Foram sete anos brigados até que o vocalista Nasi e o guitarrista Edgard Scandurra fizessem as pazes e anunciassem o retorno do Ira!, em janeiro deste ano. O primeiro show aconteceu meses depois, na Virada Cultural, em São Paulo. Com 33 anos de estrada, a banda volta a ativa sem Andre Jung e Ricardo Gaspa, baterista e baixista, respectivamente, e reencontrou os mineiros nessa última sexta-feira, 12 de dezembro.
O público foi em peso acompanhar o retorno de uma das principais bandas do rock nacional. Muitos estavam ali pela primeira vez, enquanto outros pareciam em extase, como se tivessem passado os últimos sete anos hibernando ou chorando encolhidos num cantinho. Berravam todos os versos, erguendo as mãos e socando o céu como se não houvesse amanhã. Claro que a influência etílica influenciou um tanto nesse comportamento, mas era contagiante sentir a alegria dos fãs com a chance de poder ver os ídolos ao vivo. Essa sensação, fora a música, claro, é a melhor parte de se ir para um show. Independente de amar ou não a banda em questão, é impossível não ficar comovido com o comportamento dos seus seguidores.
Se a formação original era melhor de palco ou não, temo que nunca conseguirei descobrir a resposta. Contando com o Daniel Scandurra (filho do Edgard) no baixo, Evaristo Pádua na bateria e Johnny Boy nos teclados, os coadjuvantes da noite não deixaram a desejar e mostraram personalidade diante a responsabilidade de representar mais de 30 anos de história. Mas verdade seja dita, seria preciso um verdadeiro desastre para tirar o brilho de Nasi e Scandurra. A noite era deles, que como profissionais experientes que são, se divertiram e conquistaram os mineiros facilmente.
Algumas músicas do rock nacional ganharam letras especiais nos shows ao vivo. Assim como acontece em “Que País é Esse?”, da Legião Urbana, o hit “Dias de Luta” também conta com a participação dos fãs mais desbocados: “Porra, caralho, cadê meu baseado?” costuma ser cantado tão alto que quase chega a impedir de ouvir a riff de guitarra genial de Scandurra. Os mineiros nem tiveram que esperar muito para participarem, já que a canção foi tocada logo na primeira leva de músicas.
No repertório, a ausência da tríade de T’s foi sentida: “Tolices”, “Teorema” e “Telefone” ficaram de fora do show. Para uma banda como o Ira! são tantos hits, tanta história, que cortar clássicos acaba sendo uma obrigação. Para compensar isso, eles não deixaram de fora os grandes hinos que fizeram parte da sua trajetória: “Envelheço na Cidade”, “Núcleo Base”, “Bebendo Vinho” (cantado alegremente por todos que bebiam cerveja naquele momento), “Flores em Você”, “Vida Passageira”, dentre outros. Não é de se espantar que “Eu Quero Sempre Mais” foi a canção mais cantada pelo público, principalmente os mais jovens que conheceram o Ira! através da participação especial da cantora Pitty no Acústico MTV.
Para jovens apaixonados pela música nacional dos anos 80, e parafraseando a própria banda, foi um flerte fatal. Longe de conseguirem superar o efeito Barão Vermelho, conferido aqui em 2013, o Ira! mostrou que o retorno às vezes pode fazer bem também para o público carente de rock n’roll. Ver o Nasi ao vivo, e observar a serenidade do samurai das cordas Scandurra (que tocou de moletom!) foi uma daquelas experiências que fazem você ter certeza que existem coisas muito boas na nossa música. Ou existiram, num passado não tão distante assim.
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Fotos: John Pereira. Veja mais fotos do show aqui.