Quando a Black Drawing Chalks começou a virar uma mania entre os fãs de músicas independentes, eu resisti. Perdi a conta do número de shows a que assisti dos caras e o som não descia. Não é que eu achava ruim, só não conseguia entender o motivo dos meus conterrâneos terem trocado a piração por Móveis Coloniais de Acaju pela BDC.
(Quem é de BH deve se lembrar que entre 2007 até 2010, 2011, todo mês tinha um show do Móveis. Depois passou a ter Black Drawing Chalks com mais repetições do que a Cash faz no Circuito do Rock…)
Comecei a ter certeza que o problema era comigo. Afinal, eu ia em todos os shows da Black Drawing Chalks mesmo sem ser fã… Demorei a juntar as peças e lembrar que eu era arrastado pela minha namorada na época. E como eu me dava bem (demais) depois que a gente voltava desses shows, nunca reclamei. Óbvio que me sentia um tanto incomodado com o fato dela usar o sex appeal dos caras como combustível sexual para transar comigo, mas, como disse, eu estava me dando bem demais para reclamar.
Somente em 2011 comecei a cair na real que os caras eram realmente bons. Talvez pelo término com a tal namorada que ficava com tesão depois do show deles ou por um período de excessos químicos, comecei a ver a BDC de outra forma. E a grande culpada disso tudo foi aquela riff da guitarra na introdução de “Leaving Home”, faixa do Life is a Big Holiday For Us, segundo disco de estúdio da banda.
“Leaving Home” bateu.
Ficava pensando no quanto era uma faixa sobre viajar (no sentido literal também), sobre procurar alguma coisa e também sobre perda. Eu já era PhD em perda nessa época. A parte mais legal foi quando lançaram esse clipe na época do meu aniversário, em julho, e ele tinha cenas sobre a vida da banda na estrada. Perfeito, saca?
Mas não quero dizer que “Leaving Home” me lembra o passado. A sensação de movimento permanece a cada vez que escuto, mas ganhei novos significados depois de assistir a um show da Black Drawing Chalks em 2016, depois de um longo período em que eles estavam de “férias”. Uma garota ruiva tinha me chamado a atenção no meio daquele bando de louco suado pulando e derramando cerveja no chão (pecado), ou se jogando (literalmente) do palco. E ela também gosta de “Leaving Home”, porque foi a única faixa que ela deu uma pausa no stage dive para pegar o celular e registrar o momento.
Sei disso porque ela me contou meses depois enquanto a gente se alimentava de cerveja e batata frita sem bacon. É louco como algo tão pequeno como gostar muito de uma música conecta as pessoas, né? Queria ter tido a coragem de dizer que “Leaving Home” me fazia pensar nela depois daquele show, mas iria parecer uma cantada barata. Melhor guardar esse segredo dela enquanto compartilho com os queridos do Audiograma. Vai que ela lê um dia…
O espaço está aberto para todos os leitores compartilharem suas histórias. Curtiu? Mande sua história para contato@audiograma.com.br
Para ver os posts anteriores, clique aqui.