Faltou música? Faltou. Deixou de ser inesquecível? Nem fodendo. Com quase 50 anos de atividade, era de se esperar que os norte-americanos do Aerosmith dispensassem alguns de seus principais sucessos ao longo do belo repertório que trouxeram para a abertura da turnê brasileira nessa segunda-feira, 18 de setembro, em Belo Horizonte.
Em sua 1º visita à capital mineira, a trupe de Boston fez uma apresentação que pode ter causado sensações diferentes nas mais de 20 mil pessoas presentes na Esplanada do Mineirão. Os fãs de longa data devem ter saído de alma lavada, especialmente aqueles que perderam as seis oportunidades anteriores de conferir um show da banda no Brasil. Independente das ausências no setlist, era o Aerosmith no palco!
O público comum, ou seja, aqueles que foram pessimamente acostumados a curtir eventos apenas para postar em suas redes sociais devem ter ficado com um pouco de dor de cabeça pelos longos solos de guitarra e canções “obscuras” para quem esperava ouvir “Girls of Summer” ou “Fly Away From Here”, além de “Crazy”, claro.
A grande certeza é que quem gosta de música, não teve o que reclamar ao presenciar o autêntico encontro do hard rock com o blues. Enquanto os covers de Fleetwood Mac e seus intermináveis solos de guitarra deixaram boa parte da Esplanada bocejando, outra parte do público provavelmente se sentiu agraciada pelo talento de Joe Perry e Brad Whitford com seus instrumentos incendiários. Era o espírito de New Orleans chegando até BH com direito aos clássicos do Aerosmith de presente.
Verdade seja dita, os dois covers significaram a ausência de duas músicas. “Hole in My Soul”, “Pink”, “Janie’s Got a Gun”, “Amazing”, “Walk on Water” e “Sunshine” são algumas das faixas que poderiam ter ocupado esse espaço. Admito que senti uma certa inquietação e precisei tentar me convencer – e fracassar – de que o momento valia mais que o desejo de ouvir o máximo de canções do imenso repertório do Aerosmith.
Impressiona bastante a entrega e dedicação de cada integrante. Fora o jeito marrento de Perry e suas trocas de guitarras infinitas, ver Tom Hamilton destruindo no baixo num solo para anteceder “Sweet Emotion” fez valer a noite. Acompanhar as danças exóticas e insinuantes do senhor Steven Tyler era algo que parecia exclusivo para a televisão ou YouTube, mas agora faz parte da minha lista de acontecimentos musicais inesquecíveis. Aliás, Tyler estava tão animado que chegou a dividir o microfone com um cinegrafista em “Livin on the Edge”. Nem mesmo os erros bizarros em “Angel” foram capazes de apagar o brilho do cantor.
Para quem venceu a apatia de aprisionar a história de suas vidas em telas de smartphones e se permitiu respirar rock, o Aerosmith provavelmente será lembrado como o grande responsável por tornar segunda-feira em um dia de alegria. Duas horas de muita história, solos de guitarra e refrões cantados a plenos pulmões.
Como o próprio vocalista fez questão de dizer em determinado momento do show, foi “bom demais da conta”.