O ano de 2020 tem sido uma coisa completamente maluca e, por mais que não pareça, nós passamos apenas de sua metade. Assim como listamos as nossas dicas mensais, vamos seguir outra tradição das páginas laranjas e passar a limpo o que foi lançado em busca dos melhores álbuns de 2020 até então.
Passeando por vários gêneros, apontamos os 50 álbuns que chegaram às lojas ou serviços de streaming até o último dia 30 de junho que mais nos chamaram a atenção. Falamos um pouco sobre cada um deles e, como de costume, deixamos aquele player para você ouvir no Spotify.
Leia mais: O que vem por aí – lançamentos da música
Tem rock, tem pop, tem rap, tem material nacional… mais do que isso, tem um aperitivo do que deve ser parte do #Listão2020, aquela nossa tradicional série de listas que resumem o ano e que sairá em dezembro.
Em ordem alfabética, veja quais foram as nossas escolhas no primeiro semestre desse ano!
Gratitrevas, da ÀIYÉ
No ano passado, a baterista Larissa Conforto, que fez parte da incrível banda Ventre, mudou-se para Lisboa e começou um novo projeto solo: ÀIYÉ (palavra que tem origem na mitologia iorubá e significa terra, mundo físico, paralelo ao mundo espiritual). A imersão da artista nas religiões de matrizes afro (nesse caso, a Umbanda) foi, inclusive, uma grande inspiração para o primeiro trabalho, lançado pela Balaclava em março de 2020 com oito faixas inéditas. Gratitrevas conta com gravações feitas no Brasil e também em Portugal (inclusive no estúdio Estrela, de Marcelo Camelo) e é todo feito por Larissa: composição, produção (em parceria com Diego Poloni), vocais, percussão. Com letras reflexivas em português e muitas camadas sonoras, o trabalho chega a lembrar a dupla franco-cubana Ibeyi, que vem do mesmo universo inspiracional. É um som bem experimental e eletrônico, com muitas pitadas de jazz e música afro-brasileira (como samba, funk carioca e pontos de Umbanda), muito menos rock do que era a Ventre, mas igualmente lindo e autêntico, e Larissa surpreende como vocalista. A faixa “O Mito e a Caverna”, com participação de Vitor Brauer, tem rimas hipnóticas revelando mais um lado da Larissa compositora e cantora: poeta e rapper, acompanhada de uma bateria impressionante que já era característica conhecida dela. [BM]
The Neon Skyline, do Andy Shauf
Com pitadas de bom humor e auto-depreciação, o canadense Andy Shauf lança um álbum capaz de te atingir em cheio. The Neon Skyline aborda um findado romance de uma maneira que você consegue se identificar com as faixas já na sua primeira audição. Canções como “The Moon” e “Things I Do” são grandes momentos de um registro coeso, comovente e cativante, algo que certamente será lembrado ao longo do ano. [JP]
I Have No Time For Anything Else, da AnnaLu & The Skywalkers
Depois de ter tocado na banda Ballet Underground, o trabalho solo de Anna Lú começou em 2017 com o lançamento do single “Come To Save Me”, que tocou em mais de 17 rádios no Brasil e na França e tem uma introdução muito parecida com a do hit “Tonight, Tonight”, dos Smashing Pumpkins. Essa faixa também faz parte do disco e fez bastante sucesso na Europa, ultrapassando a marca de 13 mil audições mensais nos canais de streaming de lá! Além dos Smashing Pumpkins, outras referências musicais dos anos 90 soam presentes na obra, como Alanis Morrissete e The Cranberries. É rock, é em inglês, o destaque são as guitarras, mas também é muito pop e radiofônico, cativante e agradável de ouvir, com destaque para a voz gostosa e afinadíssima de Anna Lú. [BM]
KiCk i, da Arca
