Mesmo com o frio que fazia na noite belo-horizontina, um bom público fez questão de prestigiar a apresentação dos paulistas do Teatro Mágico, no Chevrolet Hall. Se estava longe de ficar lotada, com a maioria dos jovens se apertando para acompanhar o show o mais próximo possível da grade, sobrava espaço para os mais animados dançarem acompanhados de seus amigos e familiares. Fernando Anitelli, vocalista e cabeça pensante da trupe, não precisou de muito esforço para conquistar a plateia completamente entregue, e o que se viu foi uma apresentação surpreendente, especialmente para aqueles que não conheciam o projeto.
Carismático e muito bem articulado, o vocalista conversou com o Audiograma pouco antes de subir ao palco. “A responsabilidade é a grande diferença entre a banda que a gente era em 2003, para o que somos hoje”, ele disse. Para o vocalista, com o passar do tempo, o Teatro Mágico precisou se renovar, lidar com a pressão e aprender a se superar. A turnê atual é uma prova do quanto eles aprenderam após lançarem três discos de estúdio, e o recente DVD Recombinando Atos, com músicas de todas as fases da banda, que aponta que nunca teve uma faixa de grande sucesso, um hit definitivo. O Teatro Mágico venceu pelo conjunto da obra, além da devoção de um público tão apaixonado quanto os fãs xiitas do Los Hermanos.
Esse amor rende um show a parte, especialmente na canção “Pena”, que tem uma espécie de coreografia manual dos fãs. Isso apenas para falar das coisas bonitas. Como em toda apresentação que se preze, observar o público é garantia de diversão: desta vez ficou a impressão de que o Teatro Mágico é o equivalente do Engenheiros do Havaí nas micaretas, tamanha a empolgação e a maneira frenética como um cara se balançava na minha frente. Se o rebolado tivesse acontecido durante “Xanéu Número 5”, momento mais swingado do show, daria para entender, mas era no momento intimista de Anitelli cantando algumas canções sozinho no violão.
As músicas são acompanhadas de diversas intervenções no palco. Existem as acrobatas lindas que se balançam de um lado para o outro em diversas canções, o momento com um show de mágica que poderia ter sido excelente, se não fosse pelo ator se comunicar com uma voz infantil e capaz de irritar até mesmo a Xuxa. Claro que o público se divertiu e riu bastante, e provavelmente a reclamação é exclusiva deste que vos escreve. Ainda houve o momento em que toda a equipe da banda se reuniu para comemorar o aniversário do vocalista. A base de fãs do Teatro Mágico em BH já tinha preparado diversas “surpresas” para o ídolo ao longo do show, o que apenas reforçava a bela relação entre as duas partes.
O Teatro Mágico tocou a faixa “Canção da Terra”, trilha sonora da novela global Flor do Caribe, e comentou da importância de escrever uma música livre, a qual qualquer pessoa pode fazer o download de maneira legal. O encerramento do show ficou com “Perdoando o Adeus”, que conseguiu fazer o público cantar junto e se despedir depois de duas horas de apresentação.
Para aqueles que não conheciam a banda, provavelmente fica a decepção em relação ao som. Não fosse a presença eletrizante do baixista Thiago Espírito Santo (que mesmo sendo um dos principais nomes do baixo elétrico da atualidade comprou a ideia do Teatro Mágico e parece se divertir ao lado dos companheiros) seria apenas um espetáculo circense disfarçado de show musical. O Teatro Mágico prioriza a sua mensagem de otimismo e de trazer o bem, e por isso merece créditos e elogios, mas estão bem longe de conseguir combinar a mensagem de uma maneira eficiente junto daquele que deveria ser a sua matéria prima. O lance da banda é combinar teatro, dança, e uma vontade louca de se expressar sem sentir medo de parecer um evento de axé. Sem dúvida, a apresentação do Teatro Mágico é indicada para públicos de todas as idades, de preferência os mais novos, que terão um bom motivo para se divertir e conhecer o clima do que é um show.
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Veja fotos do show feitas por John Pereira: