Era setembro de 2010 quando Lady Gaga anunciou no VMA que o seu novo álbum estava a caminho. Born This Way fora inspirado por suas experiências durante a turnê mundial The Monster Ball Tour e o seu relacionamento com os fãs, sua visão filosófica sobre a vida e seu lado espiritual foram prioridades temáticas do álbum que falava sobre aceitação, amor, igualdade e carregava um tom irônico e politizado em meio a toda agressividade transgressora das canções synthpop.
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Para produzir o rebelde, empático e libertador álbum, Gaga convocou RedOne, DJ White Shadow, Jeppe Laursen, DJ Snake, Mutt Lange e os lendários Brian May (Queen) e Clarence Clemons (E Street Band), além do produtor majoritário, responsável pela identidade oitentista do álbum, Fernando Garibay. Para os visuais da nova etapa, Gaga colaborou com Nick Knight e posteriormente com o casal de fotógrafos holandeses, Inez & Vinoodh.
Não necessitando citar a trajetória comercial do álbum, que lhe rendeu muitas conquistas, BTW – como é abreviado pelo público – teve 5 singles, sendo eles; A canção homônima ao álbum servindo como lead, a polêmica “Judas” como 2º single, “The Edge Of Glory” como 3º, “Yoü & I’ como 4° e “Marry The Night” como o derradeiro single do álbum. Born This Way foi responsável por apresentar ao mundo outro lado de Lady Gaga e, de uma vez por todas, empregar a sua voz importância política, mesmo que desde os primórdios de sua carreira, a cantora tenha demonstrado apoio às minorias, tendo inclusive assumido publicamente sua bissexualidade.
Um álbum espiritualizado, carregado pela energia rock n’roll, que hora soava como Depeche Mode e de repente como o dance-gospel dos anos 90. Gaga soube conciliar seu desejo artístico as demandas da indústria que, em 2011, foi movida por músicas como “Till The World Ends”, “Last Friday Night” e “Party Rock Anthem”, e criar um álbum de êxito mesmo que distinto de todas as outras grandes produções daquele ano; explorando clichês de autoaceitação e tabus fora do senso comum em um momento dominado por hinos de festa, foi uma estratégia bastante arriscada mas bem sucedida, algo que apenas Madonna conseguiu fazer em 1998 com o místico Ray Of Light, numa época inundada pela febre teen de estreia de ex-estrelas da Disney e o R&B lowbrow que parecia ser reciclado de forma contínua. Born This Way foi, acima de tudo, a primeira reinvenção temática da artista; levando em conta que The Fame e The Fame Monster abordavam tópicos gerais como amor, sexo e drogas sob diferentes ângulos de um mesmo ponto; a fama.
Em Abril de 2012, Gaga deu início a sua terceira turnê mundial, a Born This Way Ball Tour, que passou pelo Brasil em Novembro através da gigante do entretenimento Time For Fun. Sua visita ao país incluiu o roteiro tradicional de turnês internacionais; Rio de Janeiro e São Paulo, além de um show adicionado posteriormente em Porto Alegre. Entre os highlights de sua passagem pelo Brasil, estão momentos memoráveis como a ida da cantora ao Morro do Cantagalo, a primeira apresentação ao vivo de “Cake”, o estranhamento e fascínio da cantora por Caju (Sim, a fruta!), o vídeo gravado por Terry Richardson, as diversas vezes que Gaga improvisou o português e mandou um “Oi Galera!” para o público, e claro, a tatuagem que a cantora fez em sua cabeça em homenagem ao primeiro show no Brasil, que aconteceu dia 09 de Novembro no Rio de Janeiro.
Naquela época, embora ainda estivesse enfrentando o fracasso comercial de seu último single, “Marry The Night”, a cantora vivia seu definitivo apogeu; sua turnê mundial esgotada, sua primeira fragrância fora sucesso absoluto em vendas e, de fato, não existia nome que pudesse ser comparado a Lady Gaga em 2012. Consciente disso, a cantora chegou até mesmo a escrever versos de ostentação sob uma base hip-hop/trap feita pelo seu produtor DJWS, divulgada independentemente sob o título de “Cake”.
Nessa época Gaga chegou a causar mais polêmica que o usual quando fumou maconha durante um show na Holanda, tal fato virou mais uma vez o olhar de toda a mídia mundial para ela, mas dessa vez, de forma negativa e assim se iniciou um fenômeno que pouco mais tarde arruinaria o mais ambicioso e inovador projeto da cantora; o álbum ARTPOP. A mesma mídia que a colocou no topo no início de sua carreira, começava sutilmente a degradar a imagem da cantora.
Em 2012, Gaga trabalhava incessantemente em ARTPOP, o álbum com a produção de DJWS, Zedd, Madeon, Rick Rubin, David Guetta, will.i.am e da própria cantora seria lançado no primeiro semestre de 2013, porém, o cancelamento dos shows finais da turnê devido a uma fratura na bacia fez com que toda a mágica daquele ano fosse por água abaixo.