Posso dizer que demorei a descobrir os ditos encantos que envolvem todo o trabalho da Nação Zumbi. Fui ouvir a banda com mais atenção a pouco mais de três anos e, se levarmos em conta também que o primeiro show visto foi em 2012, pode-se dizer que essa descoberta foi bem tardia, certo?
Na época do show, já existia uma admiração pelo Da Lama ao Caos, gravado junto com Chico Science, mas nada que me prendesse tanto a banda. Naquela oportunidade, estavam em turnê com o Ao Vivo no Recife e, em apresentação bem prejudicada pelo som da casa, a primeira impressão acabou sendo um pouco aquém do que poderia ser, ainda que a quase catarse promovida pela junção entre público e banda naquele dia tivesse sido marcante. Daquele ponto em diante, a vontade de ver um show em condições melhores ficou na mente.
O tempo passou e foram quase dois anos de espera até o Lollapalooza Brasil 2014 aonde essa vontade quase se resolveu. Sim, quase, pois o coração falou mais alto e, enquanto Jorge Du Peixe versava sobre a vida no Palco Interlagos, eu estava do outro lado do autódromo vendo o show do Nine Inch Nails. E, mais uma vez, a vontade de ver a banda não foi saciada. Vontade essa que só aumentou após o lançamento do novo álbum, Nação Zumbi, que é daqueles discos que prendem facilmente. Provavelmente, ele foi o grande responsável por me colocar ainda mais próximo da banda, mas ainda faltava o show. Faltava.
Depois de um dia com direito a classificação brasileira e muito sofrimento no Mineirão, seguida de uma festa que tomou conta de vários pontos de Belo Horizonte, coube a Nação fechar os festejos do dia. Em um Chevrolet Hall parcialmente cheio e com um som bem superior a experiência de 2012, tudo indicava que o tal momento em que “os encantos da Nação me ganhariam de vez” finalmente se faria presente. E confesso que não precisou muito tempo para isso acontecer.
“Foi De Amor” foi a responsável por abrir o show e, se uma das músicas do novo álbum já era boa em estúdio, consegue ganhar ainda mais força ao vivo graças à guitarra vibrante de Lúcio Maia. Vale ressaltar, inclusive, a completa piração de Lúcio no palco, tocando como nunca e se entregando como sempre, se assim podemos dizer. Quem já conhece a banda há mais tempo diz que isso é comum. Ainda assim, me impressionou. E Lúcio não é o único destaque já que, do mesmo jeito que ele se sobressai nas guitarras, a maneira com a qual Du Peixe conduz as letras ou Dengue se faz presente com o seu baixo são admiráveis. O mesmo vale para Pupillo, Toca Ogan, Bola 8, Da Lua e Ramon Lira, que são extremamente competentes no que fazem.
Tudo isso gera uma segurança para a Nação em cima do palco que não vemos com frequência em outras bandas. Com ela, fica difícil errar a mão. Mesclando sucessos como “Fome de Tudo”, “Bossa Nostra” ou “Hoje, Amanhã e Depois” com novidades como “Bala Perdida” e “Pegando Fogo”, a Nação fez o que sabe de melhor em cima do palco e viu o público corresponder da pista a cada música, cada nota e a cada verso. Das novas músicas, o destaque especial fica para “Um Sonho” que, ao vivo, causou arrepios neste que vos escreve.
Antes do fim, um bloco dedicado ao clássico Da Lama Ao Caos. O álbum completou vinte anos recentemente e a Nação promoveu uma volta no tempo com “Rios, Pontes & Overdrives”, “A Cidade” e “Da Lama Ao Caos”, que fizeram parte da homenagem a um dos álbuns que marcaram a música brasileira.
Naquela altura da noite, a partida já estava decidida e a vitória era de todos os presentes. Ainda que eu tenha ficado sem “A Melhor Hora da Praia” ou “Cordão de Ouro”, fui premiado no encerramento com “Quando a Maré Encher”, contribuindo ainda mais para que a Nação fincasse bandeira na lista dos melhores shows nacionais que eu pude ver até hoje.
E com todos os méritos.
.
Ps.: As fotos que ilustram o post foram feitas com um celular. 😉