Na última sexta-feira (06), o System Of A Down colocou ponto final em mais de quinze anos de espera dos fãs por material inédito.
De uma só vez, a banda formada por Serj Tankian, Daron Malakian, Shavo Odadjian e John Dolmayan liberou duas canções inéditas e que, infelizmente, servem também para dar atenção para um caso grave de violação dos direitos humanos.
Toda formada por descendentes de armênios, a banda viu que seria preciso se reunir e voltar ao estúdio como uma forma de chamar a atenção para os conflitos que ocorrem na Armênia e em Nagorno-Karabakh (Alto Carabaque), local chamado pelos armênios de Artsakh. Em seus canais oficiais, o System Of A Down publicou uma carta aberta onde explica toda a situação. Além disso, a banda destinará todos os lucros obtidos com as faixas para o Armenian Fund, que busca auxiliar as pessoas que estão sob conflito.
As duas faixas mostram muito da sonoridade clássica da banda: “Protect The Land” tem uma pegada mais melódica e com um ar mais grandioso. Por sua vez, “Genocidal Humanoidz” tem uma urgência em sua letra e sonoridade.
Vale lembrar que nenhuma das músicas foi escrita nos últimos meses. De acordo com informações reveladas, “Protect the Land” foi originalmente escrita por Daron para o Scars on Broadway, enquanto “Genocidal Humanoidz” surgiu em uma das reuniões em estúdio do System Of A Down há alguns anos, mas acabou sendo deixada de lado por conta dos conflitos internos.
Como foi a entrada em estúdio para o System Of A Down?
Nos últimos anos, muito se questionou sobre um novo material de inéditas do quarteto já que, claramente, cada um dos integrantes via o mundo de uma forma, principalmente por questões envolvendo a forma de trabalho da banda e, mais recentemente, por opiniões políticas.
Ainda que o System Of A Down tenha feito turnês nos últimos anos, o próximo passo sempre causou conflitos internos. Além de toda uma questão envolvendo a composição e gravação de novas músicas, nas quais o guitarrista Daron Malakian tem uma certa autonomia, o apoio público do baterista John Dolmayan a Donald Trump parecia ir contra as crenças do vocalista Serj Tankian, além de soar contraditório com as próprias letras da banda.
No entanto, o baixista Shavo Odadjian revelou que a reunião partiu do baterista. “Ele escreveu e disse que nós precisávamos colocar tudo para trás e fazer algo. ‘Nós precisamos ser parte disso. Nós precisamos ajudar de qualquer forma que pudermos. Isso, isso é maior do que nós, maior do que nossas emoções, maior do que nossos sentimentos, maior do que nossos egos. Vamos nessa’. E logo na hora, o Daron respondeu com ‘aqui, eu tenho algo que pode poupar tempo’”, revelou o baixista.
Shavo aproveitou para reforçar que os quatro são amigos e a importância das músicas supera qualquer adversidade que exista. “Nós somos amigos, sabe o que estou dizendo? Somos todos amigos. É só, a gente não tem chegado lá criativamente juntos. Então quando nós chegamos lá, de cara a tensão era um pouco alta porque nós não sabíamos como todo mundo estaria, mas cerca de cinco minutos depois, nós estávamos conversando, rindo, falando sobre a música, como ia ser, como vamos ajudar e o que isso vai fazer pelo nosso povo”, revelou. “Essa é a coisa número um, o que isso vai fazer para ajudar, como vai ajudar nosso povo. Porque eu sinto que é meio como um cavalo de Troia, sabe, é tipo, nós estamos entrando ali e o mundo vai ouvir porque já se passaram 15 anos sem fazermos nada”, completou.
Leia abaixo o pronunciamento da banda na íntegra:
Nós, como System Of A Down, acabamos de lançar novas músicas pela primeira vez em 15 anos. A hora de fazer isso é agora, pois juntos, nós quatro temos algo extremamente importante a dizer como uma voz unificada. Essas duas canções, “Protect The Land” e “Genocidal Humanoidz”, falam de uma guerra terrível e séria sendo perpetrada em nossas pátrias culturais de Artsakh e Armênia.
