Se existe qualquer possibilidade do espírito de alguém realmente baixar em outra pessoa, isso certamente acontece no corpo do ator Emílio Dantas. O artista protagoniza “Cazuza – Pro Dia Nascer Feliz, o musical” e interpreta o cantor carioca de forma espetacular. O musical fez sua segunda passagem por Belo Horizonte, realizada na Praça da Estação, em evento gratuito patrocinado pela empresa Rede. O texto é de Aloisio de Abreu e a direção fica por conta de João Fonseca.
A história de Cazuza já não é mais segredo para ninguém. Cantor de timbre inconfundível, composições impecáveis, temperamento forte e aquele que era querido por muita gente. Todos os adjetivos sempre na máxima potência. Também conhecido como o artista que infelizmente saiu de cena muito cedo devido a má sorte de contrair uma doença que na época, nos anos 80, ainda era difícil de ser tratada e entendida, no caso a AIDS. E a história levada ao palco da montagem não poderia ser diferente.
Suas canções mais famosas são responsáveis por fazer a ligação dos acontecimentos mais importantes da sua vida e há músicas para todos os gostos como “Pro Dia Nascer Feliz”, “Exagerado”, “Bete Balanço”, “O tempo Não Para”, “Preciso Dizer Que Te Amo”, “Faz Parte Do Meu Show”, entre outras. A trajetória do artista é recontada de forma rápida e bem dinâmica, a ponto do espectador se distrair um pouco e notar que a cena já mudou de figura.
Mas tudo que o público precisa saber está lá… ou quase tudo. A plateia presencia os passos do menino festeiro da zona sul carioca que não conseguia encontrar seu caminho profissional até virar um dos maiores artistas do rock brasileiro de todos os tempos. Talvez tenha faltado um pouco mais de foco no Cazuza cantor e compositor gênio e menos pauta para o Cazuza desbocado, o famoso “porra louca”. No entanto, a essência do artista está presente o tempo todo. Cazuza era rebelde (com e sem causa), intenso sempre e conseguia soar rude e complicado na mesma medida que conseguia ser superengraçado, gentil, doce e maternal. E Emílio eterniza isso agindo, falando, cantando, tudo de forma idêntica ao artista. Idêntica mesmo.
Se alguém passasse pela praça onde o evento acontecia sem informação alguma do que se tratava, poderia facilmente achar que aquilo era um show de homenagem e que as músicas que tocavam eram dublagem ou coisa parecida. E a verdade é que o protagonista do espetáculo mergulhou tão fundo na obra de Cazuza que ele conseguiu reviver o cantor em uma interpretação inesquecível e que dificilmente alguém irá fazer igual.
Acreditando ou não na teoria da reencarnação ou possessão, Cazuza anda revivendo no corpo de um cara chamado Emílio com frequência e isso só se repetiu na Praça da Estação no dia 21 de junho de 2015. E o resumo da noite é que foi lindo demais de se ver. Vai ver tudo isso não é explicado em teoria nenhuma do além, é só a mágica do teatro mesmo. E que magia.