A coluna (Re)Descobrindo Sons ficou de férias por praticamente 24 meses. Em diversas ocasiões, a corda ficou apertada no pescoço desse que vos fala, mas graças à bondade e paciência do chefe John Pereira, o espaço ficou guardadinho e permaneceu vivo para a leitura e (re)visitação dos leitores das páginas Laranjas do Audiograma.
As coisas começaram a mudar após uma reunião ameaçadora regada a muita cerveja, no começo do mês: nasceu de novo a vontade de falar de música após tanto tempo dedicando (quase) exclusivamente para falar de cinema (no Cinema de Buteco). Espero que tenham sentido a falta da coluna, e que meus antigos cinco leitores retornem aos poucos e somem-se à grande maioria que nunca havia ouvido falar disso aqui. Para vocês, queridos novos visitantes, a (Re)Descobrindo Sons é um guia para apresentar bandas novas, ou não, partindo de experiências pessoais, e sempre tentando falar de um jeito divertido.
A proposta para os próximos 11 meses é usar dois livros como base: 1001 Músicas Para Ouvir Antes de Morrer e 1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer, além das novidades do mercado e coisas que eu já escuto normalmente. Para isso, pedirei sugestões/ajuda dos leitores. Por favor, deixem comentários indicando o que deveria ser analisado e comentado aqui para ajudar na criação da próxima edição. Essa que você conferirá abaixo seguirá os padrões habituais das edições anteriores. Essa mudança é importante para tornar possível a existência da coluna, que nasceu durante o período em que trabalhei na parte de Música da Livraria Saraiva e gastava uns R$ 100 por mês criando o meu acervo pessoal de discos, livros e DVDs/Blu-rays.
Como janeiro é o mês em que conhecemos os indicados ao Oscar, decidi procurar algumas trilhas sonoras bacanas para ouvir. Escolhi começar com a seleção musical presente em Trapaça, de David O. Russell. Ele é um cineasta foda, que sabe trabalhar tão bem com seu elenco que conseguiu fazer com que todos os seus protagonistas fossem indicados ao Oscar de ator/atrizes principais e coadjuvantes. A música é elemento importante em sua filmografia, e no caso de Trapaça, existe um jazz chamado “Jeep’s Blues”, de Duke Ellington, com um papel importante na trama. Não é apenas uma canção que simplesmente toca, entende? Ela une os personagens. Jennifer Lawrence protagoniza uma cena incrível ao som de “Live and Let Die”, do Wings. De longe, é o melhor momento dessa comédia altamente superestimada. O restante do material é agradável, com America, Donna Summer, Elton John, dentre outros nomes.
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=9LHMNxk8DqA[/youtube]
A outra trilha sonora que escolhi ouvir foi a de 12 Anos de Escravidão, que tem Chris Cornell e um trabalho perfeito de Hans Zimmer, mas prefiro comentar sobre a seleção de Quentin Tarantino para Django Livre, lançado no começo de 2013. O mashup entre James Brown e 2Pac em “Unchained” é sensacional, assim como as outras contribuições musicais: Rick Ross (“100 Black Coffins”), John Legend (“Who did That to You?”). Ainda tivemos a ausência (imperdoável) de “Wise Man”, de Frank Ocean. De longe, seria a melhor canção do repertório. Ou você duvida?
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=lyZGFsWKu7k[/youtube]
Fui conhecer Lorde por acaso. Atração confirmada do Lollapalooza Brasil 2014, eu sequer sabia que isso iria tocar no festival. Sem hipocrisia: comprei meu ingresso para ver o Arcade Fire e o Nine Inch Nails. A minha namorada reclamou que não suportava mais ouvir “Royals”. Ela dizia: “essa música é insuportável e fica na minha cabeça o dia inteiro. Chega!!!”. Sabem como é. Se a sua namorada diz que não gosta de uma música porque ela gruda na cabeça, e você é um moleque barbado, é claro que vai ouvir a música para aprender a cantar apenas para pirar a namorada. Foi o que fiz.