O quarto álbum da venezuelana Arca pode ser considerado o mais acessível da artista venezuelana. Por mais que não seja tão impressionante quanto o seu antecessor, KiCk iconsegue apontar novos direcionamentos musicais da cantora/produtora/DJ. Além de ser o registro mais próximo de Arca em relação ao que conhecemos do pop tradicional, Kick i mostra a inclinação da mesma para o reggaeton, especialmente nas faixas “Mequetrefe” e a ótima “KLK”, que contém participação da cantora Rosalía. Além da espanhola, o disco conta com outras colaborações de peso, como SOPHIE e Bjork. Vale a pena conferir o álbum, já que, quando falamos de Arca, é impossível prever o que pode vir, e em KiCk i é o que justamente acontece. [RS]
YHLQMDLG, do Bad Bunny
Yo Hago Lo Que Me Da La Gana, estilizado como YHLQMDLG é sem dúvidas o principal lançamento de um artista masculino quando se tratam de números. O álbum de Bad Bunny domina as plataformas de streaming desde seu lançamento. O disco recebeu 61 milhões de streamings no dia de sua estreia e foi o primeiro álbum da década a alcançar 2 bilhões de execuções. Sem faixas de enchimento, o destaque fica para “Solía”, um reggaeton de estrutura fragmentada com brilhante uso de vocoder; e também “La Santa”, parceria com o precursor do gênero, Daddy Yankee. O álbum de sucesso comercial e aclamação crítica apresenta solidez e um norte para o futuro do reggaeton, ao passo que mescla artimanhas pioneiras de produção no gênero e incorpora momentos políticos sem perder o teor confessional. [MG]
Rough And Rowdy Ways, do Bob Dylan
Em um momento onde se faz necessário, Bob Dylan chega com o seu primeiro trabalho de inéditas em oito anos pronto para te confortar e, ao mesmo tempo, te dar um soco. O músico reflete sobre a sociedade atual de uma forma requintada, meticulosa e, ainda assim, acessível. Rough And Rowdy Ways é a soma de letras brilhantes envolvidas por uma sonoridade recheada de camadas. Tudo isso resulta em um trabalho credenciado ao posto de melhor álbum do ano sem dificuldade. [JP]
Everything Else Has Gone Wrong, do Bombay Bicycle Club
Quase seis anos de espera e o novo álbum do Bombay Bicycle Club não decepcionou. Em Everything Else Has Gone Wrong, a banda capitaneada por Jack Steadman entrega mais um bom registro de sua discografia. Com um indie-pop cada vez mais refinado, o quarteto londrino entrega um trabalho extremamente qualificado e que aborda temas importantes como a sobrevivência em uma era de ansiedade ou o desenvolvimento da empatia, que chegam de forma direta e tornam o álbum algo de fácil audição. [JP]
GLUE, do Boston Manor
É possível afirmar que o pop punk alternativo feito pelo Boston Manor atingiu o seu ápice em GLUE. O terceiro álbum de estúdio da banda britânica é um trabalho que pode ser encarado como um divisor de águas: a banda consegue mesclar uma sonoridade apresentada em seu primeiro álbum com novos elementos, te levando de uma balada pop-punk clássica como “Plasticine Dreams” ao puro punk-rock de “Everything is Ordinary”. Músicas como “1’s & 0’s” e “Ratking” são bons destaques de um registro intenso e revelador do quinteto. [JP]
how i’m feeling now, da Charli XCX
Charli XCX entregou aquele álbum que, provavelmente, melhor traduz o período em que estamos vivendo. Como o seu nome já entrega, how i feeling now é o momento mais próximo da Charlotte Aitchison que poderíamos ter. Tudo isso embalado por um DIY bem feito e com uma sonoridade que tem a assinatura XCX. Transitando por temas como depressão, amor, ansiedades e incerteza, o álbum mostra toda a sua criatividade em faixas como “Pink Diamond”, “Forever”, “Claws”, “I Finally Understand”, “Anthems” e “Visions”. [JP]
3.15.20, do Childish Gambino
