No último domingo (10) o cantor e compositor Devendra Banhart fez o quarto dos seus sete shows em território brasileiro. Em uma apresentação inédita em Belo Horizonte, o cantor e compositor de indiefolk tocou músicas do disco Ape in Pink Marble (2016) e de álbuns anteriores no Music Hall, e apesar da casa cheia a apresentação conquistou pelo clima intimista e espontâneo que o artista conduziu seu show.
Com o jeito doce e melancólico igual ao de suas canções, é difícil imaginar um show do Devendra para um grande público: ao subir no palco, o músico pareceu um pouco intimidado pela euforia de uma plateia que esperava há anos pela performance do americano de alma (e criação) latina. A impressão do desconforto ficou para trás em menos de três músicas e não demorou para que Devendra conquistasse todos com suas danças esquisitas e constantes pedidos de desculpas por não falar português – apesar de ter acertado quase todas as vezes que interagiu com o público em nossa língua.
Apesar de ser um músico muito talentoso acompanhado por uma banda de apoio excelente – o baterista Gregory Rogove apresentou o seu trabalho solo antes do show principal -, o que mais chama atenção na performance de Devendra é sua simplicidade e conexão com o público. Ao fim das canções, o músico conversou com o público improvisou pedidos da plateia, se preocupou com as luzes que incomodavam quem estava na pista e até convidou ao palco um compositor que jamais havia se apresentado em público.
Conseguir manter um caráter intimista frente a uma plateia de centenas de pessoas é uma conquista que pode ser vangloriada por poucos músicos. A genuinidade e simpatia de Devendra comprovam uma sonoridade e leveza muito ímpar, registradas em seus álbuns de estúdio e relembradas com carinho em canções presentes no repertório, como “Mi Negrita”, “Carmensita” e “Baby”, além das ótimas “Saturday Night” e “Lucky”, faixas de seu último disco. Também é muito interessante observar o quanto Devendra é um músico de referências musicais celebradas ao serem encaixadas em versões inesperadas, como quando um pequeno trecho de “My Sweet Lord” do George Harrison divide alguns versos com “Jon Lends a Hand”.
A apresentação de Devendra Banhart e sua banda foi despretensiosa, mas cheia de afeto. Sua performance não é excepcional, mas isto está longe de ser algo ruim: em tempos de estruturas megalomaníacas e festivais com convidados suficientes para lotar estádios lotados, a descomplicação corresponde as expectativas e até surpreende ao fazer a música parecer simples e natural.