Gregg Alexander é um cara especial na música. Talvez você nunca tenha ouvido falar dele, mas já deve ter se dado ao luxo de ouvir pelo menos alguma coisa na qual ele botou a mão nos últimos trinta anos, se levarmos em conta a sua carreira solo.
Cantor, compositor e produtor americano, Gregg nasceu em 1970 em Grosse Pointe, no estado de Michigan. Era um dos integrantes dos Aiuto, uma uma família conservadora de testemunhas de Jeová da cidade e, ao longo dos anos 80, já dava mostras do que poderia dar ao mundo musical com a sua criatividade, seja em concursos na escola ou compondo em casa com a irmã Caroline. Com apenas 16 anos, Gregg deixou a família e se mudou para Los Angeles em busca de uma nova vida. Foi mostrando algumas demos pela cidade que conseguiu o seu primeiro contrato com a gravadora A&M, após conhecer o produtor Rick Nowels. Com o caminho aberto, Gregg lançou em 1989 o seu primeiro trabalho, o álbum Michigan Rain, mas o disco não teve grande repercussão. É dele, vem o single “In The Neighborhood” e algumas outras canções que, mais tarde, apareceram em seu segundo álbum. Intoxifornication foi lançado em 1992, quando Gregg já tinha contrato com a gravadora Epic e a expectativa de ambos era de que o disco fizesse sucesso com faixas como “Electric Girlfriend”, “Save Me From Myself” e “Intoxifornication”. Ainda que o disco seja bem interessante, o resultado final não foi positivo por um pequeno motivo: Foi lançado no mesmo período em que Pearl Jam e Nirvana dominavam o mercado e, com uma sonoridade diferente, o segundo álbum de Gregg acabou não gerando o retorno esperado pela gravadora. Em uma de suas recentes entrevistas, Alexander contou que sofreu pressões da Epic para se adequar ao som que era feito em Seattle e, com sua negativa, acabou perdendo o contrato. Se o álbum Intoxifornication rendeu algo bom para ele, foi o fato de ter sido o primeiro trabalho que o reuniu em um mesmo estúdio com a cantora, compositora e produtora Danielle Brisebois, parceria que se transformaria em uma amizade até os dias de hoje.
Após o fraco retorno comercial de seu segundo álbum, Gregg resolveu apostar em novos caminhos e emprestou o seu talento para outros trabalhos. Em 1993, o músico compôs a faixa “Here Comes My Baby”, lançada por Belinda Carlisle no álbum Real. A faixa acabou influenciando a amiga Danielle Brisebois a convocar Alexander novamente para o estúdio e um trabalho conjunto. Um ano depois, a cantora lançava o seu debut solo, Arrive All Over You, que contava com Gregg tocando alguns instrumentos, fazendo os backing vocals, dividindo os vocais na faixa “Promise Tomorrow Tonight” e participando das composições de nove das onze faixas do trabalho. O disco também se tornou marcante para o músico, pois era a primeira vez que ele assinava uma produção sozinho, já que esse trabalho em Intoxifornication foi feito ao lado de Rick Nowels.
Enquanto se interessava cada vez mais pela produção e pelas composições, Gregg ensaiava uma volta ao mercado musical e, após um período que o levou até a se apresentar como músico de rua no Central Park, Alexander ganhou mais uma chance que veio em forma de um contrato, dessa vez com a MCA. Em 1998 saia aquele que tinha tudo para ser o seu “lugar ao sol”, Maybe You’ve Been Brainwashed Too, o primeiro e único álbum do New Radicals. Lançado em outubro daquele ano, o disco marcava uma nova fase na vida de Gregg: Apesar de ser considerada uma banda, o único membro fixo do New Radicals era o músico, que participou da composição de todas as doze músicas do álbum, sendo nove delas feitas de forma solitária. Sem a influência ou os desejos da gravadora e, com uma certa liberdade criativa, o disco acabou saindo do jeito que ele desejava.
Com várias colaborações, Maybe You’ve Been Brainwashed Too tinha em Gregg o seu ponto central e isso fica claro em declarações sobre o seu processo de produção. Um dos músicos envolvidos no disco foi o guitarrista Rusty Anderson, que toca com Paul McCartney desde 2001. Em uma entrevista, o músico revelou um pouco do processo e soltou que Alexander “era meio maluco” e, como tinham pouco dinheiro para a produção, Gregg “enfiou suas demos no trabalho” sem pensar duas vezes. O projeto era dele e iria sair do jeito que ele queria, não podia ser diferente disso. Com várias colaborações, a principal delas acabou sendo a de Danielle Brisebois, que tocou piano, percussão, fez backing vocals em boa parte das faixas e colaborou na composição de “Someday We’ll Know”. De acordo com Gregg, Danielle era a única pessoa constante no projeto além dele e, ao longo dos dois anos de existência do New Radicals, vários foram os nomes que passaram pelos estúdios.