Impossível não elogiar aquele que pode ser o último álbum do Donald Glover sob a alcunha Childish Gambino. 3.15.20 é um daqueles álbuns capazes de te prender logo na sua primeira audição. Tem muitas coisas acontecendo ao longo de suas doze faixas e isso não é nenhum problema, muito pelo contrário. Sonoridades que vão se sobrepondo, abordagens interessantes na produção, letras marcantes…. ainda que ele te prenda, não é um álbum capaz de ser absorvido logo de cara. Por isso, ouça. Ouça novamente. Ouça mais uma vez. Vale a pena! [JP]
Ungodly Hour, de Chloe x Halle
Apesar de já estarem na estrada há alguns anos – inclusive como ato de abertura de grandes artistas como Beyoncé e Jay-Z, uma das grandes revelações de 2020 é o duo Chloe x Halle. Trazendo uma sonoridade pop e com muito conceito, as irmãs mostram em Ungodly Hour uma série de músicas com influências R&B, que servem para relaxar e até mesmo dançar. Mas não espere club bangers. Destaque para as músicas “Baby Girl”, “Do It”, que inclusive já tem um clipe impecável; “Tipsy” e “Don’t Make It Harder On Me”, que é a melhor do álbum em minha opinião. A sonoridade Macy Gray que a faixa traz me transporta para o início dos anos 2000, era musical que eu realmente sinto muita saudade. “ROYL” é outra música super interessante e fecha o álbum com chave de ouro: é radiofônica e até mesmo chiclete, perfeita para incluir na sua playlist. [YC]
Beginners, do Christian Lee Hutson
Beginners é o tipo de álbum que todo mundo deveria ouvir pelo menos uma vez na vida. Com o seu folk-rock bem afiado, o norte-americano Christian Lee Hutson escancara as nossas fragilidades de uma forma sutil e, ao mesmo tempo, bem direta. Medos, ansiedades, erros, lembranças, desejos… tudo bem amarrado ao longo de dez faixas marcantes. Um belo achado que já chega com um selo de aprovação concedido por nomes como Phoebe Bridgers e Conor Oberst. [JP]
Future Nostalgia, da Dua Lipa
Em seu segundo álbum de estúdio, Dua Lipa não veio para brincadeira. Quem esperou três anos para um novo cd da britânica, não se decepcionou. Inspirada pelo pop dos anos 80, Dua fez jus ao movimento, com linhas de baixo marcante e batidas disco. Escolhendo os singles com muita maestria, “Don’t Start Now”, “Future Nostalgia”, “Physical” e “Break My Heart” deram um gosto do que estava por vir e não decepcionou nem um pouco. É um CD para dançar, com músicas muito animadas e que ainda sim contam uma história, como todo álbum deveria. Dua co-escreveu todas as faixas e ainda trabalhou com nomes como Stuart Price, Jeff Bhasker e Jason Evigan. Além de fazer jus ao pop dos anos 80, Dua também sampleou a faixa “My Woman”, de Al Bowlly (que também foi sampleada por White Town em “Your Woman”), em “Love Again”; e “Need You Tonight”, do INXS, em “Break My Heart”. Do início ao fim, você se prende ao CD. Desde as linhas de abertura “Você quer uma música atemporal, eu quero mudar o jogo” em “Future Nostalgia”, passando pelo refrão eletrizante de “Hallucinate” e chegando ao fim, com “Good In Bed” – que eu pensei na Lizzo no momento que ouvi a música – e “Boys Will Be Boys”, onde Dua se posiciona com esse hino do empoderamento feminino, cujo refrão conta com integrantes do coral Stagecoach Epsom Performing Arts e onde chega a dizer “se você está ofendido com essa música, você está claramente fazendo algo errado”. [AM]
I’m Your Empress Of, da Empress Of
Em seu terceiro álbum sob a alcunha Empress Of, a hondurenha-americana Lorely Rodriguez está pronta para te fazer dançar em meio ao caos. Ao longo de suas doze faixas, I’m Your Empress Of mostra um synthpop cada vez mais bem produzido e que, dessa vez, ganha influências caribenhas em algumas de suas faixas. Tudo isso embala a abordagem de Lorely para as suas questões emocionais e pessoais. Um belo álbum! [JP]
Fetch the Bolt Cutters, da Fiona Apple
Leia a nossa resenha completa do Fetch the Bolt Cutters.
Com seus detalhes sonoros riquíssimos, a voz poderosa de Fiona como ponto central, além das composições de alto nível, Fetch The Bolt Cutters já se coloca como um forte candidato à disco do ano. Mais do que isso, esse é sem dúvida um dos melhores trabalhos de Fiona, por ser extremamente sincero e uma obra que só a cantora seria capaz de criar. Apesar dele ser o mais experimental de sua carreira, nunca vimos Apple tão exposta; ao lermos os pensamentos de Fiona que ali estão, Fetch The Bolt Cutters faz com que conversemos com nós mesmos, e consegue nos tocar. Um álbum que merece ser escutado infinitas vezes. [RS]
Alfredo, de Freddie Gibbs e The Alchemist
Freddie Gibbs libera mais um álbum colaborativo ao lado do The Alchemist. Em pouco mais de 30 minutos, Alfredo dá mais amostras de toda a qualidade presente no trabalho do rapper da Indiana, alinhado com uma produção marcante por seu ar sombrio e refinado. “Something to Rap About”, “God is Perfect” e “All Glass” são alguns exemplos de faixas que flertam com o hip-hop clássico, deixando clara a química entre os envolvidos. [JP]
Woman in Music Pt. III, do HAIM
O terceiro disco do trio californiano HAIM é definitivamente o melhor e mais interessante já lançado por elas. É notório a confiança e maturidade alcançada pelo grupo, que consegue explorar novas sonoridades de maneira bastante natural. As composições são ótimas e sintetizam bem o momento vivido pela banda, abordando o fato de não sentir medo de se arriscar e não dar ouvidos a quem sempre quer pará-las, servindo como uma forte mensagem de empoderamento feminino. Além disso, vale mencionar também o excelente trabalho de Rostam Batmanglij, Ariel Rechtshaid e Danielle Haim na produção. [RS]
The Loves of Your Life, do Hamilton Leithauser
Como resultado do hiato anunciado em 2014 pelo The Walkmen, o vocalista e guitarrista Hamilton Leithauser passou a se dedicar a uma interessante carreira solo, que entrega agora o seu quarto registro. Com uma mistura de indie-rock, country, pop-rock, o músico conta histórias da vida em um conjunto de letras bem marcantes. Como resultado, The Loves Of Your Life pode ser visto como o álbum de maior impacto em sua trajetória solo até então. [JP]
Petals For Armor, da Hayley Williams
Leia a resenha completa do álbum aqui no Audiograma.
Hayley Williams lançou um registro coeso, raivoso, com poderes femininos, um conceito bem trabalhado, muito bem produzido e que é preciso ser analisado duas ou três vezes para o seu completo entendimento. Petals For Armor é muito mais que um álbum: é a reconstrução de um ser humano, a sua descoberta como pessoa, como artista, como líder de um movimento que leva milhares a todo e qualquer canto do mundo. A “garota” tímida do Tennessee ganhou o mundo e não perdeu a si mesma. [HF]
Big Conspiracy, do J Hus
Se a ideia era colocar o seu nome de vez na música britânica – e mundial -, já podemos dizer que J Hus obteve êxito. Em seu segundo álbum, o rapper entrega um trabalho marcante e direto, se colocando de vez entre os destaques da emergente cena hip hop do Reino Unido. Big Conspiracy é bem pensado na sua produção, nas letras e em seus convidados e isso fica claro em músicas como “Reckless”, “Deeper Than Rap” ou em sua faixa-título. [JP]
TO LOVE IS TO LIVE, da Jehnny Beth
Jehnny Beth resolveu dar um tempo no Savages e lançar algo que pode ser encarado como uma bela sessão de terapia. TO LOVE IS TO LIVE é um registro pessoal e extremamente aberto da artista francesa, que fala sobre vulnerabilidade e escolhas de uma forma intensa que não caberia em sua banda. Com uma sonoridade rica e diversa, é um daqueles álbuns que impressiona pela ousadia e por mostrar um lado não tão explorado de Beth. Vale o play com atenção! [JP]
What’s Your Pleasure?, da Jessie Ware
Glamour, globos brilhantes, roupas estilosas… o novo álbum de Jessie Ware seria destaque em qualquer balada. What’s Your Pleasure? é bem construído do início ao fim e funciona como um belo tributo à Disco Music. Ou melhor do que isso, cria uma das pontes mais interessantes entre o gênero tradicional na década de 70 e os dias atuais. Em seu quarto álbum, Jessie prova ser um dos grandes nomes do pop britânico na atualidade e entrega mais uma amostra de sua qualidade e evolução. Poderoso! [JP]
Rastilho, do Kiko Dinucci
Em seu segundo álbum solo, Kiko Dinucci dá ao violão um grande destaque dentro da obra. Em meio a faixas autorais e releituras, o músico capricha na riqueza de detalhes em torno das onze canções escolhidas, resultando em um álbum conciso, bem produzido e que tem muito a nos dizer. Rastilho entra na lista de bons álbuns nacionais dos últimos anos e, desde já, pede espaço nas listas de melhores de 2020. [JP]
Chromatica, da Lady Gaga
Leia a resenha completa do álbum aqui no Audiograma.
