Foi difícil chegar ao fim do primeiro semestre, hein? Antes da nossa lista que resume – na parte musical – toda a loucura que foi esse 2020 até agora, chega a nossa seleção com os álbuns lançados em junho que mais nos chamaram a atenção.
Ao mesmo tempo em que lidamos com todas as questões de saúde pública, sociais e de políticas, o mundo da música não para de nos entregar os nossos adorados refrescos. Desta vez, separamos vinte e seis registros que provaram como junho foi um mês produtivo e interessante.
Entre os escolhidos, temos CeeLo Green, Sound Bullet, Norah Jones, HAIM, bem como outras coisas bem legais. De forma curta, cada um dos escolhidos recebeu uma mini-resenha que explica os motivos que os credenciam para essa lista.
Abaixo você encontra a nossa seleção com os 26 álbuns lançados em junho que você deveria ouvir. É só dar play no Spotify e (tentar) ser (um pouco mais) feliz, fechado?
KiCk i, da Arca
O quarto álbum da venezuelana Arca pode ser considerado o mais acessível da artista venezuelana. Por mais que não seja tão impressionante quanto o seu antecessor, KiCk i consegue apontar novos direcionamentos musicais da cantora/produtora/DJ. Além de ser o registro mais próximo de Arca em relação ao que conhecemos do pop tradicional, Kick i mostra a inclinação da mesma para o reggaeton, especialmente nas faixas “Mequetrefe” e a ótima “KLK”, que contém participação da cantora Rosalía. Além da espanhola, o disco conta com outras colaborações de peso, como SOPHIE e Bjork. Vale a pena conferir o álbum, já que, quando falamos de Arca, é impossível prever o que pode vir, e em KiCk i é o que justamente acontece. [RS]
TRANSLATION, do Black Eyed Peas
O Black Eyed Peas decidiu ousar para a grande volta triunfal do grupo. E, para isso, contou com a ajuda de um time de peso para a composição do Translation. O grupo – formado por will.i.am, Apl.de.ap e Taboo – apontou na direção do público latino-americano e foi com tudo. Ao lado de Shakira, Maluma, J. Balvin, Becky G e Piso 21, dentre outros, o Black Eyed Peas apostou na mistura do hip hop, track e reggaeton para a composição do álbum. Um dos pontos altos do Translation são as transições quase imperceptíveis de uma música para outra (o tipo de coisa que a gente adorou em Chromatica, da Lady Gaga, por exemplo). Os grandes destaques vão para “Mamacita”, ao lado de Ozuna e J. Rey Soul; e “Todo Bueno”, com o grupo Piso 21. Se é para destacar algo negativo desse trabalho é que, por alguns momentos, as batidas das músicas acabam parecendo levemente semelhantes, o que talvez possa causar uma sensação de dejavu em quem está escutando. Mas nada que impeça de coroar esse trabalho como um acerto do BEP. Uma grande festa latina no verão norte-americano. [ND]
Rough And Rowdy Ways, do Bob Dylan
Em um momento onde se faz necessário, Bob Dylan chega com o seu primeiro trabalho de inéditas em oito anos pronto para te confortar e, ao mesmo tempo, te dar um soco. O músico reflete sobre a sociedade atual de uma forma requintada, meticulosa e, ainda assim, acessível. Rough And Rowdy Ways é a soma de letras brilhantes envolvidas por uma sonoridade recheada de camadas. Tudo isso resulta em um trabalho credenciado ao posto de melhor álbum do ano sem dificuldade. [JP]
CeeLo Green Is Thomas Callaway, do CeeLo Green
CeeLo Green já fez de tudo um pouco na música. Hits, passeou por estilos, grandes parcerias… mas faltava dizer um pouco mais de si ou de suas raízes. É exatamente isso o que ele entrega em seu novo álbum, cujo título inclui o seu nome de batismo. Com uma produção comandada por Dan Auerbach (The Black Keys), o álbum mergulha de cabeça no soul, jazz, gospel e R&B que moldaram a juventude de Thomas e o resultado é brilhante. De longe, o melhor registro de CeeLo desde os tempos de Gnarls Barkley. [JP]
Ungodly Hour, de Chloe x Halle
Apesar de já estarem na estrada há alguns anos – inclusive como ato de abertura de grandes artistas como Beyoncé e Jay-Z, uma das grandes revelações de 2020 é o duo Chloe x Halle. Trazendo uma sonoridade pop e com muito conceito, as irmãs mostram em Ungodly Hour uma série de músicas com influências R&B, que servem para relaxar e até mesmo dançar. Mas não espere club bangers. Destaque para as músicas “Baby Girl”, “Do It”, que inclusive já tem um clipe impecável; “Tipsy” e “Don’t Make It Harder On Me”, que é a melhor do álbum em minha opinião. A sonoridade Macy Gray que a faixa traz me transporta para o início dos anos 2000, era musical que eu realmente sinto muita saudade. “ROYL” é outra música super interessante e fecha o álbum com chave de ouro: é radiofônica e até mesmo chiclete, perfeita para incluir na sua playlist. [YC]
A CULPA É DO MEU SIGNO [EP], da DAY
DAY resolveu abordar a sua sexualidade, estagnação, a relação com a fé e o medo de envelhecer em seu novo EP. Composto por cinco faixas, A culpa é do Meu Signo foi produzido pelo coletivo Los Brasileiros e mescla pop, emo e rock, estilos que fazem parte de suas referências musicais. O trabalho é bem amarrado e o resultado ajuda na consolidação da artista no cenário brasileiro. [JP]
Flight Tower [EP], do Dirty Projectors
O Dirty Projectors segue na sua saga de EPs e, em seu segundo capítulo, entrega algo mais próximo daquilo que estamos acostumados quando falamos de David Longstreth e companhia. Se o primeiro compacto era indie-folk, aqui temos um art-pop bem construído que embalam a bela voz de Felicia Douglass ao longo de suas quatro faixas. “Inner World” e “Self Design” são canções bem interessantes. [JP]
Ao Redor do Precipício, do Frejat
Ao longo de seu quarto álbum solo, é possível notar que Frejat se adequou bem a sua zona de conforto. Ainda que Ao redor do precipício dialogue com o momento atual da música – caso dos 40 segundos de “Batidão” que mescla funk ao rock -, a estrutura permanece a mesma. A voz marcante também segue presente e, mesmo após doze anos de espera, a certeza que fica é de que o novo trabalho vai agradar aos fãs. O resultado é um álbum redondo e bem produzido, que dialoga bem com a sua carreira até então. [JP]
Mia Gargaret, da Gia Margaret
Gia Margaret é uma norte-americana de Chicago que lançou o seu elogiado álbum de estreia em 2018, inclusive sendo um dos meus preferidos daquele ano. Do indie-folk da estreia, Gia mergulhou de cabeça na música ambiente em seu segundo álbum. O registro é resultado de um período complicado em sua vida, onde uma condição de saúde lhe impediu de cantar por um longo tempo. É com essa pano de fundo que a cantora construiu o Mia Gargaret, um registro curto e denso onde ela mostra as suas habilidades de outras formas. A sua voz só dá as caras na última música, criando um belo desfecho para um trabalho que, mesmo indo por um caminho totalmente inesperado, é repleto de bons momentos e merece elogios. [JP]
Woman in Music Pt. III, do HAIM
O terceiro disco do trio californiano HAIM é definitivamente o melhor e mais interessante já lançado por elas. É notório a confiança e maturidade alcançada pelo grupo, que consegue explorar novas sonoridades de maneira bastante natural. As composições são ótimas e sintetizam bem o momento vivido pela banda, abordando o fato de não sentir medo de se arriscar e não dar ouvidos a quem sempre quer pará-las, servindo como uma forte mensagem de empoderamento feminino. Além disso, vale mencionar também o excelente trabalho de Rostam Batmanglij, Ariel Rechtshaid e Danielle Haim na produção. [RS]
The Prettiest Curse, do Hinds
Em constante evolução, o Hinds entregou aquele que é o seu álbum mais rico até hoje. Com um indie-rock cada vez mais refinado, o terceiro álbum da banda espanhola mostra que as suas quatro integrantes estão cada vez mais afiadas e consistentes. The Prettiest Curse é divertido, envolvente e inspirado, recheado de melodias assobiáveis e pronto para as arenas. A produção de Jennifer Decilveo é outro ponto que merece destaque. [JP]
TO LOVE IS TO LIVE, da Jehnny Beth
Jehnny Beth resolveu dar um tempo no Savages e lançar algo que pode ser encarado como uma bela sessão de terapia. TO LOVE IS TO LIVE é um registro pessoal e extremamente aberto da artista francesa, que fala sobre vulnerabilidade e escolhas de uma forma intensa que não caberia em sua banda. Com uma sonoridade rica e diversa, é um daqueles álbuns que impressiona pela ousadia e por mostrar um lado não tão explorado de Beth. Vale o play com atenção! [JP]
What’s Your Pleasure?, da Jessie Ware
Glamour, globos brilhantes, roupas estilosas… o novo álbum de Jessie Ware seria destaque em qualquer balada. What’s Your Pleasure? é bem construído do início ao fim e funciona como um belo tributo à Disco Music. Ou melhor do que isso, cria uma das pontes mais interessantes entre o gênero tradicional na década de 70 e os dias atuais. Em seu quarto álbum, Jessie prova ser um dos grandes nomes do pop britânico na atualidade e entrega mais uma amostra de sua qualidade e evolução. Poderoso! [JP]
