Rael era um nome desconhecido para mim até semanas atrás e, não nego, o motivo provavelmente foi a minha falta de atenção ao rap/hip hop nacional que, nos últimos anos, vem numa crescente impressionante e muito interessante.
Ótimos nomes pipocam a cada dia dentro do cenário e um deles é o de Rael. Apesar disso, se engana quem pensa que o Rael é “cara nova” no cenário musical. O rapper dá vida a uma mistura de ritmos, elementos e letras capaz de empolgar a quem se dispõe a ouvir logo de cara com Ainda Bem Que Eu Segui As Batidas do Meu Coração, lançado neste ano via Laboratório Fantasma.
A medida que se ouve faixas como “Caminho”, “Semana”, “Quizumba” ou “Coração”, fica impossível não associar o trabalho de Rael ao que foi feito por Criolo com o excelente Nó na Orelha (2011), mas Rael já vem nessa levada antes mesmo de Criolo decidir declarar ao mundo que São Paulo é uma cidade sem amor. Ainda Bem Que Eu Segui As Batidas do Meu Coração é uma continuação muito bem feita do trabalho anterior de Rael, lançado em 2010.
O rapper consegue navegar pelo reggae, samba e MPB nas quinze músicas presentes no álbum e se engana quem pensa que a veia rap não mostra a sua cara. Rael faz uma conexão perfeita entre rap, periferia, crítica social, amor e diversos elementos sonoros, apresentando aquém ouve uma perspectiva (ou realidade, se assim podemos dizer) muito interessante. Ainda Bem Que Eu Segui As Batidas do Meu Coração é um álbum tão leve e coeso que, em nenhum momento, consegue soar estranho ou desconexo, mesmo quando você fica com o pé atrás quando vê participações de nomes como Péricles (que canta em “Oyá”) ou Mariana Aydar (que divide os vocais em “Coração”) no álbum.
Produzido por Beatnick e K-Salaam, dupla responsável pelo EP Doozicabraba e a Revolução Silenciosa (2011), de Emicida, Ainda Bem Que Eu Segui As Batidas do Meu Coração fala abertamente de política, amor, faz crítica as diferenças sociais e, com toda essa mistura de ritmos e assuntos, consegue atingir todos os públicos e classes, não ficando restrito apenas a periferia. Dessa forma, Rael consegue passar a sua mensagem a um público maior. O que, pelo menos pra mim, vale muito mais do que críticas como “se perdeu ou se tornou comercial”.
E o nome do álbum pode ser visto como uma clara representação de Rael. A cada faixa, fica claro que o rapper seguiu tudo aquilo que estava em seu coração, resolveu apostar no seu talento e no que realmente acredita, entregando ao público um trabalho capaz de render ótimos frutos, elogios e se tornar “disco de cabeceira” para muitas pessoas.
Do jeito que se tornou para mim, diga-se de passagem.
Rael – Ainda Bem Que Eu Segui As Batidas do Meu Coração
Lançamento: 13 de março de 2013
Gravadora: Laboratório Fantasma
Gênero: Rap / Hip Hop
Produção: Beatnick e K-Salaam
Faixas:
01. Ainda bem
02. Caminho
03. Semana
04. Tudo vai passar (Feat. Paulo M’sário)
05. Anda
06. Só não posso (remix)
07. Quizumba
08. Causa e efeito
09. Diáspora
10. Coração (Feat. Mariana Aydar)
11. Ela me faz
12. Diferenças
13. Pedindo pra Deus
04. Oya (Feat. Péricles & Emicida)
15. Leão de Judah