Lady Gaga e sua equipe entregaram um ótimo álbum noventista, que estará no hall dos grandes revivals ao lado de Confessions on a Dance Floor, da Madonna; e Random Access Memories, do duo Daft Punk. E mesmo no timing errado, diante o caótico cenário de uma pandemia e longe das pistas de dança para qual foi feito, Chromatica já é histórico por nascer nostálgico, entoando sons que remetem a uma realidade que não nos pertence mais. [MG]
Song For Our Daughter, da Laura Marling
Simples e direto, Songs For Our Daughter é mais uma obra especial da Laura Marling. É difícil não gostar do que a cantora e compositora britânica tem lançado desde 2008 e não poderia ser diferente agora. Em menos de 40 minutos, Laura nos brinda com um álbum reconfortante, maduro e, provavelmente, mais acessível de toda a carreira. Só para exemplificar, “The End of the Affair”, “Held Down”, “Strange Girl” e “Alexandra” merecem estar em qualquer lista de melhores músicas lançadas em 2020. [JP]
Miss Colombia, da Lido Pimienta
Ao longo de onze faixas, Lido Pimienta entrega um álbum pop conceitual marcante. Miss Colombia é experimental ao ponto de conseguir mesclar elementos eletrônicos, elementos indígenas e cumbia enquanto fala de amores e perdas. É uma verdadeira viagem sonora na qual faixas como “Te Quería”, “No Pude” e “Resisto y Ya” aparecem como grandes destaques. “Nada” ainda tem a colaboração especial de Li Saumet, a voz do Bomba Estéreo. Vale o play! [JP]
Circles, do Mac Miller
Leia a nossa resenha completa do Circles.
De um modo geral, Circles não é apenas uma “carta de despedida” de Mac Miller, mas muito mais do que isso, é um registro de quem foi Miller: um ser humano iluminado. Miller pode ser considerado o Elliott Smith do hip-hop: mesmo com todos os problemas pessoas e sua triste trajetória, sua música é uma mensagem construtiva sobre o porquê passamos por certas coisas, e porque a vida é muito mais do que nossas tragédias. Circles consegue materializar tudo isso. [RS]
Mundo Novo, da Mahmundi
Em seu terceiro álbum de estúdio, a carioca Mahmundi abre o disco com um depoimento falado de Paulo Nazareth sobre convivência, autoconhecimento e relações humanas. Segundo a própria Mahmundi, “Mundo Novo” é seu primeiro trabalho falando do outro, celebrando encontros; e não uma imersão dentro de sua própria cabeça. O tema permanece na faixa “Convívio”, enquanto “Nova TV” tem um instrumental lindíssimo e fala da importância da gente se desligar para se preservar no meio do caos. Eu tive vontade de escutar essa faixa 3 vezes seguidas, de tão boa que é. E a música já ganhou um clipe bem legal, com drone e animação. O disco tem uma sonoridade bem MPB, muitos arranjos belos de violão e pegada anos 80, mas também muitas guitarras, baixo bem marcado e uma aura indie e moderna. Com apenas 7 músicas e 21 minutos de duração, o disco acaba rápido demais, porque é uma delícia de escutar, bonito do começo ao fim. Destaque para o reggae “Sem Medo”, que vai te deixar feliz e animado em segundos. [BM]
græ, do Moses Sumney
O cantor-compositor Moses Sumney é um daqueles artistas impossíveis de encaixar em uma prateleira – isso é, uma definição – sonora, e a prova disso está em seu segundo disco de estúdio, grae. Nele, Moses ultrapassa os caminhos do R&B, Soul e Pop, exibindo muito mais do que versatilidade, mas a insistência em não querer ser rotulado. O disco é potencialmente um dos mais criativos e encantadores lançados até agora em 2020, uma obra em que Sumney discute masculinidade tóxica, sexualidade e outros tópicos importantes sempre fazendo questão de manter sua identidade artística. [RS]
Homegrown, do Neil Young
Lá na década de 70, Neil Young engavetou o lançamento de Homegrown por ser um álbum que – segundo a análise do músico – destoaria de sua discografia. Quatro décadas depois, a lenda resolveu atender aos desejos dos fãs e liberar o registro que, de forma leve, fala sobre a sua relação com a atriz Carrie Snodgress. Ainda que tenha sido abordado em outros registros da época, o relacionamento é tratado por uma paleta diferente em Homegrown, fazendo do álbum um trabalho confessional, humilde e cativante. [JP]
Ghosts V: Together / Ghosts VI: Locusts, do Nine Inch Nails