CORPO SEM JUÍZO [EP], de Jup do Bairro
A mescla de estilos e sonoridades se faz presente em CORPO SEM JUÍZO, o EP de estreia de Jup do Bairro. Produzido por BadSista, o primeiro registro da artista paulistana aborda sexualidade, política e o corpo ao longo de suas sete faixas, com destaque para “Pelo Amor de Deize” e o seu refrão hard-rock com participação de Deize Tigrona. Inclusive, só para descrição da faixa você já consegue entender como o EP é um registro plural e diverso. [JP]
Mordechai, do Khruangbin
Não dá para discutir: o Khruangbin conta com uma das sonoridades mais ricas da música na atualidade, graças a sua bela mistura de psicodelia, soul, funk, dub e rock. Dito isso, o trio parece querer explorar novos pontos em sua carreira e Mordechai é um belo exemplo disso. O terceiro registro de estúdio da banda consegue aliar a sua sonoridade incrível a vocais bem trabalhados, resultando em um álbum que dialoga perfeitamente com o momento atual no mundo. É uma música capaz de te transportar para um lugar bonito e tranquilo na companhia de uma trilha sonora marcante. [JP]
Lamb of God, do Lamb of God
Em alguma época da minha vida, eu ouvia Lamb of God e achava interessante. Tempos depois, resolvi revisitar o trabalho da banda norte-americana ao ver bons comentários em torno do recém-lançado álbum autointitulado. Bem produzido, o trabalho de dez faixas mostra que a banda reencontrou a sua velha boa forma do começo dos anos 2000 e, mais do que isso, deixa claro que o Lamb of God sabe o seu lugar. [JP]
Without You [EP], do Lauv
A “moderna solidão” do cantor Lauv chega em um EP rápido, doloroso e nostálgico. Without You é algo que podemos descrever como a dor dos relacionamentos cantada em quatro músicas. Com melodias gostosas que remetem muito aos últimos trabalhos do norte americano, o registro é um pouco mais do mesmo, porém com uma dose mais medida de melodrama e melancolia. Mais uma vez o cantor entrega bons vocais e arranjos bem feitos, até mesmo na faixa demo. Seu segundo EP inclusive parece que veio como um “deluxe” do álbum ~ how i’m feeling~. Isso é a evolução de um artista que está encaminhando primorosamente a sua ascensão. [HF]
Muzz, do Muzz
Paul Banks, Matt Barrick e Josh Kaufman resolveram se juntar em um supergrupo indie e, em seu álbum de estreia, o Muzz não faz feio. Autointitulado, o registro de doze faixas soa como uma estranha colcha de retalhos, por mais estranho que isso possa parecer. A alcunha “supergrupo” nos faz esperar por algo grandioso e capaz de arrebatar todos os corações logo na primeira ouvida e o Muzz vai pelo caminho oposto. É um álbum interessante e inteligente, mas que não foi feito para agradar quem quer que seja, sobretudo os fãs dos projetos anteriores do trio. Ainda que você encontre elementos do Interpol, The Walkmen ou dos diversos trabalhos de Kaufman, o Muzz é aquele seu tênis surrado que parece estranho por fora, mas ainda é confortável… a bela “Broken Tambourine” que o diga. [JP]
Homegrown, do Neil Young
Lá na década de 70, Neil Young engavetou o lançamento de Homegrown por ser um álbum que – segundo a análise do músico – destoaria de sua discografia. Quatro décadas depois, a lenda resolveu atender aos desejos dos fãs e liberar o registro que, de forma leve, fala sobre a sua relação com a atriz Carrie Snodgress. Ainda que tenha sido abordado em outros registros da época, o relacionamento é tratado por uma paleta diferente em Homegrown, fazendo do álbum um trabalho confessional, humilde e cativante. [JP]
Pick Me Up Off the Floor, da Norah Jones
Atualmente, se fala muito sobre a evolução musical, busca por novos elementos e crescimento sonoro que, em certos momentos, parece que isso é uma regra para se construir um novo álbum. Na contramão de tudo isso está Norah Jones e o seu oitavo álbum de estúdio, Pick Me Up Off the Floor. Essencialmente, o registro entrega “a mesma coisa” que o platinado e premiado Come Away With Me, seu trabalho de estreia lançado em 2002. A novidade só reafirma a qualidade de Norah na composição e na construção das melodias, o que resultou na melhor seleção de faixas lançadas pela norte-americana em uns bons anos. “Say No More” e “I’m Alive” são duas pérolas em forma de música. [JP]
Punisher, da Phoebe Bridgers
Leia a nossa resenha completa!