Preparado para o pior, me surpreendi quando descobri que “Royals” é uma música bonitinha. E realmente fica na cabeça. E realmente dá vontade de apertar o pescoço da jovem cantora. Ouvi o disco Pure Heroine, de 2013, com muita suspeita, mas a verdade é que o trabalho está longe de ser horrível. Assim, é uma bosta, mas apenas para quem não gosta desse tipo de música. Lembrou muito a Lana Del Rey, e por isso dormi todas as vezes que tentei ouvir do começo ao fim. No entanto, valeu pelo tempo perdido para aprender a fazer a minha imitação mais irritante do refrão de “Royals” para garantir o amor eterno da minha garota.
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=nlcIKh6sBtc[/youtube]
Trent Reznor, Josh Homme e Dave Grohl dividiram o palco no encerramento do Grammy. Teria tudo para ser uma parada bacana se não fosse pelas declarações de Reznor contra o Grammy antes do evento, e claro, com o corte da apresentação de “My God is the Sun”, do Queens of the Stone Age, para os anunciantes. Reznor ficou cabreiro e xingou muito no Twitter. Se foi proposital ou não, tanto faz. O chato é que o espectador foi privado da melhor apresentação musical do ano. Pelo menos ao vivo, né? Aqui você pode ouvir a versão do ensaio:
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=PEfOrECg6jI[/youtube]
Sei que comparar Beck com Lorde é uma tremenda covardia, então não faz nem sentido dizer que Morning Phase foi o melhor lançamento a que ouvi no mês de janeiro (ainda que ele só comece a ser vendido a partir do dia 25/2). Culpem o Jack Sparrow. Sucessor de Modern Guilt, de 2008, esse é o décimo segundo álbum da carreira do cantor, e não é exagero dizer que provavelmente terá lugar garantido nas listas de final de ano. Que CD sensacional.
Beck deixou o lado eletrônico um pouco de lado para relembrar o excelente Sea Change, de 2002, e criar uma espécie de “continuação” do trabalho. Com letras profundas, sempre acompanhado de um violão, Beck acerta em cada uma das 13 canções (que por coincidência ou não, realmente evocam as faixas de Sea Change). Perfeito para fãs de canções melancólicas e se cansaram de ouvir The National ou Damien Rice.
Uma coisa que nunca faltará no meu iPod é o Led Zeppelin. Viajar ouvindo “Ramble On” e “Rock n’Roll” é parte do ritual. Ainda estranho o fato de ter ficado sem Silverchair e Incubus no meu player por quase um ano e meio, mas vamos trabalhar para modificar isso ao longo dos próximos meses. Recebi amigos de Brasília e São Paulo aqui em casa para a festa de Seis Anos do Cinema de Buteco (sinto muito não ter lhe convidado, mas você provavelmente não iria sair de casa numa quinta-feira, no final do mês, para gastar R$ 20 de entrada numa festa que toca só trilha sonora. O que? Ia? Poxa, que bom. Em breve teremos mais novidades!), e aproveitei para curtir o som do The Doors e Offspring, enquanto apreciávamos cervejas e aliviávamos o calor com a piscina. Te falo com sinceridade: se você está alterado psicologicamente, ouça The Doors. Você fica em outra dimensão. O sol também funciona para te fazer ficar meio maluco, mas a consequência é o risco de uma insolação. Não queremos isso, né? Pelo menos, eu não vou ficar tanto tempo no sol viajando no solo de teclado de “Light my Fire”.
Nesse domingo, dia 2 de fevereiro, enquanto boa parte das atenções estava voltada para o Super Bowl, os irlandeses do U2 lançaram a faixa “Invisible” para download gratuito na iTunes. A cada download, 1US$ era doado para ajudar na luta contra o HIV. Coisas de Bono. Uns se irritam com o lado ativista do cantor, afirmando ser apenas para ficar bem na fita. Uma pergunta: Se fosse o caso, importaria mesmo se a boa ação do cara é apenas por interesse? Ele está lá fazendo algo bom, e são as atitudes que a gente deve valorizar.
E sobre a música, claro, tem uma pegada forte de Joy Division e uma sonoridade moderna. Vem coisa boa aí…
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=Z73_L6qmkyI[/youtube]
Até o mês que vem e aguardo sugestões de discos/músicas para serem comentadas aqui, como pedi no comecinho desta edição da (Re)Descobrindo Sons.