Não sei se já deixei isso registrado por algum canto deste site, mas bandas e artistas com nomes diferentes sempre me chamaram a atenção. Agora some a isso várias indicações, algumas músicas ouvidas aleatoriamente por aí e a falta de oportunidade – motivos de força maior – para conferir ao vivo essa banda natural de Belo Horizonte e responsável por uma mistura de inúmeros gêneros, instrumentos e de intensa qualidade.
Durante muito tempo essa foi a minha relação com a Graveola e o Lixo Polifônico, até que o destino resolveu pregar uma peça e me colocar em rota de colisão com a banda em Tiradentes, dias antes do meu embarque para a cidade onde fui conferir um pouco de sua Mostra de Cinema. Antes de sair de BH, fiz a promessa de que nada ficaria entre eu e a banda dessa vez. Na noite do show, acabei cumprindo essa promessa literalmente ao pé da letra e me posicionando estrategicamente na boca do palco.
Bem na minha frente – e na de muitas outras pessoas que lotaram o local de shows – estava essa mistura de samba, rock, jazz, tango, MPB, boas letras e músicos de intensa qualidade e criatividade. De fato, o que a banda faz é impossível de rotular, mas é fácil de ouvir e principalmente gostar. Ao meu lado, a empolgação dos fãs que cantaram e dançaram todas as músicas entrava em contraste com um senhor de uns 70 anos que, assim como eu, estava bem na frente do palco e via a banda de perto pela primeira vez.
De 2004 pra cá, muitos foram os que tentaram descrever a Graveola e o seu tipo de trabalho, seja pelos seus álbuns ou pela forma como se apresentam no palco. Como eles mesmo se definem, o projeto “é uma oficina de experimentação, uma caixa de possibilidades poético-sonoras”. Talvez por ser uma oficina de experimentação, a banda não tem um posicionamento fixo. A rotatividade dos músicos pelos instrumentos chama a atenção e, mais do que isso, a formação da banda em cima do palco acaba se alterando conforme o show. Em Tiradentes estavam no palco Flora Lopes, Luiz Gabriel, José Luis, Yuri Vellasco, Bruno de Oliveira e Juliana Perdigão.
Com dois discos lançados, mais de 10 mil downloads em seu site oficial, uma agenda que passa por grandes festivais independentes e fãs espalhados pelo Brasil a fora, talvez eu e aquele senhor que citei anteriormente fossemos a exceção a regra dentro da Tenda Show.
De fato, éramos os únicos que não dançavam, não descreviamos o que se via e não fomos “regidos” pela dupla José Luis e Luiz Gabriel, responsáveis pelos vocais em grande parte das músicas. Apesar disso, acredito que aquele senhor saiu do local com a sensação de ter visto algo instigante e que superou totalmente as suas expectativas, da mesma forma que aconteceu comigo.
Como seus próprios integrantes afirmam, a Graveola e o Lixo Polifônico “é um exemplo de trabalho coletivo e colaborativo que contribui para moldar, de alguma forma, as novas formas de se fazer música e de viver música.” Talvez só essa frase já seja mais do que suficiente para você conferir um pouco do que a banda faz de bom.
E, se for ao vivo, melhor ainda.
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Fotos: Polly Rodrigues.