Você que viveu a sua adolescência durante os anos 2000, certamente deve ter dado uma atenção especial as músicas cantadas por Avril Lavigne. Seja bancando a rebelde, curtindo a fase pop ou até mesmo convivendo com a hipótese de ter sido substituída, Avril foi um dos nomes mais comentados do cenário musical durante os anos 2000 e serviu de trilha sonora para várias histórias de amor e ódio.
A partir de uma conversa via whatsapp e tendo como ponto de partida uma Pintando os 7 relacionada aos estágios do tão conhecido pé na bunda, percebi que as músicas da Avril são capazes de descrever diversas relações adolescentes vividas naquele período. Avril fala sobre levar a sua vida sem ninguém, fala sobre conhecer alguém especial, sobre conquista, confiança, paixão, atritos, decepções, vontade de reconciliação e sobre o tão comum “taca o foda-se” que a gente grita por aí antes de resolver seguir a vida.
Se lembrou dos seus amores da década passada? Então acompanhe o raciocínio.
Tudo começa com “My World”, que nada mais é do que uma descrição da sua vida. O que você faz, quem você é, onde você vive, os fantasias e desejos que você tem sobre o futuro. É a tradução fiel do que é (ou era, caso você tenha a minha idade) a nossa adolescência. “My World” fala de amor, mas de um amor próprio, um amor pela vida, um amor com o qual você convive antes de conhecer o outro lado do sentimento, quando ele envolve outra pessoa.
Esse outro lado aparece quando você conhece alguém e olha para essa pessoa de uma outra forma. É aquele primeiro amor do colégio, aquela pessoa cujo coração bate mais forte quando tá por perto nos intervalos, na fila da cantina ou na arquibancada enquanto observam os amigos praticarem esportes. É nessa fase da vida que você se interessa pelo diferente, seja pelo skatista ou pela menina tida por todos como a patricinha – como Avril conta em “Sk8er Boi” – ou por aquela pessoa que parece ser a ideal já no primeiro aperto de mão, mas que só sabe te ignorar e não quer nada com você – como Avril nos fala em “Unwanted”. Nos dois casos, a não concretização do romance se dá por motivos variados. Se em uma você quer demais e a outra parte não se importa, em outra você acaba levando em conta motivos alheios a sua vontade. Não basta gostar, é preciso ter a aprovação do seu grupo de amigos e, em muitos casos, o diferente nunca era aceito nessa fase da vida.
O tempo passa, várias pessoas passam até que você encontra aquela que é especial. Aquela pessoa que você quer do seu lado e está disposta a fazer tudo por ela. Até porque, não importa nem se ela já tem um relacionamento, você sabe que é o melhor para aquela pessoa a ponto de dizer que não gosta da pessoa que está com ela e que ela precisa de uma novidade ao seu lado, afinal de contas aquele novo amor é tão viciante que você não consegue sequer parar de pensar nela. E não é bem isso o que Avril Lavigne diz em “Girlfriend”? E quando a pessoa não quer (ou não faz questão), você quer fazer de tudo para chamar a atenção. Você quer a sua história de Cinderela ou príncipe encantado e, para isso, você diz que a pessoa pode até ser parecida contigo, mas não é a mesma. Ou simplesmente diz que você é a coisa mais foda que aqueles olhos já viram, algo que a Avril aborda em “The Best Damn Thing”.
E não é que pode dar certo? Um dia dá certo e alguém se interessa por você e, naquela época, a primeira vez que isso acontece é um fato tão novo quanto era o primeiro beijo. E aí, o que fazer? E o medo de dar errado? E o medo de se entregar? É sobre isso que Avril fala em “Take Me Away”, música que abre o seu segundo disco. Você não sabe como descrever o que acontece, não sabe o que fazer com tudo aquilo e tem medo de machucar o outro. Chega até a pensar que seria melhor que aquilo não existisse, pois você é incapaz de lidar. Sim, isso acontece e passar por isso a primeira vez pode moldar toda a sua vida. É nesse momento que construir uma confiança no outro se torna tão importante. Você acorda de manhã, coloca uma máscara e esconde tudo o que sente por dentro, encara a vida como um jogo… até que aquela pessoa está por perto e todo o medo simplesmente desaparece. Você se abre, você confia e percebe que nunca sentiu nada assim antes. Você se sente nu perto da pessoa. E isso parece tão certo que a Avril traduziu esse sentimento em “Naked”, faixa que fecha seu primeiro álbum.
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Daí para a fase totalmente apaixonada é um pulo. Você se entrega a tudo aquilo de corpo e alma, faz tudo o que tem vontade ao lado da pessoa e tudo parece tão legal, tão mágico. Faz um brinde para que a gente nunca cresça, corre pela rua gritando “beije minha bunda” para o outro e pensando “dane-se, que bom que ainda vivemos assim”, sai com a pessoa e acorda no dia seguinte com uma tatuagem nova, percebe que o seu sorriso aparece com mais facilidade como a pessoa está por perto e, principalmente, se dá conta de que faria tudo de novo… e de novo… e de novo. Isso sem contar toda a atração física que se cria entre os dois, onde tudo o que você quer é trancar a pessoa em seu armário ou levá-la para um canto, sem ninguém por perto. Afinal, você sabe o quanto a pessoa mexe contigo e só consegue dizer que “você é tão bom pra mim, baby”. Sabe, você até pensa em casamento, pensa em viver ao lado da pessoa para sempre. Em alguns casos, fica com vergonha de dizer por não saber qual vai ser a reação do outro. No fundo, tudo o que você queria era ver a pessoa se abaixando em um joelho na sua frente e dizendo “Case comigo hoje?”. Quem nunca passou por isso? A Avril com certeza encarou toda essa fase apaixonada em músicas como “Here’s To Never Growing Up”, “Smile”, “Hot” e “Things I’ll Never Say”.
