Lá vamos nós mais uma vez.
Em pleno feriado de 7 de setembro, embarquei para a terra da garoa para conferir de perto a primeira edição do Maximus Festival, com Marilyn Manson e Rammstein como atrações principais.
O local já é um velho conhecido: o Autódromo de Interlagos, palco do gigante Lollapalooza. A proporção entre os dois eventos chama a atenção logo de cara. Apenas metade da estrutura usada pelo Lolla foi necessária para atender a demanda do Maximus, que foi esperto em deixar um palco colado no outro para evitar que o seu público ficasse esgotado andando de um palco para o outro.
Outra novidade ficou pelo uso das pulseiras sempre tão populares em festivais internacionais. Ao invés de ficar enfrentando longas filas, o público podia simplesmente “carregar” a sua pulseira e trocar em bebidas e comidas espalhadas pelo Autódromo. O problema foi só que o preço mínimo de recarga era de R$ 30, o que causou um pouco de irritação em quem queria comprar apenas uma água. Falando em comida, os vegetarianos continuam economizando bastante por livre e espontânea imposição. São poucas as opções e quando existem são valores altos por um hamburguer de legumes e requeijão. Pelo menos tinha cerveja no Maximus. Ao contrário do chá tradicional nos shows de pagode e sertanejo, e que, infelizmente são patrocinadores de certos eventos grandes por aí, o Maximus atendia ao seu público com a boa e velha Budweiser. Nada mal.
Vamos dizer que sou um marinheiro de primeira viagem em eventos de metal e me surpreendi muito positivamente com as diferenças entre os headbangers e os roqueiros indies engomadinhos que estou acostumado a encontrar. Os primeiros são muito mais honestos e sinceros no seu visual, que definitivamente é usado como instrumento de manifestação da personalidade ou ideologia de cada um. E a produção não poupou esforços para criar um clima meio medieval do apocalipse com shows de fogos e estátuas de cavaleiros sombrios em pontos estratégicos. Esse cuidado realmente faz a diferença. E existem acertos até nas pequenas coisas, como na exposição do trabalho do fotógrafo MRossi, que clicou as maiores lendas em atividade no mundo da música.
Falando sobre o que interessa, minha aventura começou com o Bullet For My Valentine. Aproveitei para conhecer a estrutura, ver as pessoas, olhar os banheiros, e notei que estava tudo relativamente tranquilo. Exceto pela fila imensa para o banheiro. Como estava longe do palco, apenas ouvi o show animado da banda e logo descobri que tinha acesso ao lounge.
Nunca na história desse país eu tive acesso até o lounge de um evento ao longo desses últimos seis anos. Era um território novo a ser explorado. Quase como a velha lenda urbana que domina a curiosidade dos caras quando se perguntam porque as garotas vão ao banheiro acompanhadas. Descobri que o lounge era apenas um lugar com as mesmas pessoas que estavam na pista, mas que elas bebiam muito mais, comiam pipoca e cachorro quente e pareciam dispostas a ficarem muito longe do palco apenas pelo conforto. Com o peso da idade, posso dizer entendo cada uma dessas pessoas. Vi o Disturbed no meio dessa turma e ouvi de longe covers inusitadas que foram desde U2 (“Still Haven´t Found What I Looking For”), Simon and Garfunkel (“Sound of Silence”), Rage Against the Machine (“Killing in the Name of”) e The Who (“Baba O’Riley”). É esquisito dizer isso, mas amei o show deles justamente pela quantidade de covers bem mais interessantes (aos meus ouvidos) que as composições originais.
Com muita pontualidade, logo foi a vez do Marilyn Manson subir ao palco. Triste pela estrutura da apresentação não ser a mesma dos shows no exterior, mas ainda assim ali estava um dos cantores que mais ouvi na minha adolescência. A introdução ficou por conta de “Bitch Better Have My Money”, da Rihanna. Sim. Isso foi uma verdadeira experiência social, já que eu tive que falar com um grupo próximo a mim quem era a cantora. A maioria das pessoas não tinha a menor ideia de “que porra estava acontecendo” e isso foi divertido.
Manson não trouxe a estrutura do palco com vitrais assustadores, mas repetiu o setlist. Sem nenhuma surpresa em relação ao que anda tocando atualmente, a apresentação poderia ser bem burocrática se não existisse em mim aquela vontade de riscar mais um nome famoso da minha lista de shows para ver antes de morrer. “Disposable Teens” e “The Dope Show” foram os momentos quentes da apresentação do senhor Manson, que agora parece ter deixado de lado a sina de chocar e se concentrado mais em fazer bons shows. Pena que tão pouco do seu repertório dos anos 90 esteja presente no setlist. Sorte que nada disso foi o suficiente para diminuir o brilho de Manson.
Vamos falar sobre o Rammstein, motivo de 11 a cada 10 pessoas terem comprado os seus ingressos para o Maximus Festival. Ou sobre a melhor banda da noite.
Com um show que vai muito além da música, é até compreensível que eles tenham o hábito chato de repetirem sempre o mesmo repertório. Existem programações demais, efeitos visuais e coreografias demais para fazer um verdadeiro espetáculo visual completo. Inclusive, o frio que eu estava sentindo foi diminuindo gradualmente à medida em que chamas incendiavam o céu. Então, seria aceitável ver os caras esnobando o desejo dos fãs de ouvir “Te Quiero Puta!”. Afinal, não fazia parte do “roteiro”. Mas o povo do Rammstein decidiu abrir uma exceção e presentear os desiludidos com uma surpresa. Depois do bis, com o palco todo escuro, quando parecia que a porra toda tinha chegado ao fim, eis que ouvimos um “quiere más?” seguido daquelas notas que estamos todos tão familiarizados. É a catarse perfeita para uma noite que já havia sido épica com o som mais alto que já tive o prazer de ouvir num show de rock. A banda ainda foi sábia de dar ao público o protagonismo, já que Till Lindermann cantava apenas alguns dos versos e deixava os fãs berrarem a letra.
Quando vamos até um show é para realizar nossos sonhos. Não posso generalizar e dizer que todos ali também conheceram R+ com “Te Quiero Puta!”, mas é a canção mais popular do repertório dos caras. “Du Hast”, “Sonnen”, “Engel”, “Ich Will”, “Ich Tu Dir Weh” provavelmente são faixas melhores (ou mais marcantes), mas o fator nostalgia pessoal é muito forte para ser negado. Rammstein fez uma obra de arte inesquecível nesse feriado de 7 de setembro e um show daqueles que você pode falar a vida inteira e sempre sentir saudade de voltar aos momentos que antecederam a grande atração do Maximus Festival.
E talvez beber menos um pouquinho.