O segundo dia de São Paulo Trip começou já com a expectativa no topo. Após os excelentes shows do primeiro dia, era difícil esperar pouco do sábado, ainda que as atrações fossem o sempre interessante The Kills e o Bon Jovi.
Antes do horário previsto, o duo formado pela norte-americana Alison “VV” Mosshart e pelo britânico Jamie “Hotel” Hince subiu ao palco do Allianz Parque para lidar com um público que não lhe era comum e isso já se desenhava ser uma tarefa ingrata desde o começo.
Poucas eram as pessoas que estavam ali pelas duas atrações. No máximo, Alison e Jamie causaram curiosidade em quem não conhecia o Garage Rock do The Kills. No entanto, a banda não pareceu se importar muito com esse ~problema~ e encarou a apresentação da melhor forma possível.
Em pouco mais de uma hora, a banda compensou as questões que atrapalharam um pouco a sua passagem pelo Rock In Rio (Alison estava doente) e entregou um repertório interessante e que se assemelhou aos shows anteriores no país – a banda passou também por Porto Alegre.
Ao longo da apresentação, faixas como “Heart of a Dog”, “Black Balloon” e “Echo Home” empolgaram os fãs enquanto cada um deles era alvo de olhares de quem só queria ouvir “Livin’ On A Prayer”. No final, um medley com “Pots and Pans” e “Monkey 23” colocou ponto final na curta, mas interessante apresentação do duo, que merecia uma plateia um pouco mais receptiva.
Para quem queria ver só o show de fundo (ou o principal) da noite, a espera não foi longa. Por volta das 21:20, uma bela abertura mesclando imagens da cidade de São Paulo com o tema que dá nome ao mais recente álbum da banda, This House Is Not For Sale, anunciavam que o Bon Jovi estava chegando.
Com a faixa que dá nome ao disco, o agora quinteto subiu ao palco para uma platéia que já estava ganha antes mesmo do show começar. Ainda que fosse mais um show da turnê do novo álbum, é interessante notar que a banda sabe que a sua força reside nos clássicos. Em um setlist de 22 faixas, apenas três delas – as outras foram “Knockout” e “New Year’s Day” – faziam parte do novo trabalho. Por outro lado, quase a metade delas estava concentrada nos álbuns Keep The Faith, Slippery When Wet e New Jersey.
Essa escolha pelo material antigo se explica ao longo da apresentação. Exceto a euforia inicial com “This House Is Not For Sale”, as demais músicas do disco foram momentos em que o público deu uma esfriada, se permitiu abrir o Whatsapp, comprar uma bebida ou pensar em quais faixas poderiam ser tocadas no lugar.
O que as mais de 40 mil pessoas queriam era os clássicos e eles estavam lá: “You Give Love a Bad Name”, “Lay Your Hands On Me”, “Someday I’ll Be Saturday Night”, “Wanted Dead or Alive”, “Bad Medicine” e “Keep the Faith” fizeram a alegria do público que ainda pode ouvir sucessos mais recentes como “It’s My Life” ou “Have a Nice Day”.
Aos 55 anos, é inegável que Jon ainda tem um carisma que poucos nomes da música conseguem carregar. Do início ao fim, cada aparição no telão era digna de suspiros e gritos apaixonados vindos do público – formado em sua grande maioria por mulheres, que foram representadas por uma delas, escolhida por Bon Jovi para subir ao palco durante a clássica “Bed of Roses”.
Por outro lado, é interessante ver como a voz de Jon mudou. Ele já não consegue manter as mesmas notas de antes e isso se reflete no novo andamento vocal que ele dá aos clássicos. Em muitos momentos, a sua voz “sumia” em meio a explosão do público ou no excesso de backing vocals, que se alternavam entre os cinco que o acompanhavam no palco.
Aliás, outro ponto interessante é com relação a banda. Desde a saída oficial de Richie Sambora, o Bon Jovi assinou a carteira do baixista Hugh McDonald (que tocava com a banda desde 1994) e ganhou um novo guitarrista, Phil X. Além deles, a banda conta também com dois músicos de turnê: o percussionista Everett Bradley e um segundo guitarrista, John Shanks. Ainda que a banda tenha dado a cara a tapa e continuado seu curso, em muitos momentos nota-se a falta que Sambora faz no palco, principalmente em solos e participações que eram marcantes do guitarrista nos anos em que esteve presente.
Ao fim de mais uma passagem pela capital paulista, duas surpresas: as sempre pedidas “Always” e “These Days” entraram no setlist. Entre elas, a tão aguardada “Livin’ on a Prayer” e a sensação de que, ainda que as músicas novas não agradem, o Bon Jovi é capaz de entregar um bom show ao público.