Há mais ou menos um ano, Angel Olsen lançava All Mirrors, disco que se destacou como um dos principais registros de 2019.
Todos os elogios ao álbum (feitos inclusive por mim em uma resenha que escrevi aqui no Audiograma) foram merecidos; afinal, esse foi o trabalho em que Angel mais se expôs, não apenas no âmbito do que as letras abordavam, como também em relação à sonoridade que ela acabou explorando.
Agora, Olsen nos presenteou em 2020 com Whole New Mess, registro que tem na sua maior parte algumas primeiras versões de faixas do All Mirrors.
As músicas de Whole New Mess foram gravadas em 2018 pela artista, em um período ainda turbulento para ela. As gravações ocorreram em uma Igreja de uma cidadezinha do estado de Washington, quando a mesma estava isolada por conta de um término dolorido. Aliás, não apenas pelo término, mas por tudo que isso representou para ela: a perda dos amigos próximos ao casal, em meio a um período em que Olsen se sentia saturada com a exposição que alcançou por conta de MY WOMAN (2016).
Essa posição temporal em que se encontra Whole New Mess é pontual para notarmos a diferença desse disco para com All Mirrors; além disso, é importante destacar que todas as faixas foram feitas de forma solo, sendo o primeiro álbum de Angel nesse sentido desde Half Way Home (2012). A produção em WNM só contou com a ajuda de Michael Harris, produtor que é amigo da cantora.
Se tudo que constitui Whole New Mess é diferente em relação a All Mirrors, podemos analisar ambos de forma individual; no “novo” trabalho, a ausência dos violinos e a presença marcante, consistente e quase que única da voz de Olsen entregam uma nova representação às músicas que apareceram no álbum do ano passado. Nesse disco, é possível ver Angel ainda inserida de cabeça nos seus problemas; isso é sintetizado no vocal, que soa mais sofrido e sufocante em músicas como “Too Easy (Bigger Than Us)” e “(Summer Song)”.
Canções que já se mostravam excelentes em suas versões de All Mirrors, como “New Love Cassette” e “Lark”, ganharam uma roupagem mais dramática e despojada, se tornando ainda mais intimistas. Além disso, em Whole New Mess elas ganham um pequeno ajuste no nome: “(New Love) Cassette” e “Lark Song”; isso comprova como ambos os álbuns possuem contextos diferentes para Olsen (algo que a própria já confirmou). A música que levava o nome do disco anterior aparece aqui como “(We Are All Mirrors)”, e ficou melhor com a estética mais folk. É impressionante como o verso “Pelo menos às vezes me conhecia”, no final da faixa, diz muita coisa e se torna ainda mais tocante em WNM.
Além de algumas novas versões disponíveis, temos também as inéditas: a própria “Whole New Mess” e “Waiving, Smiling”. A faixa-título é especialmente incrível, e pode ser considerada uma das melhores da carreira de Angel. Nela, a cantora vai mais além nos seus problemas, demonstrando cansaço com o sucesso, e como a nossa mente se molda em situações exaustivas que se tornam rotineiras:
Faça uma bagunça totalmente nova de novo
Faça uma bagunça totalmente nova
Comemore o melhor
Tire uma foto para a imprensa novamente
Quando analisamos a sonoridade de Whole New Mess, o disco fica longe de ser uma novidade em relação ao que já vimos de Angel em seus primeiros trabalhos; por outro lado, ele é muito mais do que um suposto álbum de demos: ele nos mostra um outro lado da mesma moeda. Isso significa que, assim como em All Mirrors, WNM nos fala sobre a superação dos problemas e dos nossos traumas sentimentais, que aqui são narrados com muito mais amargura. Em Whole New Mess, Angel Olsen continua mostrando sua perspectiva pessoal em relação às dores originadas por suas relações mais íntimas; mais do que isso, traça como essas dores podem acontecer na vida de todos nós, fazendo dela uma inteira bagunça.
Angel Olsen – Whole New Mess
Lançamento: 28 de Agosto de 2020
Gravadora: Jagjaguwar
Gênero: Folk
Produção: Angel Olsen & Michael Harris
Faixas:
01. Whole New Mess
02. Too Easy (Bigger Than Us)
03. (New Love) Cassette
04. (We Are All Mirrors)
05. (Summer Song)
06. Waving, Smiling
07. Tonight (Without You)
08. Lark Song
09. Impasse (Workin’ for the Name)
10. Chance (Forever Love)
11. What It Is (What It Is)