Acho que a primeira memória que eu tenho sou eu chutando um bola. Eu sempre fui aquele primo que todo mundo tem que pede uma bola de natal. A minha foto favorita de pequeno sou eu vestido de goleiro, luvas e tudo, no colo do papai noel. Eu não consigo imaginar minha vida sem amar, jogar e viver futebol.
Lembro da primeira vez que eu toquei um violão, devia ter uns 4/5 anos. Estava na casa do meu primo mais velho e peguei o violão dele pra brincar. Afinal, quando a gente é pequeno, não saber tocar não existe. Se quando toca faz som, faz música. Já fui e voltei desse pensamento milhões de vezes e, hoje posso afirmar que é verdade, bateu, faz som, é música.
Pouco tempo depois ganhei meu primeiro violão, tinha uns 6 anos. Desde então, se eu fico dois dias sem pegar nele eu já me sinto meio vazio. Da mesma maneira que, quando eu não jogo meu futebol de segunda-feira, também sinto.
Música e futebol, pra mim, sempre foram a mesma coisa, eu só não fazia essa conexão. Dessa vez não vou ficar falando de como a música mudou o futebol e vice-versa, hinos, cantos etc. Vou falar de sentimento. De paixão. De um amor inexplicável que a gente sente e não há quem justifique. Que arrepia a nuca e a gente não entende. É gol, é show e é tudo isso junto.
Eu nasci e eu já queria ser jogador de futebol, meu deus como eu amava o Riquelme. O que leva uma criança brasileira a amar de paixão um jogador argentino? Por quê? Por que as pessoas continuam amando o John Lennon quando ele fez tudo o que fez e levou os Beatles a se separarem? Porquê a gente sente e aceita.
Meu pai sempre falou que música boa é aquela que faz a gente sentir. É isso. A música e o futebol fazem com que a gente se sinta vivo. Fazem com que a gente se sinta criança de novo e se perca de amores por coisas novas, pela descoberta e, por um instante, despertam aquele friozinho na barriga. É essa sensação mágica que move a gente, que faz a gente aguardar ansiosamente um jogo ou um show. É amor.
É esse amor que faz com que a gente viva e sinta que ta vivendo. Viver por viver não é sentir que ta vivendo. O sentir que ta vivendo vem justamente nesses momentos únicos que a gente não explica e que vem fácil no estádio. Estádio que joga e que toca.
Depois que eu cresci um pouco, lá pela minha adolescência, decidi que não queria mais ser jogador de futebol, mas sim músico. Eu mudei o caminho, mas o objetivo final era o mesmo. Tudo que eu sempre quis era fazer as pessoas sentirem essa paixão inexplicável. A lágrima que cai no show é a mesma que cai na final do campeonato e a garganta que grita gol é a mesma que canta.
Futebol é samba no pé.