Quando o disco foi lançado, o mundo foi tomado por uma tal “You Get What You Give”. Era o primeiro single do disco e, rapidamente, se transformou em um hit com o seu clipe do shopping sendo exibido quase que hora sim hora não na MTV. Além da qualidade da faixa, ela também ficou conhecida pelo polêmico trecho em que cita Beck, Hanson, Courtney Love e Marilyn Manson, sem contar que vários artistas se manifestaram felizes com a canção, chegando ao ponto de The Edge (sim, o The Edge do U2) dizer que sentia inveja por não tê-la composto. Tudo isso colaborou para o sucesso do álbum, que bateu no 41º lugar na Billboard 200 e em 10º nas paradas britânicas, fazendo com que Gregg experimentasse pela primeira vez o que era esse sentimento. No entanto, Maybe You’ve Been Brainwashed Too era bem mais que isso e escondia muitas faixas interessantes, como “I Hope I Didn’t Just Give Away The Ending”, “Mother, We Just Can’t Get Enough”, “In Need Of A Miracle” e a já citada “Someday We’ll Know”, que seria lançada posteriormente como o segundo single do álbum, já em 1999.
O fato é que, naquele momento, parecia que Gregg Alexander tinha uma forma de se “esconder” dos holofotes e deixar livre a sua criatividade, mas em um comunicado surpreendente, o músico abriu a lata do lixo e jogou o New Radicals lá dentro. Pouco antes da gravadora começar a promover “Someday We’ll Know”, Gregg soltou uma nota informando nada menos que o fim da banda, mostrando que não estava preparado para tudo aquilo. “A fadiga de viajar e dormir por três horas em hotéis diferentes todas as noites para ter encontros entediantes com rádios e pessoas da indústria definitivamente não é para mim”, dizia em parte do comunicado aonde apontava também a sua falta de entusiasmo com tudo aquilo que estava vivenciando. Sem motivos para continuar, Gregg saiu de cena e voltou ao lugar aonde se sentia mais confortável: os bastidores.
Em 1999, trabalhou no segundo álbum de Danielle Brisebois, Portable Life. O disco seria lançado naquele ano, mas acabou na gaveta e só viu a luz do sol em setembro de 2008. Produtor do álbum, Gregg também participou da maioria das composições e acabou percebendo que ali era o espaço em que ele se sentia mais confortável. Os anos se passaram e Alexander começou a usar pseudônimos para entregar composições para nomes como Ronan Keating, Rod Stewart, Tina Turner, Hanson, Enrique Iglesias, Melanie C e INXS, para citar alguns dos envolvidos. Foi com essas composições que ele apareceu novamente entre os hits musicais graças a duas músicas: “Murder on the Dancefloor”, da britânica Sophie Ellis Bextor, e “The Game Of Love”, faixa de Santana com a Michelle Branch que faz parte do álbum Shaman. Lançada como single em setembro de 2002, a música alcançou o 5º lugar do Hot 100 e faturou o Grammy de Melhor Colaboração Pop. Na época da premiação, até se gerou uma expectativa de que Gregg reativasse o New Radicals, mas o músico aproveitou o período para se dedicar a outras atividades, muitas delas de cunho social. Após “The Game Of Love”, Alexander produziu pouca coisa no cenário musical, sendo a mais revelante delas a faixa “Love Is a Hurricane”, escrita em parceria com a amiga Danielle Brisebois e que foi lançada em 2010 pelo Boyzone.
No entanto, essa história mudaria em meados de 2012, quando recebeu uma ligação do diretor John Carney, que trabalhava em um filme e precisava de uma trilha sonora especial. Após uma conversa com Bono (sim, o Bono do U2), Carney pegou o telefone e ligou para Gregg que, dias depois, recebeu o roteiro de Begin Again (Mesmo Se Nada Der Certo no Brasil), filme estrelado por Mark Ruffalo, Keira Knightley e Adam Levine. O filme fala sobre o sonho de se fazer música e isso motivou Alexander a se envolver com o projeto. “Em certa medida, eu me enxerguei na história. Isso me fez ter o ímpeto de sair do meu hiato e começar a compor loucamente na hora”, disse, em entrevista ao Hollywood Reporter em 2015. Apresentado no Festival de Toronto (TIFF) em 2013, o filme entrou em cartaz nos cinemas no ano seguinte e conquistou muita gente pela história e, principalmente, pela sua trilha. O grande sucesso acabou sendo a faixa “Lost Stars”, que conta com versões cantadas por Adam Levine e por Keira Knightley na trilha e acabou concorrendo ao Oscar de Melhor Canção Original em 2015, premio que acabou ficando com “Glory”, trilha do filme Selma.
Depois de tudo isso, é difícil cravar quais serão os próximos passos de Gregg na música, mas ele parecia bem confiante com a ideia de voltar a lidar com tudo isso na entrevista ao Hollywood Reporter. “Estou de volta como alguém que quer escrever a melhor música sempre e quer encontrar um jeito de dizer coisas que não são ditas nas artes. Encontrar as vozes certas ou os projetos certos para levar essas canções para o mundo”, disse na ocasião.
Uma das vozes certas para as suas canções foi encontrada recentemente, com o lançamento de “Right Into U”, faixa empolgante que é cantada por Spencer Ludwig e que conta com letra e backing vocals de Gregg Alexander, o cara que passou por todas as fases que o sucesso ou a falta dele podem oferecer.