De uma só vez, o Nine Inch Nails resolveu nos brindar com dois álbuns. Doze anos após Ghosts I–IV, Trent Reznor e Atticus Ross dão continuidade à série de canções ambiente iniciada em 2008. No primeiro álbum, a sua sonoridade nos leva para um mundo mais tranquilo e otimista, funcionando como um polo positivo do projeto. Já em Ghosts VI: Locusts, o caminho é outro. Ao longo de suas quinze faixas, damos a mão para a ansiedade e a agonia causada por algumas das faixas, que te jogam em uma atmosfera bem sombria. Apesar de criarem sensações distintas, são dois bons álbuns que se completam. [JP]
Pick Me Up Off the Floor, da Norah Jones
Atualmente, se fala muito sobre a evolução musical, busca por novos elementos e crescimento sonoro que, em certos momentos, parece que isso é uma regra para se construir um novo álbum. Na contramão de tudo isso está Norah Jones e o seu oitavo álbum de estúdio, Pick Me Up Off the Floor. Essencialmente, o registro entrega “a mesma coisa” que o platinado e premiado Come Away With Me, seu trabalho de estreia lançado em 2002. A novidade só reafirma a qualidade de Norah na composição e na construção das melodias, o que resultou na melhor seleção de faixas lançadas pela norte-americana em uns bons anos. “Say No More” e “I’m Alive” são duas pérolas em forma de música. [JP]
111, de Pabllo Vittar
Em seu terceiro álbum, Pabllo Vittar – acompanhada de seus parceiros habituais da Brabo Music Team – mistura música latina, axé, brega, funk, e até mesmo gospel, para entregar um disco dançante, cheio de singles com refrões grudentos e perfeito para baladas. Apesar de parte do disco ser formado de músicas já conhecidas pelo público devido ao lançamento do EP 111 1, no final de 2019, as músicas novas funcionam bem juntas, fazendo com que Pabllo novamente se mostre como uma das poucas artistas brasileiras que sabe como engajar e divertir o público. Destaque para “Rajadão”, uma mistura de hino gospel e trance que provavelmente não funcionaria com nenhum outro artista se não Vittar, e “Lovezinho”, parceria com Ivete Sangalo. [GC]
Set My Heart on Fire Immediately, do Perfume Genius
Não é de hoje que Mike Hadreas, que carrega o nome artístico de Perfume Genius, tem um merecido reconhecimento: graças aos seus trabalhos anteriores, Hadreas sempre se mostrou capaz de transportar sensibilidade e emoção por meio de sua arte, algo que também ocorre em seu novo álbum, Set My Heart On Fire Immediately. Com um instrumental poderoso, Mike discute questões sobre como é ser uma pessoa LGBT nos tempos de hoje, além da busca pela autoaceitação e equilíbrio nas nossas relações. [RS]
Punisher, da Phoebe Bridgers
Leia a nossa resenha completa!
Nos detalhes, Punisher se mostra um álbum muito maior e mais maduro do que o seu antecessor, Stranger in the Alps, mesmo que em um primeiro momento soe parecido; coloca também Phoebe Bridgers como uma das grandes artistas da atualidade. Mesmo que não apresente novidades sonoras em relação ao que já vimos, Punisher faz algo mais importante: coloca ela como porta-voz de todos nós, pessoas que precisam lidar com problemáticas cada vez mais intensas, cada vez mais cedo. [RS]
Welcome to Bobby’s Motel, do Pottery
Após chamarem a atenção com um EP, os canadenses do Pottery resolveram lançar o seu primeiro álbum e, se a expectativa já era boa, o resultado conseguiu surpreender ainda mais. Welcome to Bobby’s Motel é um daqueles álbuns que você não sabe para onde vai, tamanha a variedade de estilos e influências. Tendo como ponto de partida uma mistura de pós-punk com art-rock, o resultado instantaneamente nos faz lembrar do Talking Heads. “Hot Like Jungle” e “Under the Wires” são dois bons destaques de um álbum redondinho. [JP]
Every Bad, do Porridge Radio
A maldição do segundo álbum definitivamente não atingiu a discografia dos britânicos do Porridge Radio. Capitaneada pela vocalista, guitarrista e compositora Dana Margolin, a banda soltou o aguardado Every Bad e não decepciona. Muito pelo contrário. Bem construído, o álbum conta com onze faixas que vão do indie-rock ao post-punk, passando por pitadas experimentais bem marcantes. Em meio a tudo isso, os vocais marcantes e as composições diretas de Dana, que são destaque por todo o trabalho. [JP]
SAWAYAMA, da Rina Sawayama
