A minha ligação com o Con Brio começou de uma forma aleatória. No fim do mês passado, mais precisamente no último dia 29, a banda foi uma das atrações do segundo dia de Lollapalooza Chicago, que comemorou seus 25 anos em 2016.
Até então, eu nunca tinha ouvido falar da banda formada em San Francisco, California, e muito menos de seus integrantes. Como estava vendo pela TV, resolvi aproveitar e ver coisas diferentes ou que eu não tinha visto ao vivo ainda. Ok, eu vi o Red Hot Chili Peppers naquele fim de semana, mas o lado fã sempre fala mais alto nessas horas. Pois bem, tinha acabado de ver o show do Miike Snow e o canal iria começar a reprise dos shows transmitidos naquele dia. Queria ver o show do City And Colour e resolvi deixar a TV ligada até a transmissão começar.
Enquanto botava as coisas em ordem em casa e buscava algo para comer, comecei a ouvir um swing interessante vindo do quarto. Tão interessante a ponto de segurar um pouquinho a fome e me colocar de volta em frente ao canal para observar a banda em questão, que era comandada por um vocalista performático, que dançava, pulava e se jogava no chão como se aquele fosse o momento mais importante de sua vida. E aquilo me prendeu da mesma forma que prendeu o público em Chicago. A medida que o tempo passava, esqueci da fome, da hora, de que divido a casa com mais pessoas e simplesmente passei a curtir o som. Foi assim que a Con Brio veio até a minha vida.
Formada em 2013, a banda é a casa de sete músicos habilidosos e interessantes de se ver e ouvir, principalmente ao vivo. No entanto, é difícil não falar especificamente de seu vocalista, Ziek McCarter. Dadas as devidas proporções, até mesmo para não sobrecarregar os seus ombros, não é difícil se lembrar de dois nomes incrivelmente fortes em sua juventude enquanto se vê e ouve Ziek: Michael Jackson e James Brown.
No ano passado, a banda colocou na rua o seu EP de estreia, Kiss The Sun. Nele, seis músicas que deixam claras todas as influências do Con Brio que, além de seu vocalista performático, ainda conta com Brendan Liu (trompete), Marcus Stephens (Saxophone), Benjamin Andrews (Guitarra), Patrick Glynn (teclados), Jonathan Kirchner (baixo) e Andrew Laubacher (bateria). Produzido pela própria banda, o trabalho rendeu uma boa exposição a eles nos EUA, convites para festivais e turnê que também rendeu shows na Europa. Apesar da qualidade em estúdio, era ao vivo que a fama se confirmava. Não foi atoa que o PopMatters deu a ele o título de “melhor banda nova ao vivo na América” no ano passado, após a sua passagem pelo Austin City Limits.
Poderia ser empolgação de iniciante e os elogios poderiam pesar. Com uma responsabilidade nas mãos, a banda se reuniu e começou a trabalhar em seu primeiro álbum. Um dia antes de começar as gravações, Ziek teve um sonho com seu pai, que morreu em 2011. No sonho, seu pai lhe entregava um convite dizendo “venha comigo para o paraíso”. Com isso na cabeça e a vontade de fazer de sua música algo que trouxesse serenidade, amor e alegria, Ziek se juntou a banda e deu início aos trabalhos que deram origem ao álbum Paradise, lançado oficialmente no último dia 15 de julho. Na produção, um nome conhecido dos brasileiros: Mario Caldato Jr, o produtor nascido em São Paulo que trabalhou com nomes como Beastie Boys, Beck, Jack Johnson, Donavon Frankenreiter, Planet Hemp, Molotov, Nação Zumbi e Seu Jorge, para citar alguns de sua extensa lista. Uma banda boa nas mãos de um produtor de qualidade? O resultado não poderia ter sido melhor.
Sabe aquela propaganda utópica de mundo livre que a gente vê por aí? Se ela precisa de uma trilha sonora, talvez as doze faixas de Paradise se encaixem. Você é livre para curtir, dançar, ser feliz e verdadeiramente livre. Da mesma forma, é convidado a refletir sobre o nosso conceito de vida moderna, falar sobre as lutas travadas em uma cidade, da desigualdade, de toda a questão social criada através da busca pelo sucesso e dinheiro. Tudo isso com swing, provocando um casamento interessante entre todos os integrantes, suas influências e instrumentos.
De todas as músicas, “Free & Brave” talvez seja o grande destaque por todo o seu contexto político e social. É nela que Ziek McCarter fala abertamente sobre uma de suas maiores (se não a maior) dores em seus vinte e três anos de vida. A música fala sobre brutalidade policial e a importância de se buscar uma luz no meio de uma perspectiva ruim e ninguém melhor do que Ziek para falar disso, já que o seu pai – um veterano do exército – foi morto por policiais em 2011.
Com o disco lançado, o Con Brio colocou o pé na estrada em turnê e, mais uma vez, a lista de festivais é grande: Lá estão Bonnaroo, Summerfest, Outside Lands (onde tocam em casa), Fuji Rock, Montreal Jazz Fest… e claro, o Lollapalooza Chicago, que foi aonde os nossos caminhos se cruzaram, se assim podemos dizer. Aliás, falando em Lollapalooza, se a edição brasileira precisa de uma boa dica para o lineup 2017, vale a aposta nesse caras. Até porque, se tem uma coisa certa nisso é que Ziek McCarter e companhia vão entregar um show elogiável em Interlagos.
Enquanto ver isso presencialmente é apenas um desejo, deixo vocês com o vídeo de “Never Be The Same” e já aviso: Tá permitido se levantar e curtir porque a vontade vai bater. Eu não duvido!
Saiba mais sobre a Con Brio através de seu site oficial. Ouça o EP Kiss The Sun e o álbum Paradise através do Spotify.