Nos detalhes, Punisher se mostra um álbum muito maior e mais maduro do que o seu antecessor, Stranger in the Alps, mesmo que em um primeiro momento soe parecido; coloca também Phoebe Bridgers como uma das grandes artistas da atualidade. Mesmo que não apresente novidades sonoras em relação ao que já vimos, Punisher faz algo mais importante: coloca ela como porta-voz de todos nós, pessoas que precisam lidar com problemáticas cada vez mais intensas, cada vez mais cedo. [RS]
Welcome to Bobby’s Motel, do Pottery
Após chamarem a atenção com um EP, os canadenses do Pottery resolveram lançar o seu primeiro álbum e, se a expectativa já era boa, o resultado conseguiu surpreender ainda mais. Welcome to Bobby’s Motel é um daqueles álbuns que você não sabe para onde vai, tamanha a variedade de estilos e influências. Tendo como ponto de partida uma mistura de pós-punk com art-rock, o resultado instantaneamente nos faz lembrar do Talking Heads. “Hot Like Jungle” e “Under the Wires” são dois bons destaques de um álbum redondinho. [JP]
RTJ4, do Run The Jewels
Se tivéssemos que definir RTJ4 em um só adjetivo, poderíamos usar “necessário”. O álbum do superduo formado por Killer Mike e pelo produtor EI-P foi lançado em meio à semana onde os protestos pela morte de George Floyd nos EUA começavam a eclodir, e os tópicos abordados pelo disco casaram perfeitamente com o momento. RTJ4 também é um exemplo de como a música do Run the Jewels consegue percorrer diversos caminhos sonoros; prova disso está nas participações de Zack de la Rocha, Mavis Staples e Josh Homme. Por isso, o disco é mais uma exibição do talento da dupla, e surge como um forte candidato a melhor álbum de hip-hop em 2020. [RS]
Home Ghosts, da Sound Bullet
A Sound Bullet resolveu colocar para fora todos os seus fantasmas em seu novo álbum de estúdio. Com letras que soam como desabafos e questionamentos, a banda carioca lançou Home Ghosts, registro que a consolida como um dos bons nomes da cena independente brasileira. Adicionando novas sonoridades a já conhecida mistura de indie rock, post-punk, rock alternativo e math rock, o quinteto constrói uma atmosfera rica e que nos convida para uma reflexão sobre a tão sonhada paz interior. [JP]
THE ALBUM, da Teyana Taylor
Teyana Taylor tomou para si o R&B tradicional e, explorando várias questões pessoais, conseguiu unir tudo isso em um registro que pode ser encarado como o mais completo de sua carreira até então. Recheado de convidados especiais – que vão de Erykah Badu a Ms. Lauryn Hill, passando por Future e Rick Ross -, THE ALBUM é um trabalho longo mas que está longe de ser cansativo. São 23 músicas em quase 80 minutos bem construídos onde Teyana fala sobre a sua vida, sexualidade, maternidade, vulnerabilidade ou a visão que o mundo tem dela. Tudo isso de forma clara, como Taylor sempre foi. [JP]
Vintage Culture e Friends 3 [EP], do Vintage Culture
Vintage Culture – ou Lukas Ruiz – chamou os amigos Gabe, KVSH, Dashdot e Meca para fazerem parte do Vintage Culture e Friends 3. Lançado durante a quarentena, o EP tem como objetivo levar as pistas de dança para os fãs que estão passando por esse momento de isolamento social e tornar a situação mais leve. Objetivo, esse, alcançado com sucesso. Com músicas de alta qualidade e fluidas, o DJ entregou um material impecável. É aquela história: o único defeito é que termina. É difícil pensar como Vintage Culture pode se superar nos próximos trabalhos, mas ele sempre consegue, e já estamos ansiosos por isso. Os grandes destaques vão para “Colour of My Heart”, com Meca; e “Descontrol”, com KVSH. [ND]
Quer mais dicas além dos álbuns lançados em junho?
Aproveite para dar uma olhada em nossas listas com os registros que saíram em janeiro, fevereiro, março, abril e maio. Além disso, fique ligado aqui no Audiograma para acompanhar as seleções dos próximos meses de 2020, cuja programação você encontra em nossa lista com os principais lançamentos previstos no mundo da música.
Por fim, não deixe também de dar uma olhadinha em nossa lista especial com os 100 melhores álbuns do ano passado.
Textos: Henrique Ferreira, John Pereira, Nathalia Duarte, Rahif Souza e Yuri Carvalho.