas que usam a religião para intimidar os outros e forçá-los sob seu próprio sistema de crenças.
# Pra mim, a morte significa:
– Jacques Saph: Tirar uma soneca e nunca mais acordar.
– Suzi Sabotage: Fascinação e trepidação.
# Se eu pudesse tocar com um músico famoso, seria:
– Suzi Sabotage: Eu vou ser muito previsível aqui, mas Nina Hagen e Siouxsie Sioux. Edith Piaf, se ela ainda estivesse viva.
– Jacques Saph: Ele não era famoso, mas meu avô. Ele era um acordeonista e tocou em vários shows em Paris entre 1945 e 1955. E eu sinto falta dele.
# ENTREVISTA
1) Vocês poderiam comentar sobre as diferenças entre as bandas Virgin in Veil e Masquerade? Elas têm conceitos diferentes?
Suzi Sabotage: Sim, claro, é por isso que elas são duas entidades separadas. Ambas têm algo fora de comum e elementos artísticos semelhantes, mas talvez a Masquerade enfatize mais o último aspecto, ou seja, os elementos artísticos, enquanto que a Virgin in Veil é mais energia bruta.
Jacques Saph: E elas têm uma história completamente diferente. A Masquerade foi iniciada pela Suzi numa época em que eu ainda não morava na Finlândia, e a Virgin in Veil foi criada por mim em janeiro de 2015. Nós nunca pretendíamos ter os mesmos músicos nas duas bandas, aconteceu dessa forma desde que Suzi, William e eu nos aproximamos em 2014.
2) Gostaria de conhecer um pouco sobre os membros da banda. Quem são vocês fora dos palcos?
Suzi Sabotage: Eu não sou tão diferente, acho que a maneira em que ajo quando estou no palco não é como se eu estivesse agindo de maneira distinta ou mesmo exagerando nas atitudes e no meu jeito, é apenas uma forma de libertar o meu verdadeiro eu. No dia-a-dia, gosto de assistir séries e filmes, ler, estudar idiomas e temas variados como política e história, e relaxar em casa com o Jacques e nosso gato, o Valentino.
Jacques Saph: Eu não acho que eu seja diferente também. No meu tempo livre, gosto de ficar com meus entes queridos, e também tenho bastante interesse em linguagens de programação e em história.
3) Como surgiu a oportunidade de tocar no Brasil? Vocês estão ansiosos para conhecer o país? Eu sei que vocês já estudaram algumas palavras em português… É uma língua difícil pra vocês?
Suzi Sabotage: Depois de termos tocado no Japão, queríamos fazer outra viagem que fosse mais longe da Europa e o Brasil parecia ser o destino perfeito. Entramos em contato com nossos amigos da banda Poetisa Dissecada e eles nos ajudaram a encontrar promotores locais. Eles também tocarão conosco no Rio de Janeiro e no Decadance Festival. Estou muito emocionada porque vou tocar lá, e sim, estou aprendendo um pouco de português! A pronúncia é bastante singular, mas também não é muito difícil.
4) Conhecem músicas e bandas brasileiras?
Suzi Sabotage: Eu conheço alguns grupos punk e pós-punk, e adoraria encontrar mais.
Jacques Saph: Eu conheço uma dúzia de bandas pelo nome, mas musicalmente, Poetissa Dissecada é a única que eu conheço bem , já que acompanho a banda há alguns anos.
5) Existem muitas bandas undergrounds do mesmo gênero do Virgin in Veil e Masquerade. Mas vocês são famosos e já tocaram em muitos países do mundo. Por que acha que conseguiram tanto reconhecimento? O que torna vocês tão especiais?
Jacques Saph: Essa é uma pergunta difícil de responder. A Virgin in Veil sempre foi uma banda de deathtrock, um gênero que não é muito “moderno” na Europa, se comparado ao pós-punk, por exemplo. Hoje em dia, a maioria das bandas tem uma abordagem visual minimalista, enquanto ainda temos cabelo e maquiagem grandes. Nós também somos bastante esforçados, já que tocamos cerca de cinquenta concertos e lançamos três álbuns desde 2015.
Suzi Sabotage: Eu acho que essa pergunta seria melhor respondida pelas pessoas que gostam e apoiam nossa música, porque o que vem a nós, nós apenas nos expressamos da maneira que nos parece certa. Promovemos nossa música ao máximo de nossas capacidades, mas nunca a comprometemos ou alteramos para vender mais discos, o que também se aplica às nossas personalidades e atitudes. Se as pessoas gostarem, fico feliz, e se não, isso não mudar nada. Em geral, acho que a chave para qualquer sucesso é dedicação.
6) Quais são as principais inspirações de vocês? Não só musical, mas quais livros e filmes vocês gostam?