Passando pelo pop, pelo R&B e pelo nu metal, Rina Sawayama utiliza referencias que vão de Britney Spears à Korn, para refletir sobre experiências, algumas delas familiares, em seu disco de estreia SAWAYAMA. Apresentando uma visão completa, concreta e muito clara de sua música, algo que poucos artistas conseguem fazer em um primeiro álbum, SAWAYAMA tem a capacidade de surpreender os ouvintes, já que é impossível prever o que virá a seguir: guitarras distorcidas aparecem no pré refrão de uma música que até aquele momento soava como um bem produzido pop tradicional, um instrumental à la Evanescence surge para ser misturado à elementos R&B no meio de uma das faixas e até mesmo algumas músicas que poderiam ser consideradas ~fillers~ e que, por vezes, lembram singles já lançados centenas de vezes por outros artistas tem a marca singular de Rina, tornando-as insubstituíveis no conjunto do álbum. Antes do lançamento de SAWAYAMA, Rina havia disponibilizado um remix de “Comme Des Garçons”, uma das melhores músicas do disco, com Pabllo Vittar. “Who’s Gonna Save You Now?”, que lembra uma mistura da sonoridade do No Doubt – no disco Tragic Kingdom – com o pop característico feito por Lady Gaga; e “XS” são outros dos destaques. [GC]
RTJ4, do Run The Jewels
Se tivéssemos que definir RTJ4 em um só adjetivo, poderíamos usar “necessário”. O álbum do superduo formado por Killer Mike e pelo produtor EI-P foi lançado em meio à semana onde os protestos pela morte de George Floyd nos EUA começavam a eclodir, e os tópicos abordados pelo disco casaram perfeitamente com o momento. RTJ4 também é um exemplo de como a música do Run the Jewels consegue percorrer diversos caminhos sonoros; prova disso está nas participações de Zack de la Rocha, Mavis Staples e Josh Homme. Por isso, o disco é mais uma exibição do talento da dupla, e surge como um forte candidato a melhor álbum de hip-hop em 2020. [RS]
color theory, da Soccer Mommy
Em seu segundo álbum, Sophie Allison entrega mais um belo conjunto de melodias, letras e uma voz marcante que fazem do Soccer Mommy um dos projetos mais legais do indie pop/rock. Com dez faixas, Color Theory mostra a evolução clara do trabalho de Allison, seja pelos riffs legais e bem construídos, pela forma com a qual ela aborda temas que podem parecer complicados de uma forma bem direta e, principalmente, por fazer tudo isso funcionar de forma coesa e cativante. É impossível não gostar de músicas como “circle the drain”, “yellow is the color of her eyes” ou “night swimming”. [JP]
925, do Sorry
Como fazer um álbum experimental, extravagante e, ao mesmo tempo, acessível? Os britânicos do Sorry conseguiram isso em 925, o seu primeiro álbum de estúdio. Após uma série de singles e EPs, o duo formado por por Asha Lorenz e Louis O’Bryen entrega um registro de treze faixas onde o indie-rock é o ponto de partida, mas que se permite misturar com outros elementos, tornando impossível categorizar o seu resultado final. 925 é indie-rock assim como é post-punk, dream-pop… é também o dono de uma das grandes músicas de 2020, “Starstruck”. [JP]
Home Ghosts, da Sound Bullet
A Sound Bullet resolveu colocar para fora todos os seus fantasmas em seu novo álbum de estúdio. Com letras que soam como desabafos e questionamentos, a banda carioca lançou Home Ghosts, registro que a consolida como um dos bons nomes da cena independente brasileira. Adicionando novas sonoridades a já conhecida mistura de indie rock, post-punk, rock alternativo e math rock, o quinteto constrói uma atmosfera rica e que nos convida para uma reflexão sobre a tão sonhada paz interior. [JP]
THE ALBUM, da Teyana Taylor
Teyana Taylor tomou para si o R&B tradicional e, explorando várias questões pessoais, conseguiu unir tudo isso em um registro que pode ser encarado como o mais completo de sua carreira até então. Recheado de convidados especiais – que vão de Erykah Badu a Ms. Lauryn Hill, passando por Future e Rick Ross -, THE ALBUM é um trabalho longo mas que está longe de ser cansativo. São 23 músicas em quase 80 minutos bem construídos onde Teyana fala sobre a sua vida, sexualidade, maternidade, vulnerabilidade ou a visão que o mundo tem dela. Tudo isso de forma clara, como Taylor sempre foi. [JP]
Shall We Go On Sinning So That Grace May Increase?, do The Soft Pink Truth
Está precisando daquele som ambiente bem feito que mescla jazz, deep house, techno, piano e outros elementos? O The Soft Pink Truth está pronto para te entregar isso. Em seu quinto álbum de estúdio, o projeto de Drew Daniel – conhecido pelo seu trabalho no duo Matmos – cria uma paleta experimental capaz de te transportar para outros lugares e sem o uso de qualquer substância. Harmonioso e bem gostoso de se ouvir! [JP]
The New Abnormal, do The Strokes
Leia a nossa resenha completa do The New Abnormal.
