Na história do Rock And Roll há inúmeras mulheres que se destacam. A presença feminina pode ser encontrada nas mais diversas ramificações desse gênero musical. Mas a meu ver, nenhuma foi tão especial quanto Siouxsie Sioux, que conseguiu manter-se brilhante durante toda a sua carreira – e tanto no que diz respeito à mulheres, quanto a homens, no meio musical essa regularidade, convenhamos, é relativamente rara.
De maneira geral, por não atender aos padrões da indústria sonora, Siouxsie certamente nunca esteve tanto em evidência e talvez não tenha obtido o reconhecimento que merecia. Mas no fundo, isso não é tão importante. Sabemos que ela própria realmente não levava as aprovações tão a sério e, justamente por essa razão, nunca se escravizou em conceitos e jamais se acomodou: pelo contrário, sempre manteve sua aura militante acesa, construindo assim uma personalidade e uma arte totalmente singulares, nas quais encontramos ideias originais e mediante a qual não encontramos qualquer clichê.
Assim, trilhando seu caminho e vivendo sua própria jornada, estando “para além do bem e do mal”, Siouxsie simplesmente firmou sua autenticidade e transformou o real para sempre. Tornou-se uma inspiração atemporal para inúmeras pessoas ao redor do mundo, embora ela mesma não compactue com essa idolatria (que eu, aliás, também detesto). Mas, gostando/concordando com isso ou não, ela, de fato, é icônica e sempre será uma referência mundial.
Na Grécia Antiga, havia um local chamado “Oráculo de Delfos”, que consistia num templo sagrado dedicado ao Deus Apolo. Lá encontravam-se as sibilas, profetizas que entravam em transe e por intermédio dessa referida divindade, revelavam o destino daqueles que as procuravam. Esse local representou um enorme marco na história de toda a cultura ocidental.
Penso que Siouxsie Sioux sempre foi como uma sibila que (aqui parafraseando Heráclito) “com seus lábios delirantes, atinge com sua voz para além de mil anos, graças ao deus que está nela”. É como se através de uma inspiração metafísica que se desdobra em seu excepcional talento, suas palavras escritas e faladas carregassem um tom místico e profético e assim, Siouxsie revelasse um universo mágico dentro do qual nos perdemos em transe.
Essas sacerdotisas da Grécia que foram mencionadas logo acima, eram pessoas notavelmente enigmáticas, que poderiam até parecer comuns num primeiro momento, mas que, no fundo ocultavam grandes mistérios e capacidades dentro de si. Sioux também é assim. Sua voz oferece um impulso libertador. Ao longo do tempo, sua imagem, sempre tão cinematográfica, (composta por um conjunto fantástico de vestimentas – maquiagem – performance) deu vida a uma persona única, inovadora e lendária, uma verdadeira musa catártica que possui o poder de enfeitiçar qualquer um, gerando um êxtase prazeroso e incontrolável, que coloca qualquer alma para fora do espaço e do tempo: é uma sibila mágica, que pode lhe mostrar algo ilustre e te elevar para o mesmo estado de elevação no qual ela própria se encontra. Siouxsie é assim, um meio entre o divino e o terreno. Ela, por si só, é um presente metafísico.
Feliz aniversário, sibila delirante.