Suzi Sabotage: Eu me inspiro muito no desânimo que sinto em relação ao mundo que me rodeia. Em todas as coisas atrozes acontecendo ao nosso redor e no sentimento de desconexão dos outros.
Jacques Saph: Minha própria mente distorcida, assim como experiências de vida de pessoas que conheço.
7) Qual é o significado das imagens sexuais das capas dos álbuns “Twisted Thrills”, “The Glory Hole”? Por que escolheram essas imagens e o que elas representam pra vocês?
Suzi Sabotage: Em nossas sociedades, por alguma razão estranha, a sexualidade e o corpo humano ainda são um tabu, enquanto a violência e o ódio são simplesmente aceitos como um fato da vida. Você vê partidos de extrema-direita vomitando seu veneno em todos os lugares, sem censura, o que leva ao terrorismo e crimes de ódio, mas um par de mamilos femininos ou uma foto representando sexo consensual ainda são as coisas mais absurdas que as pessoas podem pensar e DEVEM ser removidas dos olhos do público. Queríamos usar essa imagem para fazer uma declaração contra essa hipocrisia.
8) Gostaria que vocês comentassem sobre os nomes das duas bandas. O que eles simbolizam?
Jacques Saph: “Virgin In Veil” simboliza o sagrado e o profanado.
Suzi Sabotage: “Masquerade”, como você sabe, é outra palavra para um baile de máscaras ou uma festa. Eu li em algum lugar uma citação que diz: “Nós usamos máscaras para revelar nosso verdadeiro eu” – e isso é um fato, pelo menos no meu caso, porque eu uso minha maquiagem drástica como uma espécie de máscara que me permite ser “o meu eu real “, do jeito que me sinto por dentro, e assim ser eu mesma numa medida maior.
9) As duas bandas são antinazistas. Ontem eu li um artigo que dizia que os movimentos neo-nazistas estão crescendo cada vez mais, especialmente na Europa . Por que vocês acham que isso está acontecendo? Há algo que possamos fazer para impedir que isso aconteça?
Suzi Sabotage: Não só na Europa, está em toda parte. Nos dias de hoje, os Estados Unidos são um bom exemplo e também a América do Sul está experimentando um enorme aumento da política de extrema-direita. Eu acho que é porque os partidos de extrema-direita são manipuladores mestres do medo das pessoas de qualquer coisa desconhecida, e eles usam qualquer coisa negativa sobre a imigração, por exemplo, que eles possam colocar suas mãos como sua arma política para “fechar as fronteiras” para sempre. Eles prometem um falso senso de unidade para, digamos, na Finlândia para a população finlandesa, mas na verdade são os que mais cortam o financiamento das escola, de assistência social, saúde, etc. Eles dizem que parar a imigração é uma bala de prata que vai acabar com todos os nossos problemas e as pessoas são ingênuas o suficiente para acreditar nisso. Por que nas maiores cidades o apoio dos partidos de extrema-direita é o mais baixo e nas áreas rurais é mais forte? Porque as maiores cidades têm a atmosfera mais internacional com a maioria dos migrantes, e as pessoas podem ver que não há nada a temer e que somos todos seres humanos com vastas semelhanças. Medo e ignorância geram ódio. Dê uma olhada no Reino Unido em sua confusão Brexit e os Estados Unidos que agora está polarizado e dividido ao máximo por causa de seu atual presidente – é aquilo o Shangri-La que os partidos de direita e políticos prometeram “suas” pessoas?
Jacques Saph: Eu cresci na França, ouvindo meus queridos avós me contando sobre os horrores da ocupação nazista da França. Eu não considero a Virgin in Veil uma banda política, já que a maioria das músicas não fala sobre política, mas para mim, a oposição da extrema-direita não é política, é apenas senso comum.
10) Vocês estão cientes da atual situação política do Brasil?
Suzi Sabotage: Sim, eu sou, e isso me entristece e me enfurece.
Jacques Saph: Estamos vivendo tempos muito tristes, com a extrema-direita subindo quase em toda parte. Me deixa muito triste ver que nossa espécie não consegue viver em paz, ao contrário de muitos outros animais.
11) Qual foi o momento mais especial e inesquecível de vocês?
Jacques Saph: É um todo. Tanto o bem como o mal nos fizeram o que somos hoje, então vamos abraçá-lo.
12) O que significa ser “underground”? Vocês acreditam que bandas undergrounds podem fazer sucesso?
Suzi Sabotage: É relativo. Repare que muitas bandas oitentistas desses gêneros, não eram exatamente underground, e apareciam nos principais canais de TV, rádio e paradas, e poucas pessoas, pelo menos contemporâneas, diriam que “elas foram longe demais” e que aquelas nos movimentos undergrounds devem parar de ouvi-los. Nós mesmos somos muito inclusivos, o que reflete em nosso público. Não importa como você se classifica, se você gosta de nossa música, você pode vir como você é. Em relação ao sucesso eu considero o lema: “o que será, será, seja o que for, será“, exceto que nunca comprometeríamos nossa visão artística e liberdade para ganhar mais audiência.