O que se pode tirar em relação à The New Abnormal é que finalmente temos um disco dos Strokes em que os integrantes de fato parecem com uma banda, estando em harmonia uns com os outros. Isso reflete nas canções, que são capazes de conquistarem novos públicos e provarem que o The Strokes amadureceu de forma positiva. Eles deixaram o passado pra trás, e se o futuro traz mudanças, as que ocorreram com Julian, Albert, Nick, Fabrizio e Nikolai fizeram muito bem. [RS]
After Hours, do The Weeknd
The Weeknd consegue equilibrar as suas personalidades musicais em seu novo álbum de estúdio. After Hours foge da aura dance de Starboy (2016), mas segue com a presença marcante da estética oitentista em seu som. Ao longo das faixas, você encontra elementos do começo da carreira, aquilo que o levou ao mainstream, situações de introspecção e momentos sombrios, tudo embalado pelo DNA marcante do músico canadense e uma bela produção. [JP]
It Is What It Is, do Thundercat
Por analogia, podemos dizer que o It Is What It Is é um álbum capaz de fazer com que você se sinta atropelado por um caminhão carregado de referências criativas, baixos marcantes e um jazz espacial, algo já característico na carreira do Thundercat. O seu quarto registro de estúdio é mais uma amostra de toda a capacidade e talento que reside na mente de Stephen Bruner, ao entregar algo que te conquista de várias formas: não só pelos momentos divertidos, bem como pelo laço que te segura nos momentos mais sombrios. Afinal, como um cara faz parecer fácil criar (mais) um álbum com tantas camadas e diversidades? [JP]
Heavy Light, da U.S. Girls
Se você quer grooves da era Disco em um Art Pop 2020, a pedida é o Heavy Light, novo álbum da Meghan Remy e o seu elogiado projeto U.S. Girls. Pop, psicodelia, pitadas de Soul e Disco se misturam ao longo das treze faixas do álbum, que conta com letras que caminham para um lado mais sombrio e ácido sobre as memórias pessoais e questões políticas. Vale a pela ouvir! [JP]
Saint Cloud, da Waxahatchee
Em seu quinto álbum de estúdio, o projeto capitaneado pela norte-americana Katie Crutchfield entrega um trabalho que preza pela sua simplicidade para fazer estragos no seu coração. Saint Cloud tem a seleção de faixas mais cruas e sinceras da Waxahatchee em toda a carreira, entregando um indie-rock de belas melodias enquanto fala sobre a vida, suas decisões, desconfortos e mudanças, traçando um paralelo com uma nova etapa na vida de Katie, que largou o álcool. Desde já, um dos grandes álbuns do ano. [JP]
Heaven To A Tortured Mind, do Yves Tumor
Em seu quarto álbum de estúdio, Yves Tumor entrega um álbum onde a bagunça organizada se faz presente. A imprevisibilidade de suas doze faixas conquistam logo de cara, deixando a sensação de caos convivendo lado a lado com o fascínio de se embarcar em uma viagem na qual você não sabe o destino e nem o seu caminho. É eletrônico, é rock, é psicodélico, é pop… tem de tudo um pouco nesse caldeirão experimental criado por Sean Bowie. Heaven To A Tortured Mind é, desde já, um dos grandes álbuns do ano. [JP]
Quer mais dicas de álbuns lançados em 2020?
Não deixe de ver as nossas listas com os álbuns interessantes que foram lançados em nossos álbuns preferidos de janeiro, fevereiro, março, abril, maio e junho. Aproveite e dê uma passada por nossa lista com os principais lançamentos previstos para o segundo semestre de 2020 no mundo da música.
Quem votou: Bárbara Monteiro, Gabrielle Caroline, John Pereira, Júlia Tetzlaff, Jullie Suarez, Nathalia Duarte, Rahif Souza e Yuri Carvalho.
Textos: Amanda Magalhães, Bárbara Monteiro, Gabrielle Caroline, John Pereira, Matheus Gouthier, Rahif Souza e Yuri Carvalho.