Sexta-feira 13 de abril foi dia de riscar um dos principais artistas nacionais da minha lista de desejos. Posso dizer que perdi minha virgindade de Zé Ramalho com muito amor no coração.
O mais incrível de presenciar uma lenda viva da música é ser surpreendido ao se pegar cantando não apenas os principais sucessos, aqueles que tocaram nas novelas e nas rádios FM antes delas sofrerem lavagem cerebral com os batidões cariocas.
Me senti como um autêntico fã cantando cada verso, deixando os olhos fechados em muitos momentos para apenas sentir a energia ao meu redor acompanhado de um copo de cerveja como única companhia.
Nos momentos em que me permiti observar as pessoas ao redor, notei momentos curiosos. Existiam os bombadinhos incapazes de conseguir fechar os braços fazendo um arrasta pé com a namoradas, tinham os casais apaixonados dançando coladinho e fazendo juras de amor (ou de uma noite tórrida de sexo selvagem na altura que a idade permite), e gente que simplesmente cantava as músicas.
Foi engraçado ver o KM de Vantagens Hall cheio, ainda que as mesas tenham ocupado um espaço excessivo e que a apresentação dispensasse mesas. Engraçado porque há poucas semanas, no show do David Byrne, o local estava praticamente deserto. E aí você começa a questionar o público de shows na capital mineira…
O repertório muito bem selecionado não poupou grandes clássicos. Ramalho tinha total poder do seu público e ao contrário de artistas que se movem o tempo inteiro, preferiu ficar estático num único ponto. Sua banda repetiu a mesma atitude, o que pra mim é um tanto esquisito. Como é que tocam músicas tão deliciosas e mal balançam o ombrinho com carinha de quem está gostando demais? Idade? Maturidade?
Tanto faz. Não faz a menor diferença quando se pensa na qualidade do material, arranjos de sopro, e experiência dos artistas. Uma pena que a acústica tenha prejudicado a experiência sonora completa.
Nos destaques da apresentação destaco “Tá Tudo Mudando”, versão de “Things Have Changed”, de Bob Dylan, que provavelmente entra fácil numa possível lista de melhores releituras da obra de Dylan; as homenagens a Raul Seixas; e, claro, o momento que canta a sensação que muito apaixonado por show sente quando as luzes se acendem e todo mundo caminha lentamente para voltar pra casa em “Admirável Gado Novo”.
Zé Ramalho é um artista obrigatório para se assistir ao vivo e uma das lendas da música brasileira.