Belo Horizonte é cheia de projetos de bandas covers que se dividem entre uma homenagem sincera para o legado de determinado artista ou para simplesmente garantirem uma boa grana tocando em casas noturnas lotadas. Temos diversos projetos interessantes, como a Singles (cover de Pearl Jam, que fez um show foda na véspera da apresentação de Eddie Vedder e cia em BH) e a Monkey Wrench (cover de Foo Fighters, cujo vocalista subiu ao palco para tocar “Breakout” na Esplanada do Mineirão, em janeiro). Pink Floyd é outro nome do mundo da música que foi agraciado com diversos projetos ambiciosos em Minas Gerais, como o Pink Floyd Reunion e o Ummagumma, e agora terá também a adição do sensacional espetáculo ATOM – Pink Floyd Tribute.
Após muitos meses de preparação, o ATOM fez seu show de estreia ontem no Cine Brasil, no centro da capital mineira. O teatro estava com lotação máxima e ingressos esgotados. Tinha gente de todas as idades e que compartilhavam o amor pela obra de David Gilmour e Roger Waters. Quando se fala de Pink Floyd, um termômetro funcional é a experiência sensorial. É fazer além da música. A produção do ATOM entende isso perfeitamente e se destacou pelos belos efeitos de luzes (principalmente na primeira parte do show) e imagens. Nesse primeiro ato, a música passou a ser um detalhe e eram nossos olhos que recebiam toda a informação necessária.
Foi o suficiente para colocar todo mundo na mesma onda, na mesma viagem psicodélica. A iluminação bastou para nos relaxar e deixar a sonoridade do Pink Floyd fazer o seu trabalho. Com uma banda afiada e um som limpo e cristalino, cada canção era tocada como se estivéssemos ouvindo uma gravação. O único porém – se é que podemos reclamar disso sem parecer injustos – é que parecia que existiam duas pessoas tentando emular David Gilmour e nenhuma outra fazendo as vezes de Roger Waters. O vocalista/guitarrista Emiliano Martinez tem um timbre vocal semelhante ao de Hélio Guimarães, mas essa “perda” vocal em nada diminui a qualidade do espetáculo. Inclusive, quando assisti ao Ummagumma no ano passado, observei que o maior defeito (e no caso, era um defeito mesmo) estava na ausência de um segundo vocalista. Impossível tocar Pink Floyd sem o trabalho de duas vozes principais.
O repertório muito bem selecionado – conseguiram dividir a apresentação em várias partes e em cada uma existiam canções mais conhecidas para não afetar o ritmo do show e deixar quem não conhecia a banda entediado – incluiu performances arrepiantes de “Wish You Were Here”, “Hey You”, “Us and Them”, “Shine on You Crazy Diamond” e uma ousada “Dogs” tocada na íntegra. O legal do ATOM foi realmente usar todo o virtuosismo de seus integrantes para reproduzir o mais parecido possível as faixas do Pink Floyd, e ouso dizer que fizeram isso muito bem. O efeito de luz/iluminação que me conquistou no começo da noite teria sido em vão se os instrumentistas não soubessem demonstrar que entendem e conhecem cada parte da obra da banda.
Antes do encerramento lindo com “On the Turning Away”, do disco A Momentary Lapse of Reason, o ATOM mostrou a sua versão de “Comfortably Numb”, clássico absoluto da carreira do Pink Floyd e que inclui um dos melhores solos de guitarra de todos os tempos. Não fizeram feio e tornaram essa noite um momento especial para os fãs que nunca terão oportunidade de ver Gilmour, Waters, Nick Mason e o falecido Richard Wright tocando juntos. Que venham outras apresentações em breve e que a ATOM se firme não apenas como um mero tributo ao Pink Floyd, mas um verdadeiro espetáculo musical e visual para todos que vivem um eterno caso de amor com a música.
Foto: Gilson Cruz