Grunge, stoner, punk, música clássica e elementos da cultura brasileira: essa é a mistura promovida pelo Deadman Dance, um power trio paulista que lançou recentemente o seu EP de estreia.
Com seis faixas, Ticking Clocks é um trabalho que zela pela tão falada criatividade. A combinação baixo e bateria – comandados por Henrique Codonho e Rafaela Antonelli, respectivamente – é acompanhada por um violino marcante tocado por Eduardo Geraissate, também responsável pelos vocais.
No entanto, a história da Deadman Dance começou bem antes. Eduardo teve seu início na música erudita aos 17 anos, tocando violino em orquestras, óperas e diversas formações dentro do estilo. Após integrar um trio de música instrumental brasileira, optou por seguir o caminho da música popular e a intensificar sua ligação com o rock. “Desde meu começo no violino e depois na faculdade de música, eu fiquei imerso na música clássica que é inerente do instrumento”, revela. “Quando eu decidi por começar o projeto, era algo solo, para dar vazão à ideias que eu carregava dentro de mim, mas que não tinha pra onde jogar. Iniciei fazendo loops sozinho, melodias, harmonias, até que resolvi enfiar uma letra, retomando um hábito de escrever que eu tinha deixado pra trás, quando comecei a estudar música. Só que eu sempre gostei da energia do rock, da crueza, quase um tapa na cara”, conta o violinista.
A proposta do grupo é desconstruir o formato clássico de um trio de rock ao usar do contraste de sonoridades cruas com o caráter inovador do violino em meio a gêneros onde o instrumento não é comumente utilizado. “As nossas influências vem desde Nirvana, Queens of the Stone Age, Radiohead, Far From Alaska, Joy Division, quanto da música popular brasileira. O nosso som vai no contrário da música de orquestra, sendo direto, rápido e agressivo em boa parte das vezes. Aqui o violino abandona o conceito de instrumento melódico, cuidando na maioria das vezes da parte harmônica, com o baixo fazendo as melodias entremeadas. A bateria aparece e costura tudo com precisão, preenchendo as frestas que ficam em aberto e dando o ritmo das músicas”, afirma Geraissate.
Tudo isso resultou em seu primeiro registro de estúdio. Produzido, mixado e masterizado por Alyson Borges no Cavalo Estúdio, em São Paulo, a estreia da Deadman Dance está disponível em todas as plataformas de streaming de música.
Abaixo, leia o faixa-a-faixa do EP escrito pela Deadman Dance:
- “Another Day” chega com o pé na porta e um solo rasgado do violino, que assume o protagonismo da guitarra. Com seu riff direto e repetitivo e uma sonoridade puxada para o punk, a música fala da esperança e desesperança do cotidiano, a lei do eterno retorno de Nietzsche, da inevitabilidade desses movimentos cíclicos e da permanência nesse tempo cronológico.
- “Thunder Clouds” é a nossa mais dançante, uma mistura de punk com bolero. Ela é bem romântica, quase que um melodrama de novela, pelo ritmo dos versos. Depois prepara o caminho para explodir, liberar toda a tensão contida. E o legal é que a música começa dessa forma, com essa liberação.
- “Won’t” com certeza é a música mais torta. Tem uma certa tensão de encantamento, como se a afirmação da letra fosse um mantra que a pessoa precisasse repetir para si várias vezes. Um mantra confuso, de difícil assimilação. Algo tortuoso de aceitar. Ela foi uma música que, num primeiro momento, era totalmente instrumental. A letra foi feita na época das eleições de 2018, quando o cenário estava se consolidando em uma realidade de candidato fascista. É a nossa posição de que não vamos abaixar cabeça ou aceitar abusos de nenhuma forma.
- Passando pelos terrenos do stoner, grunge e blues, “Hard Times” dialoga com o clássico “Manic Depression” de Jimi Hendrix. A música aborda as faces de um cotidiano desgastante da cidade. O peso da repetição de acordar, o caos da vida na cidade, transporte público, trabalho e fazer tudo de novo no dia seguinte.
- “(In)sane” dialoga com Queens of the Stone Age e Black Sabbath e a letra fala sobre o tensionamento das várias pontas de um sujeito, que são provocadas por fatores externos. É como um deja-vu de sofrimento, por estar revisitando situações em que o sujeito não sabe como agir. São cenas cotidianas e reais, que acabam perdendo o foco e sua materialidade conforme são repetidas, numa tensão que nunca chega a lugar algum.
- “Ticking Clocks” é, teoricamente, a principal do EP. Ela é muito mais grunge que as outras, só que com uma formalização mais punk. O grunge ele é muito mais solto, e conversa com essa obscuridade que tem na TC. O punk já tem uma questão mais formal nele, que atravessa o campo político. A TC está, assim, no meio dessas duas grandes categorias. Ela é menos stoner em si, porém não menos por estar também entre o punk e o grunge. Acho que conseguimos achar uma outra vertente para explorar esse meio do caminho, e isso que torna ela bem interessante.