Ao longo dos últimos anos, cheguei a conclusão de que o Weezer mergulhou de cabeça em um mundo onde não se levar muito a sério virou regra. Ainda que não consiga determinar exatamente quando – já que a banda utiliza do bom humor desde sempre -, penso que essa veia se tornou mais presente entre o Make Believe (2005) e o The Red Album (2008).
Desse período para cá, o quarteto já fez de tudo um pouco, incluindo boas músicas, mas o que tem ficado marcado na cabeça dos fãs é esse lado meio galhofa de ser, graças a clipes engraçados ou músicas que pegam emprestado o pop chiclete emulado por outras bandas.
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A maior prova de tudo isso ganhou o mundo na última semana com o lançamento do The Teal Album, o registro de covers que deixou uma parcela dos fãs apaixonados e a outra querendo desistir da banda de vez.
Toda essa história começou em um belo dia, quando Rivers Cuomo e companhia acordaram e deram de cara com uma campanha pedindo para que o Weezer fizesse uma versão de “Africa”. A banda resolveu atender o pedido mas, antes, tratou de tirar sarro de todo mundo ao lançar um cover do TOTO, mas de “Rosanna”.
Pouco tempo depois veio o cover tão pedido e isso, provavelmente, abriu um mundo novo – e ainda mais divertido – na cabeça do grupo. É por isso que chegamos ao The Teal Album.
O décimo segundo registro de estúdio da banda foi lançado totalmente de surpresa na última semana e conta com dez covers, sendo nove deles inéditos. Além de “Africa”, a banda foi para o estúdio gravar músicas de Michael Jackson, Black Sabbath, Tears For Fears e TLC, num clima de diversão e despreocupação, como não poderia deixar de ser.
A palhaçada já começa pela capa, onde damos de cara com a banda emulando um visual Miami Vice com o Choque de Cultura usando traje de gala para uma cerimônia do Oscar. Ao longo das dez faixas, não tem roupagem diferente ou invenções mirabolantes em cima das músicas, é só o Weezer sendo uma daquelas bandas tradicionais de baile bem competentes e objetivas, que fazem o simples com qualidade e garantem os elogios daquela pessoa que bebeu demais no final da festa. É impossível não levantar o copo para cima e cantarolar junto com “Everybody Wants To Rule The World”, “Sweet Dreams (Are Made Of This)” ou “Take On Me” e, por mais que muita gente tenha sentido falta do “jeito Weezer” nelas, essa parece ter sido a intenção da brincadeira. Inclusive, a versão para a música do A-Ha nos brinda com Rivers Cuomo emulando até os falsetes do Morten Harket e sem fazer feio, mostrando que conseguiria nota máxima em qualquer karaokê por aí.
As grandes surpresas no entanto ficam por conta de “Paranoid”, cantada pelo baterista Patrick Wilson – que também produziu o álbum -, “No Scrubs”, aquela canção maravilhosa do TLC, e a clássica “Happy Together”. As três músicas são por si só imponentes e o Weezer conseguiu dar um pouco da sua cara recente nelas. É quase como se a banda tivesse dado uma ensolarada nas três faixas, mas nada que comprometa a divertida experiência. Se a Rozonda “Chilli” Thomas do TLC aprovou tudo isso, quem somos nós para discordar, não é mesmo?
O The Teal Album cumpre aquilo que se propõe: foi feito para divertir o público geral, chamar a atenção para a banda e, principalmente, ser algo totalmente despretensioso. Desde o início dos anos 2000 que a banda flerta com a palhaçada e, pra muitos, sair de um pedido de um fã adolescente no Twitter e chegar em um álbum completo é como se a banda tivesse ido longe demais. No fim, é só um grupo de amigos se divertindo, tocando faixas que, provavelmente, eles cresceram ouvindo e ainda pavimentando o território para o seu próximo registro, o The Black Album, que vai sair em março.
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Sabe aquela brincadeira com um fundo de estratégia comercial? Além de te convidar para um grande karaokê, o Weezer sabe que o The Teal Album é capaz de viralizar. Só “Africa” rendeu mais de 24 milhões de execuções para a banda no Spotify e a colocou novamente no HOT 100 da Billboard (na 51ª posição) e no topo da parada alternativa de singles, coisas que não aconteciam desde “Perfect Situation” (2005) e “Pork and Beans” (2008), respectivamente. Se algo parecido vai acontecer com as novas versões a gente não sabe mas, ainda que as músicas escolhidas já tenham ganhado diversos covers ao longo dos anos, não dá pra negar que o álbum tem potencial para isso.
Enquanto o The Black Album não chega, você pode escolher entre ouvir os novos singles “Can’t Knock the Hustle” e “Zombie Bastards” ou cantar junto com Rivers Cuomo num karaokê ouvindo o The Teal Album. Por enquanto, ainda que a primeira música tenha ficado na minha cabeça quando foi lançada, eu resolvi ficar com a segunda opção.
Weezer – Weezer (The Teal Album)
Lançamento: 24 de janeiro de 2019
Gravadora: Atlantic/Crush
Gênero: Alternative Rock/Pop Rock/Synth-pop
Produção: Patrick Wilson
01. Africa (Toto)
02. Everybody Wants to Rule the World (Tears for Fears)
03. Sweet Dreams (Are Made of This) (Eurythmics)
04. Take On Me (A-ha)
05. Happy Together (The Turtles)
06. Paranoid (Black Sabbath)
07. Mr. Blue Sky (Electric Light Orchestra)
08. No Scrubs (TLC)
09. Billie Jean (Michael Jackson)
10. Stand By Me (Ben. E. King)