Texto com apoio de Juliana Vannucchi.
It’s Hell Out There é um álbum de estúdio do talentoso multi-instrumentista John Moore, que em sua carreira já passou por bandas magníficas como The Jesus and Mary Chain e Black Box Recorder. No entanto, diferente dessas bandas cuja sonoridade é mais voltada ao som alternativo, as músicas solo de Moore parecem mais voltadas a imagens filosóficas que são por vezes cômicas, em outros momentos sombrias ou até mesmo absurdas, e que possuem rimas bastante inteligentes. Um exemplo perfeito de imagens kafkianas que John pinta nesta produção é a canção que dá nome ao álbum e o inicia, “It’s Hell Out There”. Ela dá dicas em seu som soturno e rural do que nos aguarda no trajeto restante dessa aventura musical.
De maneira geral, as letras apresentam retratos jocosos sobre sexo e voyeurismo, há também referências a pontos na Grã-Bretanha e imagens bíblicas. Vamos mergulhar em todas faixas, começando por “Billy Fury Way”, que vem na sequência da faixa de abertura e que apresenta de forma majestosa o tema da mortalidade e o que nos espera “do outro lado”. É com certeza um dos pontos mais altos do álbum, com um violão melancólico acompanhado de um efeito dissonante e um belo quarteto de cordas. Os simbolismos que Moore usa são sublimes: alusões à morte do Rock n’Roll, a inevitável realidade do fim do ciclo da vida e a menção ao óbolo de Caronte fazem dessa canção uma das melhores em termos de som e temática do underground moderno.
Após uma canção tão impactante, Moore diminui um pouco do sentimento lúgubre que pairava até o momento, dando espaço a “The North Sea Fisherman”, que é mais alegre e folclórica e que aborda viagens marítimas, constelações e amor, consistindo certamente num dos momentos mais belos do álbum. A próxima música, “Fantic Dreams (Of Sweet 16)”, é uma quebra enorme com o que vimos até agora, pois essa faixa é um casamento perfeito de Rock n’Roll com música eletrônica, sendo carregada de sintetizadores hipnotizantes e baterias eletrônicas, que fazem dela uma verdadeira viagem! São seis minutos muito bem aproveitados que passam rapidamente, sem que nenhum instrumento tome muito o espaço do outro e havendo diversas camadas interessantes por toda a faixa.
“If The Beatles Had Never Existed”, além do seu título interessante, continua com a mesma intensidade da anterior, porém se aproxima mais de um Rock puro com sons experimentais. É como se fosse uma versão moderna de “Revolution 9” com as guitarras sujas e uma duração longa. Também há diversas referências a nomes das canções, letras e rearmonizações vocais. Vale a pena conferir, pois é uma das mais frenéticas do álbum. “October Rose” volta-se ao som melancólico do início, porém, é um som mais esperançoso e bem rockabilly – e não se deixe enganar pela voz morosa e o violão triste do início da canção antes de sua explosão na metade da faixa, apenas para voltar ao som amargurado…
Com seu andamento lento e notas de piano um tanto trágicas, “(Life Is a Fucking) Fiasco” poderia ser a canção perfeita para se dançar num baile de formatura. Embora sua letra seja um tanto pessimista e mostre que a vida é um verdadeiro fiasco, além de ser repleta de injustiça, é difícil não se apaixonar pela música. “Oh Baby, What Have You Done?” segue a mesma fórmula e pode ser considerada um ode às canções de tragédias amorosas dos anos 60 e provavelmente faria parte de canções lendárias que seriam banidas da época ao lado de “Johnny Remember Me”… e vale notar que nessa faixa há um ataque ao presidente Donald Trump. Fechando com chave de ouro, o álbum é maravilhosamente finalizado com “No One Listens To Music Any More”, faixa minimalista, bela e com um verdadeiro tom de despedida, não apenas do álbum mas a todos os grandes artistas influentes do passado que, infelizmente, não estão mais entre nós ou parecem ter sido esquecidos pelo mundo.
It’s Hell Out There é um álbum sublime no qual encontramos uma visão filosófica que apresenta o mundo e suas inconstâncias e incertezas. Há versos que mostram certo temor com os caminhos que a sociedade está tomando e que retratam um mundo completamente conectado, mas no qual, ao mesmo tempo, encontram-se pessoas distantes umas das outras e que se esquecem daquilo que está em seus entornos. Embora o álbum possa parecer assustador, há momentos nele – até mesmo em suas partes mais lúgubres – em que certa esperança pode ser sentida, como é o caso da última faixa que pode ser tão vista como tanto como uma despedida, quanto como uma celebração de tudo o que a música trouxe a nós e continuará a trazer futuramente. E se levarmos em conta a atual situação em que o mundo se encontra, o álbum pode soar até mesmo um tanto profético.
É realmente um inferno lá fora…
John Moore – It’s Hell Out There
Lançamento: 05 de Julho de 2019
Gravadora: Independente
Gênero: Alternative Rock
Produção: John Moore
Faixas:
01. It’s Hell Out There
02. Billy Fury Way
03. The North Sea Fisherman
04. Fantic Dreams (Of Sweet Sixteen)
05. If The Beatles Had Never Existed
06. October Rose
07. (Life Is a Fucking) Fiasco
08. Oh Baby, What Have You Done?
09. No One Listens To Music Any More