Eu fui ao show do Ed Sheeran com a minha vó. Ela se chama Walkiria, tem 73 anos e é muito fã dele. Sério mesmo. Fui por causa dela, e foi incrível ver minha avó no estádio, cheia de energia e felicidade, sorrindo, chorando, pulando, dançando, cantando, gritando “lindooo!”, e fazendo amizade com tietes adolescentes histéricas. Ela ouvia Ed Sheeran no rádio (afinal, ele é praticamente onipresente em todas as estações FM) e, como meu primo é fã, sempre que andavam de carro escutavam Ed Sheeran juntos. Foi o suficiente para ela se apaixonar.
O ruivo fez dois shows esgotados em São Paulo, no Allianz Parque (também conhecido como o estádio do Palmeiras), nos dias 13 e 14 de fevereiro. Nós fomos no show do dia 14 e, realmente, o lugar estava completamente lotado, mas não houve nenhum tipo de confusão. O público, formado majoritariamente por mulheres e meninas adolescentes, era super tranquilo e amistoso. O próprio cantor brincou com essa grande diferença de gênero na plateia, ainda mais porque o show caiu no Dia de São Valentim (Valentine’s Day), que para os gringos é o dia dos namorados. Repetindo quase o mesmo discurso do primeiro show na cidade, Ed disse: “98% das pessoas aqui são meus fãs, vão dançar e saber cantar todas as letras. Mas tem aqueles 2% que não se empolgam muito… geralmente, 1% são namorados, e hoje deve ter ainda mais porque é dia de São Valentim, né? O outro 1% costumam ser pais. Ah, os superpais! Que trazem suas filhas para ver o show, ficam de cara meio amarrada, mas fazem todo esse esforço por amor! E isso é demais, é lindo. Mas vamos lá, gente, se vocês se esforçarem, tenho certeza de que vão curtir o show também”. Olha, eu até me identifiquei com os 2%, não sou a maior fã de Ed Sheeran, mas gosto de várias músicas dele, amei o show e fiquei realmente impressionada com sua performance ao vivo.
Nas palavras da vovó: “Achei maravilhoso, uma produção impecável. Ele é maravilhoso. Sozinho, só com seu violão e pedal de loop, fez todo mundo cantar e vibrar. Pena que vai demorar para voltar. Mas na próxima com certeza estarei lá!”. Sim, gente, minha avó sabe o que é um pedal de loop – ela é demais, super moderninha, e o neto que fez com que ela virasse tão fã de Ed Sheeran também é músico e tem um pedal desse, daí a familiaridade. E de fato ela resumiu muito bem o que foi essa apresentação: não tem como não se surpreender com um só homem no palco dando conta de entreter um estádio lotado, sozinho. O show tem muitos telões, iluminação, efeitos visuais. Mas, sonoramente, é muito simples. E Ed faz bonito. Não deixou nenhum hit de fora, se mostrou muito simpático e conversou bastante com a plateia – o que não é fácil para um inglês, se emocionou, vestiu a camisa da seleção brasileira de futebol no bis… ele faz de tudo para agradar, além de mostrar seu inegável talento.
Simpatia e prosa
No meio do show, Ed contou que no dia 17 completaria 28 anos e contou alguns causos, que a plateia amou, como a história da canção “Love Yourself”, que virou um sucesso estrondoso do Justin Bieber, mas foi feita por…ele mesmo, Edinho!
“Eu escrevo muitas músicas. Muitas mesmo. E a maioria delas acabo não usando, não gravo. Eu fiz mais de 100 músicas para o meu primeiro disco, e no final só 17 delas entraram no álbum! Essa música que eu vou tocar agora eu fiz e deixei largada no meu computador. Achava boa, mas não queria cantar. Aí dei de presente para um amigo e virou um mega hit! E hoje vou cantar para vocês”, disse ele, sem mencionar o nome da canção, mas depois que começou a tocar o estádio veio abaixo e a plateia cantava tão alto que encobria a voz de Sheeran, que nem aqueles shows malucos dos Beatles cheios de groupies nos anos 60.
Ele também falou que o público latino-americano era o mais barulhento que já tinha visto, e que só começou a usar ponto e retorno no palco quando passou a fazer shows aqui. “A plateia brasileira é a mais doida! A que mais dança, grita, canta e bate palmas. E cada vez que eu venho para cá a plateia aumenta – e o volume também”, elogiou. Ed também contou que sua música preferida do repertório é “Tenerife Sea” (curiosamente, não é um de seus grandes sucessos) e terminou o show empunhando a bandeira gay e a bandeira do Brasil.
O show de abertura também foi mara, mas ninguém falou dele!
Acompanhando a cobertura da grande mídia sobre os últimos shows de Ed Sheeran no Brasil, fiquei muito desapontada: nenhum jornalista falou do show de abertura, o que é uma grande injustiça! Afinal, o show do Passenger (que na verdade se chama Mike) foi impecável, tão impressionante quanto o de Ed. Eles têm muito em comum: os dois são ingleses, se apresentam sozinhos com um violão e um pedal de loop, fazem um pop-folk e, contrariando as estatísticas de seu país de origem, conversam bastante com a plateia. Passenger só tem um hit de sucesso, sabe disso e tira onda. Ele começou a se apresentar dizendo: “Oi, eu sou o Passenger, e só tenho um hit. Então hoje eu vou tocar essa música sete vezes, tá?”. O hit, no caso, é a canção “Let Her Go”, que você com certeza já ouviu, mesmo que não pareça familiar:
Mike parecia realmente impressionado com a reação do público, que cantou junto a música fervorosamente. Ele quase chorou! “Nossa, cara, isso é incrível. Nunca achei que ia ser famoso. Eu tocava na rua e em pubs para uma plateia de 15 pessoas. E olhe para mim agora! Jamais imaginei que faria turnês, que tocaria em estádios, que faria shows tão longe de casa, em outros países. Mas foi essa música que mudou a minha vida, esse hit. Quando eu escrevi, não sabia que tanta gente ia gostar dela. Muito obrigado por cantarem junto comigo”.
Passenger também fez um ótimo cover do clássico “The Sound of Silence”, de Simon & Garfunkel (vovó adorou, e disse que era do tempo dela). Em um mar de luzinhas, ele disse: “Isso é lindo, mas eu nunca vi tanto IPhone na minha vida”. Mike é assim, debochado, brincalhão e simpático, mas suas músicas, apesar de parecerem calminhas, têm sempre um trecho emocionante e intenso e, apesar de ele parecer fofinho, não se engane. Muitas de suas letras são extremamente contestadoras, como “I Hate”, que soa alegre e tem um refrão chiclete que todo mundo canta junto, mas ao mesmo tempo em que traz piadas fala de racismo, uso de drogas, padrões de beleza impossíveis, relações em tempos de internet e redes sociais, discurso de ódio e distúrbios mentais e alimentares.
O show dele vale muito a pena e, para nossa sorte, depois da turnê com Ed Sheeran, Passenger volta ao Brasil para uma apresentação única no Cine Joia, em São Paulo, no dia 10 de março. Não perca!