13) Existem bastante banda e projetos undergrounds no país de vocês?
Suzi Sabotage: Há muitas bandas punks por aqui, com certeza, mas infelizmente não há muitos grupos de pós-punk/death rock.
14) Vocês trabalham inspirados no D.I.Y?
Suzi Sabotage: Nós mesmos fazemos praticamente tudo! Dessa forma, podemos manter o controle total do que entregamos. Ao menos compondo, organizando, fazendo a mixagem final, masterizando, gerenciando uma parte importante da promoção, fazendo a edição de vídeo, e o design visual que fazemos por conta própria – você também aprende muitas novas habilidades quando você faz isso tudo sozinho e não simplesmente terceiriza.
Jacques Saph: DIY é ótimo. É muito divertido criar coisas, não apenas no que diz respeito à música, mas também em relação aos nossos sites, capas de CD, etc. Os vídeos de música da Virgin in Veil, por exemplo, foram filmados com uma câmera digital básica e editados no meu próprio computador. Nós nunca gastamos um euro neles. Eles definitivamente não são os vídeos musicais mais profissionais, mesmo na cena gótica, mas são 100% reais, 100% nós mesmos.
15) Vocês se consideram góticos? O que significa essa palavra?
Jacques Saph: Tudo depende da sua definição da palavra “gótico”. Uma coisa é certa: eu amo música gótica. Mas eu realmente não sinto a necessidade de me rotular… em qualquer caso, mesmo em uma subcultura como gótico ou punk, eu ainda me sinto como uma pessoa distante de rótulos. Mas estou tranquilo com relação a esse termo, mesmo se disseram que somos “deathrockers” e “punks”.
Suzi Sabotage: Eu sou eu acima de tudo, e embora muito da minha personalidade/aparência possa ser rotulado de “gótico” ou “punk”, eu também ouço muitos outros gêneros e coisas de amor que são, por alguns, considerados, digamos, “não gótico “ou” não punk “. De qualquer maneira, eu não dou a mínima se na opinião de alguém eu não sou gótica ou punk o suficiente, porque quem são eles para ditar o que essas subculturas deveriam ser, afinal? É importante ser quem você é e não se forçar a se tornar um estereótipo ou distorcer sua personalidade para que os outros na cena aceitem você.
16) Poderiam nos contar sobre quando vocês participaram de um programa de TV finlandês?
Suzi Sabotage: Fomos contatados um dia ou dois antes de nosso show no “On the Rocks”, em Helsinki pela equipe do YLE que queria fazer uma reportagem sobre nós e também sobre o pós-punk que estava se adquirando maior popularidade. No começo eu pensei que poderia ser uma farsa, já que nós não tínhamos lançado nenhuma música ainda e tivemos apenas uma certa quantia de shows, mas eu dei a eles “sinal verde” e eles apareceram no dia e é claro que eu fiquei emocionada em ver obter essa exposição.
Jacques Saph: E a segunda vez que o Masquerade foi na TV, eu fui visto por 90 segundos. 60 segundos disso era beber vinho ou fumar. Foi divertido.
17) Que tipo de efeito estético vocês acham que a música das bandas causam nas pessoas?
Suzi Sabotage: Espero que isso os inspire de inúmeras formas e os faça pensar, sentir e “ver” a música com os olhos, em vez de apenas ouvi-la. Sempre que eu canto uma das músicas do Masquerade no palco eu tenho um curta-metragem passando na minha cabeça, eu não tenho ideia e não me importo com quais acordes ou notas são tocados, mas eu posso visualizar a música e a história da música na minha cabeça como se eu estivesse assistindo tudo numa tela.
18) Há algo que gostaria de expressar?
Suzi Sabotage: Estou extremamente ansiosa para nossos shows no Brasil! Junho e Julho precisam chegar logo. Lembre-se de seguir as nossas páginas no Facebook – https://facebook.com/masqueradepunk e https://facebook.com/virgininveil – para não perder nenhuma novidade!
Jacques Saph: Até breve, Brasil! Nós mal podemos esperar para compartilhar nossa música com vocês. Muito obrigado por todo amor e apoio!
As duas bandas se apresentam no Brasil entre junho e julho no Rio de Janeiro, dentro do festival Rock Experience; em São Paulo, no Club Madame; e em Araras (SP), no Decadance Festival.
Veja a agenda e clique nos links para mais informações:
- 28 de junho: Rock Experience @ Rio de Janeiro
- 06 de julho: Decadance Festival @ Araras (SP)
- 07 de julho: Club Madame @ São Paulo.
Você encontra mais informações sobre as bandas Virgin In Veil e Masquerade em seus sites oficiais.