O The Creatures foi um projeto musical feito por Siouxsie e Budgie em 1981, mesmo ano em que os Banshees lançaram o álbum Juju. Não há dúvida de que ao lado de seu marido e companheiro de banda, Sioux encontrou maior liberdade para se expressar. Não à toa, muitos consideram que o The Creatures sempre foi o auge de sua carreira.
O Boomerang foi gravado na Espanha e, certa vez, Budgie me revelou que o processo de criação do álbum foi muito marcante. Sabemos, por intermédio de inúmeras entrevistas, que ele e Sioux se divertiram muito por lá e essa doce experiência é refletida nas músicas. No geral, em suas composições, notamos que o Boomerang conta com a participação de vários instrumentos, e é possível considerar que possui um refinamento sonoro maior do que o Feast (debut do duo), que no geral é mais cru e experimental se comparado a este álbum. Outra característica que o diferencia de seu antecessor é que o Boomerang dialoga com gêneros musicais bem variados, tais como o Jazz, o Blues e a música flamenca, tradicional da Espanha – sendo que esse estilo se faz evidentemente presente na faixa “Standing There”.
No período em que gravaram esse álbum, Sioux e Budgie aparentemente já haviam exorcizado seus fantasmas (ou, ao menos, se afastado deles), pois nessa produção, não havia interesse em explorar seus lados mais sombrios, e a agressividade herdada pelo Punk Rock já não fazia sentido, sendo que tais aspectos (dentre outros) foram influências na discografia dos Banshees. Era um momento de ataraxia (tranquilidade interior), que oferecia ao duo a chance de navegar por mares desconhecidos. Os dois também certamente se sentiam mais livres em suas gravações, já que dependiam apenas da harmonia que havia entre eles e não se preocupavam com possíveis reprovações de terceiros (leia-se “Severin”) que, eventualmente, pudessem “travar” seus processos criativos, querendo filtrar suas ideias.
O Boomerang parece-me ser o fruto dessa firmação criativa, livre e espontânea, que se desdobra num verdadeiro convite para que aproveitemos a poesia que se esconde mediante a tragédia da vida, pois mesmo diante da tormenta, ainda resta luz, e o álbum, parece-me, é justamente uma elegante celebração dessa luminosidade.
É nele que Siouxsie assume o papel de uma Sibila que, em seu transe, pronuncia palavras celestiais. Budgie, por sua vez, garante as batidas mais espetaculares possíveis, que, na dose certa, sustentam as melodias cantadas pela companheira. É uma verdadeira obra de arte, muito inventiva e caprichosamente original. O Boomerang representa o auge do brilhantismo da dupla.
Desde a primeira vez que o escutei, percebi que essa exótica obra-prima é um verdadeiro sopro divino que nos envolve magicamente do início ao fim. Suas músicas nos transportam para os lugares mais improváveis, instigam a imaginação e despertam sensações únicas. Todas as produções do The Creatures são espetaculares, com uma discografia bem variada em termos de sonoridade e conceitos. Mas, no geral, o Boomerang foi o mais elogiado e é, certamente o mais inspirador de todos os álbuns lançados por Siouxsie e Budgie. Simplesmente não há banda que soe como o The Creatures e nada nunca se aproximou da admirável singularidade que permeia a essência do álbum.
The Creatures – Boomerang
Lançamento: 06 de Novembro de 1989
Gravadora: Polydor/Geffen
Gênero: Alternative Music
Produção: Mike Hedges e The Creatures.
Faixas:
01. Standing There
02. Manchild
03. You!
04. Pity
05. Killing Time
06. Willow
07. Pluto Drive
08. Solar Choir
09. Speeding
10. Fury Eyes
11. Fruitman
12. Untiedundone
13. Simoom
14. Strolling Wolf
15. Venus Sands
16. Morriña