No entanto, um dia a fase apaixonada passa e, se as coisas não são sólidas o suficiente, tudo vai se desfazer com o tempo. Atritos, opiniões diversas, desejos e vontades particulares… tudo pode ser motivo para conflitos e para perceber que algo está saindo do controle. É nessa hora que você se pergunta porque as coisas estão se tornando tão complicadas. É nessa hora que você fica frustrado quando percebe que a pessoa muda o seu jeito de ser perto dos outros e age como se fosse alguém diferente. É quando você questiona todo o amor que você e que o outro sentem e se pergunta se o que está pedindo é muito para a outra pessoa. É quando questiona se tudo vale a pena, se vai ter um final feliz ou se amanhã tudo irá melhorar. Tudo estremece e, em alguns casos, acaba. “Complicated”, “Losing Grip”, “Too Much To Ask”, “My Happy Ending” e “Tomorrow” são canções que a Avril Lavigne canta e são capazes de traduzir bem esse período conturbado, onde você não sabe se vale a pena dar uma chance ou não.
Em alguns casos, a pessoa ainda está por perto. Em outros ela já se foi. Você reza para que os dois possam superar a queda e seguir adiante. Você não quer se machucar mais. Você não quer nem falar sobre isso com a pessoa, só quer sentar, olhar, chorar e deixar claro o quanto está apaixonada por ela. É algo que pode ser doloroso em qualquer momento da vida, imagina na fase adolescente em que você está moldando a sua forma de ver e viver a vida, né? Avril fala sobre esse período de dor de uma forma mais clara em três de suas músicas: “When You’re Gone”, que já serviu como plano de fundo para muitos fãs da cantora chorarem ao pensar naquele amor, “Fall To Pieces” e “Wish You Were Here” que, só pelo nome, nos diz muita coisa.
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O problema é quando nem tudo são flores na relação e ela acaba de uma forma que você não espera… ou não planejou. Seres humanos pisam na bola, muitas vezes de forma consciente, em outras não. Mesmo assim, pisam na bola e, em determinadas situações, não existe nada capaz de recolocar tudo em ordem, remediar as feridas e atingir o estágio do “tudo vai ficar bem”. Comportamentos, ações, sintonia… são vários os motivos que podem levar alguém a se afastar e perceber que precisa seguir em frente, já que as coisas não serão como antes e, ao continuar de mãos dadas, a tendência é a queda ser ainda mais dolorosa, assim como as letras de “Together” e “Forgotten”. Em alguns momentos, você só queria ter escutado seus amigos que tentaram dizer desde o início que aquela pessoa não era a melhor para você. Você se questiona sobre tudo, sobre o que pode fazer, fica com raiva, acredita ser o lado idiota da relação, tenta encontrar formas de acertar tudo, mas, como Avril fala em “Everything Back But You”, você quer tudo o que deu para a pessoa de volta, menos ela.
E é nessa hora que você percebe que a vida segue e que você precisa seguir, mesmo que ainda sinta algo por aquele alguém. Assim com o Avril canta com Chad Kroeger em “Let Me Go”, você sabe que não resta nada que a pessoa possa dizer, pois é tarde demais. Agora é só esquecer. E pra isso serve os amigos, as músicas, as redes sociais, as festas, as terapias, as séries e filmes, para ajudarem você a simplesmente “enlouquecer e jogar tudo pro alto”, até porque você pode fazer e ser melhor, não é mesmo? E não adianta ficar de joelhos e implorar por uma nova chance. Nessa hora, tudo o que queremos é dizer “que se dane” para tudo aquilo e seguir adiante, pois sabemos que aquilo não era o que a gente queria ou o que a gente pensava que seria bom, certo? Agora, cá entre nós, vai me dizer que não se lembrou de “Freak Out”, “I Can Do Better”, “What The Hell” e “He Wasn’t” enquanto lia esse parágrafo?
Claro que tudo pode dar certo e você viver feliz para sempre com a pessoa. E aí? A Avril tem alguma música para isso? Talvez “I Love You” se encaixe nisso ou, quem sabe, na fase apaixonada citada lá em cima. No entanto, encerrar o texto com uma música chamada “I Love You” pode ser uma forma de mostrar que, entre erros e acertos, vontades e atritos, o amor pode ser maior. Como Avril bem diz, mesmo com todos os defeitos existentes, “não é por isso que eu te amo… a razão pelo qual amo você… é você”.
Você pode ouvir a playlist com todas as músicas que inspiraram o texto abaixo, através do Spotify ou da Deezer:
Ps.: Vale lembrar que essa é uma livre interpretação das letras da Avril Lavigne, hein?