Fui pego de surpresa com as primeiras notícias em torno de um novo álbum do Manic Street Preachers. Talvez isso tenha ocorrido porque ainda estava saboreando o Rewind The Film, lançado no ano passado, ou porque a banda tenha mesmo essa capacidade de me surpreender sempre. Não consigo definir, apenas dizer que, após tomar conhecimento da informação, a ansiedade já tomava conta.
Me tornei fã do trio galês faz pouco tempo. Apesar dos quase 30 anos de carreira e de todos os álbuns lançados desde então, fui dar a devida atenção a banda em 2010, com o lançamento do Postcards From A Young Man. De lá pra cá, minha admiração pelo trabalho feito por James Dean Bradfield (vocais e guitarras), Nicky Wire (baixo) e Sean Moore (bateria) só cresceu.
Em 47 minutos e 13 faixas, a banda apresenta aos fãs o seu décimo segundo trabalho de estúdio. Intitulado Futurology, o disco abre com a faixa título e a missão de soar mais energético que o álbum anterior. Radiofônica e cantarolável já nas primeiras audições, “Futurology” abre bem os trabalhos e deixa clara essa vontade de apostar em elementos de sonoridade atuais mesclados com o DNA já conhecido da banda. É impossível, por exemplo, não reconhecer elementos do indie pop atual em canções como “Walk Me To The Bridge” ou “Let’s Go To War” e, ao mesmo tempo, não ter dúvidas de que alí está o bom e velho Manic Street Preachers, com aquele ar oitentista que lhe é conhecido.
Em “The Next Jet To Leave Moscow”, temos a primeira participação especial de Futurology e quem pede passagem é ninguém menos que Cian Ciaran, tecladista do Super Furry Animals. O músico contribui com uma das faixas mais interessantes do álbum e que ficou no repeat por muito tempo desde sua primeira audição. Após Cian, quem dá as caras no álbum é a atriz alemã Nina Hoss que, em um clima bem industrial com um pitada de Krafwerk e Nine Inch Nails, divide os vocais de “Europa Geht Durch Mich” com Bradfield de forma incrível. Talvez uma das melhores músicas que tenha ouvido em 2014 até então.
“Divine Youth” apresenta outro dueto, dessa vez com a participação da cantora e harpista galesa Georgia Ruth. Uma bela balada, mas que acaba quebrando um pouco o clima do álbum. Talvez tenha sido proposital, mas perde-se um pouco da pegada do álbum. Nada prejudicial, claro. Até porque “Sex, Power, Love and Money” não dá tempo de pensar nisso. Aliás, só consegui pensar em uma coisa: Ricky Wilson tocaria essa música em shows do Kaiser Chiefs sem pensar duas vezes. Na sequência, a maior faixa do álbum e talvez o grande risco de todo Futurology: “Dreaming a City (Hughesovka)” tem quase cinco minutos quando a média do álbum beira os 3:20 e, pra completar, é toda instrumental. Ao ouvir, me lembro do porque o Manic tem quase 30 anos de carreira, a bagagem cheia de bons álbuns e pode se dar ao luxo de arriscar desta forma.
Na parte final do álbum, chegamos a “Black Square”, uma balada densa e que conta com refrão e melodia bem marcante. Na sequência, a romântica “Between The Clock And The Bed”, que apresenta o último convidado do disco. Coube a Green Gartside – vocalista e guitarrista galês que já trabalhou com Miles Davies, Elvis Costello, Mos Def e Eurythmics, só para citar alguns – realizar o último dueto de Futurology em mais uma bela canção, que é seguida da faixa mais pop do álbum, “Misguided Missile”, o que não faz dela ruim, claro. Muito pelo contrário, diga-se de passagem. Se ela foi a faixa que mais estranhei na primeira audição, hoje em dia essa impressão passou. Daí vem “The View From Stow Hill” que, mais uma vez, flerta com o industrial e com o eletrônico e, fechando o álbum, a bem boa e (quase toda) instrumental “Mayakovsky”.
Se Futurology não entra na briga pelo posto de melhor álbum da carreira do Manic Street Preachers, ele certamente é um disco honesto, que carrega o DNA de uma banda capaz de ainda ser criativa e bem resolvida com os seus ritmos, influências e letras. O álbum pode ser visto como um olhar diferente do trio para o cenário musical e, porque não, para a sua própria carreira. Não é algo que você vai encontrar com tanta semelhança em seus trabalhos anteriores mas, ainda assim, pode funcionar como um bom cartão de visitas para quem está chegando a banda pela primeira vez, assim como aconteceu comigo no já citado Postcards From A Young Man.
Com tanta qualidade e essa rasgação de elogios, a pergunta que sempre me persegue ainda fica no ar: O que faz com que o Manic Street Preachers não seja tão reconhecido fora do Reino Unido?
Manic Street Preachers – Futurology
Lançamento: 07 de julho de 2014
Gravadora: Columbia
Gênero: Alternative Rock / Post-Punk / Pop / Industrial
Produção: Manic Street Preachers, Loz Williams e Alex Silva
Faixas:
01. Futurology
02. Walk Me To The Bridge
03. Let’s Go To War
04. The Next Jet To Leave Moscow (Feat. Cian Ciaran)
05. Europa Geht Durch Mich (Feat. Nina Hoss)
06. Divine Youth (Feat. Georgia Ruth)
07. Sex, Power, Love And Money
08. Dreaming A City (Hughesovka)
09. Black Square
10. Between The Clock And The Bed (Feat. Green Gartside)
11. Misguided Missile
12. The View From Stow Hill
13. Mayakovsky