Depois que terminamos um relacionamento (ou terminam com você, como na maioria das vezes acontece) passamos por um breve momento de luto. Existem teorias que apontam 180 dias como o suficiente para superar e voltar ao jogo. E foi assim que “Personal Jesus”, do Depeche Mode, entrou na minha história.
Fui com meu amigo John Pereira curtir uma baladinha de leve numa boate no centro de BH. Ia demorar um pouco para a banda principal subir ao palco e ficamos conversando sobre coisas da vida. Reclamamos de Los Hermanos (para cantar “Quem Sabe” bem alto), declaramos amor para o Franz Ferdinand (para cantar “Walking Away” bem alto), lamentamos o cancelamento do Depeche Mode (para cantar “Enjoy the Silence” bem alto), e continuávamos bebendo nossas cervejas tranquilamente até que percebi uma garota dançando bem pertinho da gente.
Ela estava acompanhada de um cara alto. Os dois pareciam meio bêbados. Ele falava animadamente e ela parecia em outra dimensão dançando lentamente. Preferi ser cara de pau e fiquei literalmente admirando a dança, que era realmente sexy, da garota. Não demorou para ela notar que estava sendo observada. Eu sorri, cara de pau que sou, e virei de costas sentindo um pouquinho de vergonha. “Estou fazendo o que já fizeram comigo duas vezes (que eu fiquei sabendo, claro!): flertando com uma garota acompanhada e esperando o cara ir ao banheiro para chegar… Vou realmente para o inferno, John!”, comentei. Segundos depois voltei a olhar a dança sexy da moça. “Foda-se”, pensei.
Por acaso do destino, o cara realmente saiu de perto. Como a menina havia não apenas percebido meus olhares, mas também demonstrado interesse, imaginei que o cara fosse o amigo gay dela. Vai saber. Olhei para o John e disse: “Vou fazer algo inédito na minha vida e tentar ficar com aquela garota só com uma troca de olhares”. Ele apenas sorriu, claramente duvidando das chances disso dar certo, e me desejou boa sorte.
Me aproximei da moça, que estava dançando de olhos fechados e viajando em “Personal Jesus”. Tive que falar alguma coisa para acordar a bailarina que gostava de Depeche Mode do seu transe. Lá se foi a chance de pegar alguém sem precisar falar nem “oi”. Fui bem óbvio para não correr o risco de estragar as coisas falando besteira e perguntei se ela já conhecia alguma das bandas que se apresentariam (me apresentei como um repórter que iria entrevistar a banda e estava conversando com algumas pessoas da plateia; nessas horas, você não precisa ser sincero, sabe? Seja interessante e pronto. Ah! Nunca diga que é crítico de música ou – especialmente – cinema). Ela disse que estava acompanhando o AMIGO dela, que foi de última hora e não conhecia nada. E quis deixar claro que estava bêbada. Eu sorri e disse que estava trabalhando para chegar lá.
Não tinha ideia de como continuar aquela conversa.
Parecia que meu talento para estragar flertes 100% estava entrando mais uma vez em ação, mas tivemos uma troca de olhares significativa, daquelas que valem como um passe-livre para o beijo, sabe? Do tipo: “Ok, nós vamos nos pegar ou não?”, e então rolou. Me senti como um adolescente. Afinal de contas, não tenho idade para esse tipo de pegação mais descerebrada. Quer dizer. Não sei, né? Sempre que tento conversar acabo ouvindo um “vou ao banheiro e já volto” e fico preocupado achando que o vaso engoliu a menina ou ela passou mal em algum lugar. De qualquer forma, Depeche Mode serviu como a trilha sonora para uma rara situação de pegação em balada. E teve bom.
Essa me lembra você, Ana!
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