O cantor e compositor Pedro Laureano transforma as suas canções em um verdadeiro livro aberto de experiências pessoais, reflexões e análises em torno do que vivemos.
Com isso em mente e uma sonoridade que mescla rock e MPB, o carioca lançou recentemente o seu álbum de estreia Esperas. Produzido pelo músico Pedro Sá (Banda Cê, Tom Jobim, Orquestra Imperial), o trabalho conta com nove faixas inéditas.
Escrevendo e gravando canções há alguns anos, o professor universitário e pesquisador das relações entre psicanálise e arte lançou o seu primeiro EP em 2018 e, desde então, trabalha no material que resultou em seu álbum de estreia. “É uma estreia tardia depois de ter passado décadas compondo, mas sem gravar. É uma consequência também do trabalho dentro da academia e na articulação entre psicanálise e arte, já que as letras e mesmo as músicas são marcadas pela articulação entre as duas coisas”, revela o artista.
Esperas é resultado de um trabalho que navegou por diversos estilos e sem se prender a rótulos específicos. Ao longo das faixas, encontramos rock, samba, maxixe, progressivo e psicodelia. Tudo isso convivendo de forma pacífica e harmoniosa. “As composições foram nascendo das influências que tenho, que vão desde a música brasileira passando pelo rock a música erudita até algumas coisas do heavy metal. Acho interessante pensar esta confluência de estilos. De qualquer forma, é um primeiro trabalho que acho que reflete isso tudo, além das letras terem, muitas vezes, um tom de reflexão, ou mais filosófico, ou então mesmo de protesto”, resume o cantor e compositor.
Foram dois anos de gravação e desenvolvimento de arranjos que acabaram agregando convidados ao trabalho. Zé Ibarra, integrante da Dônica, aparece em “Barco de papel”; Jonas Sá, irmão de Pedro, surge na faixa-título como tecladista; Arto Lindsay divide as guitarras com o produtor em “Será que eu sigo?”; enquanto todas as baterias foram gravadas por Daniel Conceição. O restante dos instrumentos são assinados por Sá. “A parceria com o Pedro, que marca o trabalho, também é fruto destas visões de mundo e de música convergentes, já que o Pedro é também, da maneira dele, meio ‘filósofo’, a música dele traz uma proposta que é de pensamento também, uma visão de mundo na forma dele de se expressar”, comenta Laureano.
Esperas já está disponível nas plataformas de streaming.
Abaixo, veja o faixa-a-faixa feito por Pedro Laureano:
Moreno: Faixa que fala sobre morte/perda. O eu lírico seria (imaginei) uma mulher. Arranjo me remete, de alguma forma, a algumas coisas do Radiohead.
Desassossego: Era um choro, e para o disco virou um maxixe. Possui três partes, muito levada pela cozinha (baixo e bateria). Letra fala vagamente sobre o momento político atual.
Barco de papel: Faixa quase progressiva, cantada pelo Zé Ibarra, sobre um astronauta. Tom meio épico, fala sobre repetição na diferença.
Tudo vai passar: Um samba rock meio pesado, numa onda mais rifada. O riff foi o Pedro Sá que fez, é uma leitura dele de um samba que eu tinha. A letra fala sobre finitude e vontade de fazer coisas.
Será que eu sigo?: É um rock com harmonia/estrutura de samba, mas tocado como rock. O Arto Lindsay fez uma guitarra distorcida/noise que combina bem com o tema, sobre o cenário atual. A letra é política mas introduz dúvida no eu lírico.
É o fim: Faixa que chamamos, brincando, de “Sabbath”, já que gostamos de Black Sabbath e é uma faixa mais pesada. A letra é sobre fascismo.
Onda nova: É um samba meio psicodélico, com letra otimista.
João: Faixa que fiz para meu filho, João, que nasceu junto da concepção do disco. Uma balada meio rock, a letra filosofa sobre nascimento.
Esperas: Música que fiz há 13 anos atrás, quando tinha 25, e que batiza o disco. A letra é vaga, a mais poética do disco, menos narrativa. A ideia de esperas e dela ter esperado tanto para ser gravada dialogam. A música remete a Clube da Esquina, ou até a Pink Floyd/Zeppelin um pouco.