Era um sábado que prometia ser especial. Logo cedo, lá fui eu pegar um avião com destino a felicidade para São Paulo e acompanhar de perto mais uma etapa do Circuito Banco do Brasil. Se no ano passado as minhas atenções estavam voltadas para Stevie Wonder (e um pouquinho para o Jason Mraz), neste ano a minha visita não tinha um motivo tão específico. Estava lá pelos primeiros shows que veria do Kings Of Leon e do MGMT, pelo terceiro show do Paramore e pelos já incontáveis shows de Pitty e Skank.
Talvez por ter visto em setembro, acabei não me importando tanto por ter chegado ao Campo de Marte somente após às 16 horas e, por isso, ver o show da Pitty já em sua parte final. Perdi o show da Helga, é verdade, mas fiquei sabendo que teve cover de Mötorhead, com “Ace of Spades”, e que sofreram com o som – assim como todas as demais bandas. Ao chegar e ver/ouvir as cinco músicas finais do show da Pitty, já deu para notar as oscilações de som e o quanto isso já se fazia prejudicial para quem estava no palco. No mesmo período, o sol que castigava o público foi dando lugar a nuvens pesadas em cima das nossas cabeças. Ao fechar o show com “Serpente”, que ganhará clipe nas próximas semanas, Pitty deixou o palco e um convidado que não estava no lineup do festival deu o ar da graça. São Pedro resolveu abrir a torneira e, com comemoração de muitos dos presentes, despejou uma intensa chuva que durou durante todo o show do Skank.
Como de costume, os mineiros sabem lidar com festival e nada melhor do que uma sequência de seus clássicos de carreira para fazer a galera não se importar com a chuva, roupas encharcadas e celulares expostos a água para cantar hits como “É Uma Partida de Futebol”, “Jackie Tequila”, “Vou Deixar”, “Três Lados” e “Garota Nacional”, para citar algumas. Entre elas, duas de seu mais recente álbum, Velocia – “A Noite” e “Ela Me Deixou” – e dois covers, de “É Proibido Fumar”, do Roberto Carlos; e “Helter Skelter”, da “maior banda de rock de todos os tempos”, segundo Samuel Rosa. Com participação da Cachorro Grande, que estava circulando pelos bastidores do festival, o cover dos Beatles acabou esfriando o público para o que vinha a seguir. Talvez por falta de conhecimento, nunca saberemos.
Entre chuva, cerveja com água de São Pedro e tentativas de comer hot dog “molhado”, a espera pelo MGMT parecia longa. E quando Andrew VanWyngarden e Ben Goldwasser entraram no palco e começaram o show com “Flash Delirium”, me pareceu que o show é que seria longo. Foram apenas dez músicas e, cinco delas, vindas do excelente disco de estreia, Oracular Spectacular, mas não funcionou. Bem que a banda tentou, mas o show foi morno e, talvez, não tenha deixado boa impressão em quem estava no local e ouvia a banda pela primeira vez (e eram muitos). Fora os momentos “empolgados” com as conhecidas “Time To Pretend”, “Electric Feel” e “Kids”, o show deixou a sensação de que funcionaria mais em um local fechado e não naquele festival, até mesmo pelas bandas que fizeram companhia ao duo no lineup. Aliás, a sequência de “Electric Feel” e “Kids” no fim estava salvando o show para muitos… até decidirem fechar a passagem por São Paulo com “Alien Days”, de seu mais recente álbum. Não foi dessa vez Andrew e Ben, mas estarei no aguardo pela próxima, confesso.
Curiosamente, a chuva deu um tempo após o show do MGMT e tudo parecia pronto para as demais atrações da noite. Com seus cabelos vermelhos, Hayley Williams e seus fieis escudeiros – Jeremy Davis e Taylor Work – assumiram o comando da festa para mais uma apresentação do Paramore no Brasil. Esse foi o meu terceiro show e, depois de conhecer melhor a banda em 2011 e curtir bastante o show de 2013, tudo me pareceu mais tranquilo neste ano. Com um setlist curto – de apenas 14 músicas, a empolgação do público era visível com a execução de cada uma delas. “Still Into You”, “That’s What You Get” e “For a Pessimist, I’m Pretty Optimistic” abriram a apresentação e, desde o primeiro acorde da primeira música, Hayley tinha o público nas mãos. É interessante perceber o domínio que a banda tem do palco. A entrega é bem feita e, se hoje eu dou valor ao trabalho do trio, isso foi conquistado muito mais pelos seus shows do que pelos CDs em si.
Contudo, o grande momento do show foi protagonizado pela jovem Aline Lima que, em “Misery Business”, foi convidada pela banda para subir no palco e cantar. “Olha aquela garota de óculos, ela parece maluca de um jeito bom e esse show agora é dela”, foi a frase de introdução que Hayley fez e, depois disso, baixou um espírito na jovem que pegou o microfone e transformou o momento em um dos mais especiais de toda a sua vida. Cantou como nunca, brincou com Jeremy e Hayley, ajoelhou no palco e, por alto, fez o que muito vocalista de banda grande não faz naquele espaço. O resultado? Saiu ovacionada pelo público, de forma totalmente merecida. E ainda tivemos tempo para “Let the Flames Begin”, Part II”, “Proof” e “Ain’t It Fun”, antes que parte do público colocasse ponto final na noite e deixassem o Campo de Marte.
Mas ainda tinha a apresentação da familia Followill. Em mais uma passagem pelo Brasil – e pela primeira vez para mim, o Kings Of Leon abriu o seu show com “Supersoaker”, pouco depois das 22:45. Como primeiro show, queria ouvir muitas coisas dos primeiros álbuns. Do Aha Shake Heartbreak, o segundo da carreira, vieram “Taper Jean Girl” e “The Bucket”. Já do debut Youth & Young Manhood, de 2003, veio a excelente – e preferida – “Molly’s Chambers”. No meio delas, destaque para o Only By The Night e suas seis músicas e os demais álbuns, Because of the Times, Come Around Sundown e o mais recente Mechanical Bull, que renderam 4 canções cada para um setlist de 21 músicas.
Com um bigode invejável, Caleb Followill parecia bem a vontade no palco, diferente de apresentações anteriores que pude ver via TV ou YouTube. Não só Caleb, mas a banda inteira parece recuperar a forma perdida pós sucesso de músicas como “Closer”, “Use Somebody” e “Sex On Fire”. Ainda que o som do festival tenha traído a banda em alguns momentos, a qualidade da banda no palco realmente me surpreendeu, justificando os elogios que a banda vem recebendo por sua turnê atual, Mechanical Bull. A forma simples e direta de apresentar as músicas, sem firulas em cima do palco, pode ter decepcionado alguns, mas me convenceu de que a banda merece mais uma atenção especial. E talvez isso aconteça logo, ainda na atual turnê.
No caminho para o hotel – e posteriormente para Minas, a sensação de que valeu a pena fazer um “bate-volta” pelos shows se fez presente. Teve chuva, teve som “estranho”, teve bom. Teve muito bom!
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#CoberturaDeGuerrilha
Fotos
Pitty: Ariel Martini/Divulgação
Skank: Manuela Scarpa/Photo Rio News
Paramore e MGMT: Eduardo Magalhães/Divulgação
Kings Of Leon: Divulgação