Phoebe Bridgers faz parte de uma nova geração de mulheres incríveis entregando trabalhos incríveis. Com apenas 25 anos, a cantora californiana já colaborou com nomes do nível de Fiona Apple, Conor Oberst (Bright Eyes) e Matt Berninger (The National). Além disso, o seu EP colaborativo com Julien Baker e Lucy Dacus, resultando no boygenius, foi para muitos um dos melhores trabalhos de 2018. Por tudo isso, não dava para não ficar ansioso pelo lançamento de Punisher, seu álbum recém-lançado.
Bridgers ganhou os holofotes em 2017, com seu disco de estreia, Stranger in the Alps, e até mesmo antes disso já havia conquistado elogios com alguns singles que estariam posteriormente em seu primeiro álbum. Desde ali, era possível enxergar uma artista que conectava a arte com sua realidade, retratando problemas íntimos; como a mesma já disse em algumas entrevistas, “canções são como terapia”; é nítido como ela confronta esses demônios internos, demônios comuns para todos nós. É fácil se identificar com Phoebe.
Assim como em Stranger in the Alps, Punisher também funciona como um palco para que Bridgers exponha esses problemas. Entretanto, em Punisher, ela não apenas expõe, como busca caminhos para lidar com essas questões. Não é um álbum sobre odiar, mas sobre refletir. Se não há grandes mudanças melódicas em relação ao trabalho anterior, é nessa alteração de percepção que mora a maior diferença entre os dois registros; isso faz toda a diferença se considerarmos o nível das composições de Bridgers, que é tranquilamente uma das melhores letristas da atualidade.
Punisher se inicia com ‘DVD Menu’, instrumental que sampleia a última canção do LP de estreia; é interessante ver que, apesar de Punisher ser um passo à frente na carreira de Bridgers, tudo que a cantora se envolve acaba se conectando. ‘Garden Song’, primeiro single do álbum, toca em um tema que é bastante corriqueiro não apenas em Punisher, como em nossas vidas: o prazer em compartilhar seus interesses, mas também amar seu próprio crescimento, como se sempre estivéssemos escondendo nosso verdadeiro eu para quem está próximo. Além disso, Bridgers parece voltar ao passado, e conversar com ela mesma (“E quando eu crescer, eu vou procurar/Do meu telefone e enxergar a minha vida”).
‘Kyoto‘, mesmo parecendo solta em Punisher pelo tempo e ritmo mais acelerado em relação ao restante do álbum, é uma das melhores canções não apenas do registro, como também de 2020. Em meio aos versos, é possível enxergar uma Bridgers que se divide entre um momento feliz (uma turnê no Japão) e o impedimento de curtir totalmente esse momento por questões do passado, aqui representadas pelos problemas de bebida do pai: (“Me custou um dólar por minuto/Para você dizer que está ficando sóbrio”). A melodia é uma das mais audaciosas de Punisher, com as trompas e toda a orquestra que remete aos melhores anos do Arcade Fire.
À partir daí, Punisher se torna um trabalho muito mais minimalista, e ao mesmo tempo apaixonante conforme você vai escutando todos os inúmeros detalhes em suas camadas, como a guitarra barítono na ótima ‘Halloween‘. Além disso, quanto mais pessoal se torna o álbum, mais é possível se enxergar nele; a quinta música do registro parece ser em um primeiro momento uma balada romântica, mas se olhada mais à fundo se transforma em um hino para pessoas que se doam em relacionamentos mortos (“Sempre surpresa pelo que eu faço por amor/Algumas coisas que eu nunca espero”).
A faixa-título, definida pela própria Bridgers como um diálogo com um de seus maiores ídolos, Elliott Smith, mais do que ser uma homenagem, coloca a cantora na posição de uma fã que não sabe o momento certo de parar de falar (daí o termo punisher). Mais uma vez, a cantora quer falar sobre como nos colocamos em situações embaraçosas e não conseguimos sair delas.
Na segunda metade do álbum, é preciso ressaltar ‘Savior Complex’, em que Bridgers nos joga em uma dura situação: a tentativa desesperada de ajudar alguém até esquecermos dos nossos próprios problemas. ‘Graceland Too’, faixa que contém participação nos vocais de suas amigas e companheiras de boygenius, Julien Baker e Lucy Dacus, é outra que se destaca pelos seus detalhes escondidos nas texturas sonoras; os arranjos de violão, banjo e o órgão ao fundo transmitem melancolia e ao mesmo tempo força, materializando uma mensagem importante de Punisher: tentar sobreviver com os nossos desapontamentos. Por fim, ‘I Know The End’ é um desabafo: nossa vida já é um grande apocalipse. O coro e os gritos de Bridgers ao final da canção encerram com maestria uma obra que foi feita para impressionar pelos sentimentos que transmite.
Nos detalhes, Punisher se mostra um álbum muito maior e mais maduro do que o seu antecessor, Stranger in the Alps, mesmo que em um primeiro momento soe parecido; coloca também Bridgers como uma das grandes artistas da atualidade. Mesmo que não apresente novidades sonoras em relação ao que já vimos de Phoebe, Punisher faz algo mais importante: coloca ela como porta-voz de todos nós, pessoas que precisam lidar com problemáticas cada vez mais intensas, cada vez mais cedo.
Phoebe Bridgers – Punisher
Lançamento: 18 de Junho de 2020
Gravadora: Dead Oceans
Gênero: Indie rock/Emo Folk
Produção: Tony Berg, Ethan Gruska & Phoebe Bridgers
Faixas:
01. DVD Menu
02. Garden Song
03. Kyoto
04. Punisher
05. Halloween
06. Chinese Satellite
07. Moon Song
08. Savior Complex
09. ICU
10. Graceland Too
11. I Know The End