Estamos orgulhosos de compartilhar essas músicas com você e esperamos que gostem de ouvi-las. Além disso, encorajamos que vocês leiam para aprender mais sobre suas origens e, assim que o fizerem, esperamos que vocês se sintam inspirados a falar sobre as terríveis injustiças e violações dos direitos humanos que ocorrem lá neste momento. Mais importante e urgente, imploramos, com toda humildade, que você doe, em pequena ou grande quantidade, para ajudar as pessoas adversamente afetadas com o que são cada vez mais relatos de crimes contra a humanidade.
Em troca, você receberá os downloads dessas duas novas músicas e a sensação de que está realmente fazendo a diferença. Esses fundos serão usados para fornecer ajuda crucial, e desesperadamente necessária, além de suprimentos básicos para as pessoas afetadas por esses atos hediondos.
Em 27 de setembro, as forças combinadas do Azerbaijão e da Turquia (junto com terroristas Ísis da Síria) atacaram a República de Nagorno-Karabakh (Alto Carabaque) , que nós, como armênios, chamamos de Artsakh. No mês passado, civis, jovens e velhos, foram acordados dia e noite pelos sons e visões assustadores de ataques de foguetes, bombas caindo, mísseis, drones e ataques terroristas. Eles tiveram que encontrar refúgio em abrigos improvisados, tentando evitar que uma chuva de bombas de fragmentação, de uso ilegal, caíssem em suas ruas e casas, hospitais e locais de culto. Seus agressores incendiaram suas florestas e ameaçaram a vida selvagem usando fósforo branco, outra arma proibida.
E por que?
Porque mais de 30 anos atrás, em 1988, os armênios de Nagorno-Karabakh (que na época era um Oblast Autônomo dentro da URSS), estavam cansados de serem tratados como cidadãos de segunda classe e decidiram declarar sua legítima independência da República Socialista Soviética do Azerbaijão cujas fronteiras engolfaram as suas. Isso acabou levando a uma guerra de autodeterminação pelos armênios em Karabakh contra o Azerbaijão, que terminou em um cessar-fogo em 1994, com os armênios retendo o controle de suas terras ancestrais e mantendo sua independência até os dias atuais. Nosso povo vive lá há milênios e, para a maioria das famílias, é o único lar que eles e seus antepassados e mães, já conheceram. Eles só querem viver em paz como viveram há séculos.
Os atuais regimes corruptos de Aliyev no Azerbaijão e Erdogan na Turquia agora querem não apenas reivindicar essas terras como suas, mas estão cometendo atos genocidas impunemente sobre a humanidade e a vida selvagem para cumprir sua missão. Eles estão apostando que o mundo está muito distraído com COVID, eleições e agitação civil para anunciar suas atrocidades. Eles têm a banca, os recursos e recrutaram grandes firmas de relações públicas para descobrir a verdade e ocultar seu objetivo bárbaro de genocídio. Este não é o momento de fechar os olhos.
Há uma necessidade imediata de que os cidadãos globais exortem seus respectivos governos não apenas a condenar as ações desses ditadores desonestos, mas também a insistir que os líderes mundiais ajam com urgência para trazer a paz para a região e reconhecer corretamente Artsakh como a nação independente que é.
Sabemos que, para muitos de vocês, existem maneiras mais convenientes de como você gosta de ouvir música, portanto, considere a oportunidade de baixar essas músicas como um ato de caridade acima de tudo. Pense no preço de tabela para os downloads como uma doação mínima, e se você tiver a capacidade e puder ser mais generoso com sua doação, cada membro do System Of A Down ficará ainda mais grato por sua benevolência. Os royalties da banda desta iniciativa serão doados ao Armenia Fund, uma organização de caridade com sede nos Estados Unidos que fornece suprimentos necessários para a sobrevivência dos necessitados em Artsakh e na Armênia.
A música e as letras falam por si. Precisamos que você fale por Artsakh.
Paz,
Daron, Shavo, John e Serj