Em algum momento da vida, você já se pegou pensando nas músicas que ouve e em como o seu gosto pode ter mudado com o passar do tempo.
Seja por reflexo da sua idade ou mudanças de estilo nos artistas, é provável que você tenha agregado sons diferentes ao seu conjunto de playlists com o passar do tempo e, similarmente, é possível que as suas impressões iniciais sobre algumas músicas tenham se alterado.
Eventualmente, lidamos com aquele famoso ditado popular também na música. O tal do “a primeira impressão é a que fica”, sabe?! Contudo, a arte é capaz de fazer com que a gente mude de opinião, graças a um conjunto de fatores: a sua forma de pensar, abertura para novidades, um novo círculo social… é natural que algo passe a chamar a sua atenção ao longo do tempo sem, necessariamente, substituir aquilo que você ouvia anteriormente.
Kings Of Conveni… oi?
Talvez eu esteja só delirando, mas imagino que isso já tenha acontecido com muitas pessoas: vários artistas que hoje eu acompanho e escuto com frequência já ganharam uma ou outra “cara feia” no primeiro contato. Um grande exemplo pessoal para mim é o Kings Of Convenience. Lá por 2004 ou 2005, não lembro ao certo, alguém – com quem perdi totalmente o contato – me indicou o Riot On An Empty Street para ouvir.
Apenas com a informação que era uma dupla norueguesa de folk-pop, utilizei-me de formas escusas para obter o álbum. Não sei bem o que esperava, mas consegui ouvir apenas as três primeiras músicas – “Homesick”, “Misread” e “Cayman Island” – antes de pular para a quinta, cujo nome tinha me chamado a atenção. Logo após o fim de “Know-How”, fechei o famigerado Winamp, liguei o som da casa e coloquei o Hybrid Theory do Linkin Park para tocar. A explicação? Eu simplesmente não suportei a voz incrível, angelical e maravilhosa da Feist. Sim, eu cometi uma das maiores heresias musicais da minha vida.
Como eu nunca fui uma pessoa de apagar as músicas obtidas de formas escusas, o álbum ficou perdido no meio das pastas e, anos depois, resolvi ouvir novamente. Inesperadamente, descobri após as doze faixas que o Riot On An Empty Street era um dos álbuns mais interessantes que já tinha ouvido. “I’d Rather Dance With You” é, provavelmente, uma das coisas mais legais daquela década e a voz da Feist… ah, aquilo ganhou outro sentido para mim, tanto que o The Reminder foi um dos álbuns mais ouvidos após essa redescoberta.
Você não gostava do White Stripes?
Outro nome com o qual eu não fui muito amigável no começo foi o The White Stripes. Sim, eu não gostava de Jack e Meg e, por um tempo, achei algo chato (!) e repetitivo (!!) de se ouvir. O problema é que eu não tinha ouvido muita coisa da banda até então e, o que tinha chegado aos meus ouvidos, era encarado com uma certa repulsa de quem achava aquilo uma grande “confusão sonora”… e lembrar disso hoje sabendo que, na mesma época, eu ouvia Mudvayne com frequência, me parece um pouco contraditório.
E como a minha percepção ao White Stripes mudou? Simples, com um show!
Infelizmente, não tive o prazer de ver Jack e Meg em uma casa de shows – inclusive, sinto uma inveja de quem viu o duo no Teatro Amazonas em 2005. Esse contato acabou sendo via DVD mesmo, o Under Blackpool Lights. Era uma época onde eu gastava muito dinheiro com CDs e DVDs e comprava algumas coisas só pelo “prazer de ter”. Eu era o meu próprio “recebidos do dia” e acabei encontrando esse show do White Stripes por um valor aceitável para algo de uma banda que pouco conhecia. O DVD foi parar na sacola junto com o Live 2003, do Coldplay.
Tirei um tempo, coloquei o DVD e pensei: “é agora ou nunca!”. As oito músicas iniciais em sequência espetacular, a presença de palco do Jack, Meg sendo a Meg que a gente aprendeu a amar… chegou em “Jolene” e eu me perguntava se era bom assim mesmo. “Hotel Yorba”, “Do”, “You’re Pretty Good Looking (For a Girl)”… e eu já tinha certeza de que aquela tinha sido a compra com melhor custo-benefício. “Seven Nation Army”, fim do DVD e só me restou ir buscar toda a discografia da banda por aí para recuperar o tempo perdido.
O White Stripes se tornou uma banda querida e serviu de ponte para que eu acompanhasse mais de perto o trabalho do Jack White. Talvez eu não fosse fã do Raconteurs ou do Dead Weather hoje se não tivesse dado uma chance ao Under Blackpool Lights.
O contrário também acontece.. e é mais natural
Assim como opiniões mudam positivamente, elas podem fazer o caminho inverso. É natural você deixar de acompanhar ou até mesmo gostar de algumas coisas com as quais se identificava antes. Aliás, acredito que poucas coisas são as que ficam com você por toda a vida.
Hoje em dia eu sinto uma nostalgia lembrando de coisas que eu ouvia durante a adolescência, mas poucas são as que seguem sendo importantes ou parte da minha vida até hoje. O Mudvayne citado aqui anteriormente é uma delas. O Ultraje a Rigor é outra. Em outros casos, o direcionamento dos artistas causou o afastamento, como no caso do Jota Quest que me agradava até o Oxigênio assim como o próprio Linkin Park que, dos oito álbuns lançados, eu consigo ouvir três – Hybrid Theory, Meteora e The Hunting Party.
Mudar de opinião é natural e, surpreendentemente, a primeira impressão não é a que fica em muitos casos quando o assunto é arte. Isso vale pra música, pro cinema, pras séries, livros… se você não gostou de algo, mas acha que deveria dar uma segunda chance, vá em frente. Você pode se surpreender.
Ou não. E tá tudo bem também!