Depois do que o The Hives aprontou no palco da Arena Anhembi momentos antes, seria totalmente injusto da minha parte querer criticar a “falta de energia” do Arctic Monkeys naquele espaço. Até porque, quem conhece a trupe de Alex Turner desde os tempos do finado Tim Festival, sabe bem que a banda não dá a mínima atenção para essa coisa de “propagar energia” em cima do palco.
O foco do Arctic Monkeys ao vivo sempre foi outro e, poucos minutos depois das 23 horas, “Do I Wanna Know?” dava início a aquele que era um dos shows mais esperados do segundo semestre brasileiro (e nem adianta dizer o contrário a favor de seu artista preferido, ok? ok.).
Com uma garoa chata em uma Arena Anhembi já tomada pelo público – que era maior que ao fim do show do Hives, Turner e companhia botaram o repertório de seus cinco álbuns para rodar, privilegiando o mais recente deles, AM. Responsável por nove das 21 músicas do setlist, o disco serve bem como parâmetro para analisar o momento atual do Arctic Monkeys. Se antes, a aparente “vergonha” em cima do palco não condizia com o som que saia de cada um dos instrumentos, hoje em dia o quinteto parece cada vez mais a vontade com o que faz e, principalmente, com o tamanho que a banda alcançou.
Mas não se engane caro leitor, pois os trabalhos anteriores não foram esquecidos. Ainda que aparentemente desaceleradas, músicas como “Brianstorm”, “Teddy Picker” e “I Bet You Look Good on the Dancefloor” representaram bem os anos vividos entre 2006 e 2009, quando a banda lançou os álbuns Whatever People Say, That’s What I’m Not (2006), Favourite Worst Nightmare (2007) e Humbug (2009).
Se antes o Arctic Monkeys era mais “sujo”, hoje ele é bem mais trabalhado musicalmente e isso se reflete em cima do palco. A qualidade com a qual as músicas são entregues, sejam novas ou antigas, é a “carta na manga” que a banda carrega para todos os cantos. Músicas como “Snap Out Of It”, “Arabella” e “Knee Socks” ficam mais interessantes ao vivo, sendo capazes de conquistar até aqueles que custaram a aceitar o álbum mais recente da banda de Sheffield – eu, por exemplo. Pena que o mesmo não funciona para outras faixas do disco, como “Why’d You Only Call Me When You’re High?” ou “No. 1 Party Anthem” por exemplo, que arrancaram alguns bocejos neste que vos escreve.
Contudo, entretanto, todavia, Alex Turner está visivelmente mais confortável no palco. E isso é um ponto muito positivo. Continua falando pouco, é verdade, mas agora chega a arriscar até alguns passos de dança em cima do palco e, convenhamos, nem na nossa imaginação mais fértil era possível imaginá-lo dançando naquele lugar. Aliás, vale fazer uma menção honrosa ao Thom Yorke que, em alguma night pelas “Augustas da Vida”, deve ter ensinado alguns passinhos ao Alex. O mais legal é que esse conforto não fica restrito ao vocalista. Jamie Cook (guitarra), Nick O’Malley (baixo) e Matt Helders (bateria) também demonstram estar bem tranquilos com tudo o que aconteceu com a banda nos últimos anos. Mais do que isso, estão crescendo como músicos e esse talvez seja o grande desafio de toda a banda no mainstream.
Voltando ao show, faixas como “Crying Lightning” e “My Propeller” realmente ganham mais poder ao vivo, enquanto “Fluorescent Adolescent” é ate bonitinha de se ouvir, mas digam o que quiser sobre o show: Nada irá superar o que representou para mim ouvir “Library Pictures” ao vivo. Da fase atual, é a música que eu mais me identifico do Arctic Monkeys e ouvi-la ao vivo teve um grande valor sentimental, não posso negar.
Daquele ponto pro fim, ainda tivemos “505” e o bis com direito a um trecho acústico de “Mardy Bum” e “R U Mine?”, responsável por fechar a apresentação que durou cerca de uma hora e meia. Se ficou faltando energia, o Arctic Monkeys tratou de ser muito competente em cima do palco, tirando a sua principal carta da manga, entregando um show de qualidade e justificando toda a expectativa criada pelos fãs ao longo dos últimos meses.
Setlist:
Do I Wanna Know?
Snap Out of It
Arabella
Brianstorm
Don’t Sit Down ‘Cause I’ve Moved Your Chair
Dancing Shoes
Teddy Picker
Crying Lightning
No. 1 Party Anthem
Knee Socks
My Propeller
All My Own Stunts
I Bet You Look Good on the Dancefloor
Library Pictures
Why’d You Only Call Me When You’re High?
Fluorescent Adolescent
505
[bis]
One for the Road
I Wanna Be Yours
Mardy Bum
R U Mine?
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Fotos: Stephan Solon / Move Concerts